quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Eu, Psicóloga | Síndrome do impostor: quando eu me sinto uma fraude.



Emma Watson, uma das grandes estrelas de Harry Potter, declarou: “Parece que quanto melhor eu me saio, maior é o meu sentimento de inadequação, porque penso que em algum momento, alguém vai descobrir que eu sou uma fraude e que eu não mereço nada do que conquistei”. Anos antes, o mesmo pensamento também atormentava Kate Winslet. “Eu acordava de manhã, antes de ir para uma gravação e pensava `não posso fazer isso. Eu sou uma fraude.”  Ambas sensações são resultado de um fenômeno chamado “síndrome do impostor”, que, segundo um estudo realizado pela psicóloga Gail Matthews, da Universidade Dominicana da Califórnia, nos Estados Unidos, atinge em menor ou maior grau 70% dos profissionais bem-sucedidos, principalmente mulheres. E você pode ser um deles.

A síndrome do impostor — também conhecida como fenômeno do impostor ou síndrome da fraude — é um conceito da psicologia clínica. Ele descreve uma condição na qual indivíduos de alto desempenho são incapazes de perceber o valor das suas realizações pessoais.

Ou seja, eles não conseguem perceber o valor de suas ações e desenvolvem um medo persistente de serem expostos como uma “fraude”. Esse termo foi cunhado em 1978 pelas psicólogas clínicas Pauline R. Clance e Suzanne A. Imes.Elas observaram que algumas pessoas, apesar da evidência de suas capacidades, permanecem convencidas de que são fraudes e que não merecem o sucesso alcançado. Por isso, qualquer prova de sucesso é descartada como um golpe sorte, um bom timing ou como resultado de truques e mentiras.

Segundo os que sofrem dessa síndrome, todos os outros apenas superestimam sua própria inteligência e competência. Por essa razão, mesmo diante de provas concretas das suas habilidades, eles permanecem com um sentimento de inadequação, uma vez que tendem a arranjar pretextos para sabotar o próprio sucesso.

Portanto, a síndrome do impostor é sentida internamente como uma autoajuda crônica e uma incapacidade persistente de se recompensar pelos êxitos. Com isso, a pessoa sente que não é realmente um estudante ou funcionário bem-sucedido, competente e inteligente.

Em vez disso, ela pensa que criou um personagem no qual as pessoas acreditam, mas que não retrata a realidade. É como no romance de Dorian Gray, no qual o retrato realmente envelhece, mas o protagonista permanece com a aparência jovem.

Porém, quem possui síndrome do impostor acredita que sua imagem para os demais é perfeita, enquanto vê a si mesmo como alguém sem qualidades verdadeiras. Dessa forma, os portadores da síndrome começam a desenvolver um sentimento de não-pertencimento crônico ao ambiente em que trabalham ou estudam.

Com o tempo, eles não conseguem dormir, tornam-se paranóicos e abandonam a empresa ou a faculdade. Nos piores casos, podem desenvolver depressão e transtorno da ansiedade generalizada.

Entenda o que é síndrome do impostor

Todo transtorno psicológico se apresenta de forma única em cada indivíduo. Por essa razão, a síndrome do impostor pode ter características diferentes, mas, geralmente, podemos sempre encontrar algum desses três pensamentos :

Sentir-se como uma farsa

No traço mais comum da síndrome do impostor, o indivíduo tem a crença  de que o sucesso não é merecido — ele imagina ter enganado ou burlado o sistema. Assim, muitos profissionais acreditam que conseguiram a promoção pois fingiram ser um funcionário exemplar para a chefia.

Então, surge o medo injustificado de ser descoberto, pois a “baixa qualidade” do seu trabalho denunciará quem ele realmente é. Na verdade, esse comportamento tem um traço narcisista em que a pessoa acredita que pode enganar todas as pessoas com a sua habilidade natural de persuadir e atuar.

Nos momentos de crise emocional, frequentemente ouvimos essas pessoas dizerem: “posso dar a impressão de que sou mais competente do que realmente sou” ou “muitas vezes, tenho medo de que os outros descubram o quanto eu sou incapaz”.

Atribuir o sucesso à sorte

Outro aspecto da síndrome do impostor é a tendência a atribuir o sucesso à sorte ou a outras razões externas que não as suas próprias capacidades. Alguém com tal sentimento se referiria a uma conquista dizendo: “eu só tive sorte desta vez”, “foi um golpe de sorte” ou “da próxima vez, não terei tanta sorte e você vai ver como sou ruim”.

Então, essa pessoa começa a sentir um medo constante de que a maré de sorte eventualmente acabará. Diante disso, em seu imaginário, tudo o que foi conquistado será perdido.

Minimizar o sucesso

Ao contrário da maioria dos indivíduos, quem sofre de SI começa a inventar desculpas para justificar o seu próprio sucesso. Ele nunca se deve às suas habilidades ou ao seu esforço. Após ter sido o único a bater as metas de vendas, por exemplo, o portador da síndrome dirá: “consegui compradores com bastante dinheiro” ou “peguei bons clientes”.

Com o tempo, os colegas começam a dizer que ele tem falsa modéstia, pois, diferentes desse indivíduo, eles são capazes de perceber o seu valor. À medida que isso ocorre, a ansiedade aumenta, pois a sensação de não pertencer àquele local aumenta. Assim, ele se vê trocando constantemente de emprego.
Infelizmente, a enorme competitividade do mercado de trabalho pode nos levar a uma série interminável de pensamentos ruins. Afinal, muitas vezes, somos levados a acreditar que sempre podemos ser melhores em vez de aceitar o sucesso atual. Na síndrome do impostor, essa sensação é vivida intensamente. Por isso, digo frequentemente: a tarefa mais difícil que temos em nossas mãos é acreditar que o sucesso do presente momento é suficiente.


Saiba como se livrar da síndrome do impostor

Viver dessa forma pode ser uma tortura diária, mas você pode tomar algumas atitudes para se livrar da síndrome do impostor. Confira:

Liberte-se do seu ego

Normalmente, nos sentimos como uma fraude quando pensamos que somos mais importantes do que na verdade somos. Quando você se sente como uma fraude, você toma como parâmetro algum padrão de perfeição que nunca existiu de fato.

Por isso, abandone os pensamentos que superestimam sua importância, isso vai ajudá-lo a se sentir menos como uma farsa. Às vezes, nos colocamos em uma posição em que acreditamos que todos os olhos estão virados para nós. Isso não é verdade. Não somos o centro do mundo! Quando percebemos isso, a vida se torna muito mais plena.

Aceite que você teve algum papel em seus sucessos

Às vezes nos sentimos como fraudes porque somos “incapazes de internalizar nossos sucessos”. Acreditamos que nos foi dada uma oportunidade que a outras pessoas não foram. Então, nada que conseguimos depois dessa chance única foi realmente merecido.

Por isso, lembre-se sempre: há muitas pessoas nascidas em berço de ouro, mas que conseguiram perder todas as vantagens que a vida lhes deu. Somente o fato de ter aproveitado bem todas as suas oportunidades já é digno de nota. Afinal, as chances vêm para aqueles que se expõem a elas.

Infelizmente, o mundo não é totalmente justo. Há pessoas que nascem em condições melhores do que as outras. Porém, isso não justifica que você sabote o seu sucesso: você certamente fez algo para chegar onde está. Acredite: as más escolhas se apresentam a todos, indistintamente da sorte que tiveram.
Dessa forma, o sucesso jamais é gratuito. Nossas ações sempre têm uma grande participação naquilo que alcançamos. A tentação de descontar esse fato é grande, mas não podemos ceder a ela.

Concentre-se em fornecer valor

Quando nos sentimos uma fraude, estamos preocupados somente com os nossos sentimentos. Afinal, não executamos aquela tarefa para contribuir para o crescimento da empresa, mas para obter reconhecimento pessoal. Assim, surgem pensamentos, como:
“O que eles vão pensar de mim?”;
“Se eu falhar, vão me evitar”;
“Eu não sei tanto quanto esse outro cara, eu não tenho direito de dizer nada sobre o assunto”.

O caminho mais rápido para superar esses sentimentos é se concentrar em fornecer valor. Assim, quando alguém combate as nossas sugestões, não devemos levar para o lado pessoal — uma vez que todos estão reunindo esforços para apresentar os melhores resultados para a empresa.

Mantenha um arquivo de pessoas dizendo coisas legais sobre você

Os diários são uma técnica da psicologia cognitiva comportamental para ajudar as pessoas a perceberem sua evolução durante o tratamento. Assim, em vez de focar nas coisas negativas que ocorrem no dia a dia, você será capaz de perceber suas pequenas conquistas.

Por isso, não vale escrever os pontos negativos nesse diário, somente os positivos. A ideia é que, após um dia ruim, você seja capaz de ler suas anotações e perceber o valor dentro de si.

Quem tem síndrome do impostor esquece muito facilmente o que fez de bom mas se lembra de todas as falhas. Não dá para viver uma vida assim! Todos falhamos a todo momento, mas também acertamos. É preciso, portanto, focar no lado positivo da coisa!

Pare de se comparar com os outros

Quando nos comparamos com os outros, é fácil cair na armadilha de pensar que “a vida de Fulano é muito melhor”. No entanto, acredite: nenhuma vida é melhor do que a outra. Todos nós enfrentamos dificuldades!
A grama do vizinho pode até parecer mais verde, mas isso é uma questão de perspectiva. Se você perguntar sobre isso a ele, ele apontará mil defeitos. Por isso, desligue o Facebook! Saia do Instagram! Pare de ler biografias a respeito de pessoas “bem-sucedidas”! Aprenda a respeitar a sua própria experiência. Você não é uma fraude, você é apenas você. Fim.

Lembre-se: estar errado não faz de você uma farsa

Os melhores jogadores de futebol sempre erram algum gol. As empresas mais famosas decretam falência de uma hora para outra. Os presidentes estão errados sobre as coisas o tempo todo. As melhores seleções de futebol inevitavelmente perdem (lembra do 7×1?).

Perder é apenas parte do jogo. Perder significa que você ao menos tentou, enquanto muitos ficam parados esperando que as oportunidades caiam no colo. Por isso, não glorifique a falha! Ela é apenas uma parte do caminho. Uma dos sinais de maturidade emocional é a aceitação de suas próprias falhas.

Aceite-se

Por “aceite-se” eu não quero dizer que você deve se entregar e desistir de melhorar. Jamais! Porém, quando falhamos, devemos reconhecer que aquilo era o melhor que poderíamos fazer naquele momento. Não podemos nos martirizar por algo que não podemos mudar.

Então, acredite: você merece exatamente tudo o que conquistou. Se você é capaz de transmitir essa sensação para as outras pessoas, o sucesso virá naturalmente. No entanto, caso você não seja capaz de admitir isso para si mesmo, a sensação de ser um impostor nunca te abandonará.

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