É um partido inteiro que vai hoje a votos, segurado por 20 mil militantes com quotas cumpridoras e 50 mil como abono de última hora. Não é uma perspetiva animadora quando se pensa que metade do caminho para ter uma oposição forte e para disputar o Governo está sobretudo nas mãos de quem correu para a caixa multibanco.
E não há inocentes nesta história. A arte de mobilização dos endividados, com pagamento em lotes, ou foi feita em igual medida pelas candidaturas de Rui Rio e de Santana Lopes, ou há um derrotado à partida, com vitória assegurada de quem melhor oleou a máquina dos compadrios, logo refém dos sempre habituais usos e costumes partidários, logo o país na oposição e a candidatura a um governo refém desses mesmos compadrios. Efeito em cadeia.
O olhar sobre o resultado final da corrida à liderança do PSD não pode, portanto, deixar de ter na sua contabilidade geral quantos autocarros se levaram às urnas de votos. E quem os levou. Porque a longa campanha foi demasiado pobre, demasiado focada no passado sem verdadeiramente discutir o passado recente, de que o partido precisa de fazer a catarse, sem grandes ideias de presente ou futuro, quer para dentro quer para fora.
Muitos recortes de jornais nas discussões sobre quem tem o melhor arquivo dos fantasmas do outro. Muito empenho na destruição do caráter e das competências pessoais de cada um dos candidatos. Ambos saem desta campanha mais pobres, porque mais pobres os vemos, sem que verdadeiramente se percebam as razões dessa pobreza.
Pouco se viu do PSD da social-democracia nórdica, da defesa do Estado social e não assistencialista, da modernização que não passe por umas ideias vagas sobre a criação de umas plataformas digitais, do partido verdadeiramente imerso na sociedade para servir o país, na justiça, na Segurança Social, na economia, no combate às assimetrias regionais, na deslocalização dos centros de decisão, na melhoria, em suma, das condições de vida. A lista das ausências é longa.
O PSD deste tempo não perdeu só a popularidade das boas contas, do que endireita os dinheiros que o PS depois gasta. Perdeu um rumo e está sobretudo a perder o papel fundamental que tem no sistema político-partidário. No anonimato das mesas de voto, a escolha da personalidade com maiores capacidades de recentrar o partido deve ser a variável mais relevante na eleição do líder. O poder, se vier, vem depois.
* DIRETOR-EXECUTIVO do JN
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