sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Censuras, desastres e catástrofes... 2018 promete tanto como 2017


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Ipsilon
 
 
  Isabel Salema  
No primeiro suplemento do ano, regressamos ao Brasil, mais especificamente a São Paulo, à meca da cultura brasileira, para tentar perceber o que se está a passar à porta de alguns museus, onde os visitantes se tornam manifestantes contra a censura nas artes.
Desde Setembro, no meio de várias polémicas, petições e cartas-abertas, já foi encerrada uma exposição em Porto Alegre, organizaram-se manifestações – uma destas à porta do Museu de Arte de São Paulo (MASP) em que participou o artista chinês Ai Weiwei – e gritou-se contra a presença da filósofa Judith Butler no famoso SESC Pompeia. Se a exposição Histórias da Sexualidade no MASP já trouxe muita agitação, o tema deste ano, que passa pela questão racial, promete continuar a ser intenso. 
Convidada para participar numa conferência na Universidade de São Paulo, Filipa Lowndes Vicente, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, aproveitou para reflectir, com a ajuda de colegas académicos como Iris Kantor e Lilia Moritz Schwarcz, sobre as últimas guerras da cultura no Brasil. Espelham um confronto político exacerbado e têm muito sexo à mistura. A arte voltou a ser subversiva no Brasil numa guerra entre o país pró-Temer e o país anti-Temer. Mas não só…
A foto de capa do suplemento que aqui vemos pertence à exposição Histórias da Sexualidade, tendo sido escolhida para o tema Reliogiosidades – é do fotógrafo Ayrson Heráclito. 
Um Desastre de Artista, a nova longa-metragem de James Franco, chegou agora às salas com os olhos postos nos Óscares. Conta a história da produção de The Room, realizado em 2003 por Tommy Wiseau e já classificado como o pior filme do mundo, que tem uma bizarra legião de fãs, como o realizador J.J. Abrams ou o cómico Jerrod Carmichael. O Ípsilon ouviu a história pela voz de Greg Sestero, autor do livro no qual Franco, amigo de Wiseau e actor no The Room, se baseou.
Jorge Mourinha dá três estrelas ao filme, numa crítica intitulada Talento em bruto ou bruto sem talento?
“Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele pousou a boca, delimitada na orla superior pelo bigode eriçado, sobre a dela. Após um momento disto, ela levantou a camisa de dormir e ele entrou nela.” Deixamos aqui um excerto de Os Anos da Inocência, o primeiro livro de Elizabeth Jane Howard publicado em Portugal, sobre o qual escreve Isabel Lucas. Parte das Crónicas da Família Cazalet, é um projecto que a escritora deve ao conselho do seu enteado, o escritor Martin Amis, que se referia a ela como a mais interessante escritora da sua geração.
Como Madame de Lafayette, de que agora podemos ler uma nova tradução de A Princesa de Clèves, considerado o primeiro romance moderno em que análise psicológica faz progredir a acção, viu a sua obra ser subestimada por ser mulher.
Começamos 2018 com muita poesia: Hugo Pintos dos Santos escreve sobre a uma tradução inédita feita pelo poeta Alberto Pimenta de A Balada do Velho Marinheiro, de ColeridgeLuís Miguel Queirós sobre uma nova antologia que faz o best of dos poemas portugueses.
Sob o signo da música e da poesia árabes, estão os novos discos do tunisino Anouar Brahem e dos portugueses José Peixoto e Sofia Vitória, respectivamente Blue Maqams e Belo Manto.
A coluna de António Guerreiro intitula-se A política das catástrofes. Podemos dizer que 2018 promete tanto como 2017.
Bom Ípsilon.     

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