segunda-feira, 19 de março de 2018

Fora da caixa

OPINIÃO DE FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
A ideia de haver discriminação positiva para os mais pobres no Estado social parece estar no pensamento de Pacheco Pereira, contra os puristas.
Há muitos anos que defendo uma discriminação positiva para os mais pobres na proteção social, em particular quando falta dinheiro. Uma tal ideia, pouco ortodoxa, tem sido recebida com frieza.

Os puristas do Estado social dizem que os apoios deste – na saúde, na educação, etc. – devem ser gratuitos para todos. Não só porque colocar os ricos a pagarem aquilo que seria gratuito, ou quase, para os pobres, levaria a uma alegada injustiça: os ricos pagariam duas vezes, no imposto e no serviço prestado pelo Estado. Mas sobretudo porque discriminar positivamente os pobres cheira a esses puristas à chamada “caridadezinha” e a paternalismo.

Claro que, se houvesse dinheiro para isso, o ideal seria não existir qualquer discriminação. Mas o mundo e Portugal são o que são.

Por isso foi com agradável surpresa que li o seguinte no artigo de José Pacheco Pereira no “Público” de sábado passado: “Sim, é preciso reformar a Segurança Social e para isso primeiro que tudo é preciso que ela ‘segure’ quem mais precisa, é preciso maximizar essa ‘segurança’ para os mais pobres, os mais velhos, os mais desprotegidos. Experimentem começar por aí e verão que mesmo com os atuais recursos é possível fazer muito melhor e ‘dar’, outra palavra maldita, mais às pessoas que precisam. E, depois, e só depois, pensar como isto se pode fazer de forma sustentável, vendo que recursos se podem trazer para a Segurança Social e como é que se pode racionalizá-los e poupar sem aspas.”

Neste artigo, intitulado “Pensar fora da caixa ou seja fora do ‘economês’ da troika”, Pacheco Pereira contraria o politicamente correto e a ortodoxia do Estado social.

Várias vezes não concordo com o que P. Pereira diz ou escreve. Por exemplo, não o acompanho na sua agressividade contra Passos Coelho, que considero um político corajoso, embora com falhas (como não ter avançado na reforma do Estado).

Mas há muitas outras matérias em que estou de acordo com P. Pereira – como é o caso da sua hostilidade total a Trump e ao que ele representa, evitando branqueamentos.

Concordando ou discordando, é sempre útil ouvir e ler P. Pereira, pela sua inteligência e pela recusa de superficialidade na sua análise.

P.S. Num comentário ao meu anterior artigo diz-se que eu usaria um pseudónimo para responder aos comentários desfavoráveis. Lamento desmentir: não uso pseudónimos nem costumo responder a comentários.

Fonte: RR


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