O Governo adoptou na terça-feira (13) um plano de acção para o controlo e prevenção de perdas de culturas por pragas. O @Verdade apurou que esta decisão acontece cinco anos após um fungo ter dizimado milhares de hectares de banana com uma doença conhecida por “Mal do Panamá” no distrito de Monapo e que culminou com a insolvência da empresa, atirado para o desemprego mais de dois mil trabalhadores. O plano governamental está orçado em 168 milhões de meticais mas só existem disponíveis pouco mais de 22 milhões, no entanto só a eliminação das plantas doentes em Nampula custa mais de 10 milhões de meticais e são necessárias medidas adicionais para evitar que a praga coloque em risco toda a indústria de banana moçambicana.
Instalada no distrito de Monapo desde Março de 2008 a empresa Matanuska Moçambique, subsidiária da Matanuska Mauritius e da Rift Valley Holdings, foi um dos mais bem sucedidos projectos de agro-negócio no nosso país tendo no seu auge chegado a exportar cerca de 1400 toneladas de bananas por dia para alguns países da Europa e do Médio Oriente.
Quando começaram a preparar-se para aumentar a produção tendo em vista o imenso mercado da China um fungo mortal, invisível a olho nú, denominado Fusariose TR4 surgiu na plantação.
“No início de 2014 tínhamos plantados 1450 hectares com banana do tipo Cavendish williams, empregávamos 2.500 trabalhadores” recorda Tricia Wallace uma norte-americana que se instalou na província de Nampula e com a amargura recorda-se dos três dias de chuva intensa de Março desse ano que acredita terem espalhado a doença por toda a plantação.
“A 1 de Fevereiro de 2018 a Matanuska tinha ficado com somente 200 hectares de banana, agora do tipo Cavendish Formosana, e ainda emprega cerca de 750 trabalhadores”, revelou a gestora durante a 1ª Reunião da Indústria da Banana em Moçambique que aconteceu esta quinta-feira (15) em Maputo, organizado pela consultora Technoserve.
Mas apesar desta tentativa de sobrevivência através da produção de outra variedade de banana a Matanuska Moçambique teve que declarar insolvência porque já não consegue arcar com os custos de manutenção da plantação e em simultâneo garantir a mitigação desta doença que não tem cura.
O Fusarium Fungus, causador da praga, vive no solo e ataca as raízes antes de se espalhar pelo resto da planta. A solução é eliminar a planta cortando-a, queimando-a e enterrando as cinzas. Todavia o fungo produz esporos que sobrevivem no solo por décadas, tornando a terra inútil para colheitas não resistentes.
“Se não pagarmos aos trabalhadores não haverá paz em Monapo e a contenção poderá ser afectada”
O professor Altus Viljoen, da Universidade Stellenbosch, na África do Sul, e o académico australiano Bob Williamns, especialistas em doenças que afectam as bananas, recomendam o encerramento de toda área infectada, a colocação de cerca em torno de toda plantação da Matanuska Moçambique e a eliminação de cada uma dos milhares de plantas através da injecção de um herbicida específico.
A pulverização aérea está fora de questão pelos custos astronómicos, cada hectare custaria cerca de 10 mil dólares norte-americanos.
Além disso os especialistas, que têm acompanhado a evolução da praga desde o seu início, na companhia de técnicos do Ministério da Agricultura assim como especialistas da Universidade Eduardo Mondlane, afirmam ser importante esperar entre 2 a 3 anos para voltar a plantar a terra mas nunca mais com banana.
É fundamental banir todo o tipo de visitas, os cuidados especiais de desinfecção à entrada e a saída devem ser mantidos não só para as pessoas mas também para as viaturas. Aliás os dois académicos recomendaram que os equipamentos agrícolas assim como as viaturas da Matanuska Moçambique não podem deixar a plantação. É que a disseminação dos esporos do fungo pode acontecer não só pelo transporte de plantas contaminadas mas também através do solo e pela água contaminada.
Acontece que a Matanuska Moçambique, no seguimento da declaração de insolvência, pretende abandonar a plantação no distrito de Monapo daqui a três meses e vê nos equipamentos e viaturas bens que pode vender para gerar o dinheiro que precisa para amortizar créditos que ainda tem mas principalmente garantir a justa indemnização das restantes sete centenas de trabalhadores.
Tricia Wallace disse a plateia, onde estavam representados os principais produtores de banana de Moçambique, que a Matanuska Moçambique é uma empresa responsável e por isso não se desfez dos equipamentos nem viaturas que sabe poderem estar infectados justamente como medida para prevenir o alastramento da doença.
“A empresa precisa de realizar dinheiro para poder pagar as indemnizações aos 750 trabalhadores que ainda estão connosco e a fonte óbvia são esses bens que temos lá, até porque temos credores para também pagar. Este é um problema multidimensional. Nós aceitamos a recomendação de não vender os equipamentos mas se não pagarmos aos trabalhadores não haverá paz em Monapo e a contenção poderá ser afectada”, declarou a representante da Matanuska Moçambique.
“A situação fitossanitária da cultura da banana no país é preocupante”
A chefe do departamento de protecção vegetal no (MASA), Antónia Vaz, esclareceu que a instituição que representa está a “pensar numa força militar ou paramilitar para garantir que não haja movimento de pessoas para a contenção da doença. A vedação também vai ser feita, é uma das vertentes que a empresa vai acarretar antes de abandonar a área que é também para prevenir a entrada de pessoas na área contaminada”.
“O equipamento (e viaturas) todo que está na plantação vai ter que ser monitorado porque também tem que ser tratado no caso de ser colocado à venda. Neste momento o que recomendamos é que não pode sair nada daquela plantação, mas a empresa manifestou vontade de vender alguns equipamentos. Mas o material de campo, o equipamento de irrigação e o comboio de transporte das bananas não podem sair dali. Os consultores irão aconselhar-nos como tratar das viaturas para poder tira-las de lá”, acrescentou Antónia Vaz.
A responsável pela protecção vegetal em Moçambique revelou ao @Verdade nunca ter afirmado que o “Mal do Panama” foi trazido para Nampula por trabalhadores filipinos, como é citada num media internacional, “não sabemos de onde veio”, no entanto considera que a “a situação fitossanitária da cultura da banana no país é preocupante, sendo necessário uma vigilância e monitoria constantes para assegurar uma intervenção atempada”.
António Vaz recomenda ainda as empresas de produção de banana no Centro e Sul de Moçambique, ainda livres do fungo mortal, para adoptarem “medidas rigorosas de prevenção e quarentena para salvar a indústria da banana no país”.
Entretanto os produtores banana no Sul já estão a braços com uma outra praga, a do vírus do topo em leque da bananeira (BBTV no acrónimo em inglês), detectada em Junho de 2016 numa plantação comercial em Guijá e em machambas de pequenos agricultores no Chókwè, na província de Gaza.
Segundo a chefe do departamento de protecção vegetal no MASA como a praga ainda está circunscrita em Gaza ainda está em curso a elaboração de um plano para erradica-la.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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