A Electricidade de Moçambique (EDM) alertou num encontro com jornalistas para a necessidade de rever, em alta, as actuais tarifas sob pena piorar a qualidade da energia e não poder levar luz a todos moçambicanos. “Nós hoje estamos numa tarifa média de 8 cêntimos por quilowatt/hora(kWh), para um custo de 10 cêntimos, portanto matematicamente sabemos que 8 não pode cobrir 10” afirmou o Administrador Financeiro, Noel Govene, secundado pelo Administrador de Operações, Carlos Yum: “Para nós é essencial que a sustentabilidade financeira seja feita através do equilíbrio tarifário”. A empresa tem dívidas acumuladas de mais de 1 bilião de dólares norte-americanos.
No âmbito das mudanças introduzidas pelo Conselho de Administração dirigido por Mateus Magala a EDM realizou no passado dia 2 de Maio mais um encontro franco com jornalistas para abordar as transformações que está a levar a cabo com o objectivo maior de iluminar a todos os moçambicanos, até 2030, tornar-se um hub no fornecimento de energia na África Austral e ainda atingir a igualdade do género entre os seus trabalhadores.
Porém os gestores da empresa estatal de distribuição de electricidade deixaram claro que para atingir esses objectivos estratégicos é necessário que a EDM, que tinha um passivo total acumulado de 76,7 biliões de meticais em 2016, torne-se sustentável e parte desse processo implica, segundo o Administrador Carlos Alberto Yum, “ter um equilíbrio tarifário, ela (EDM) não pode ser viável num ano e não ser viável noutro, a EDM compromete-se para questões de médio e longo prazo. Para nós é essencial que a sustentabilidade financeira seja feita através do equilíbrio tarifário que, como eu disse, não fazer só pressão no lado das receitas, é necessário fazer pressão também no lado dos custos e da eficiência”.
Pressionado pelos jornalistas o Administrador do Pelouro das Operações aclarou que: “A questão da tarifa é muito sensível porque tem impacto na inflação, tem impacto na competitividade, tem impacto nas famílias, e não é uma decisão de uma única entidade por causa do impacto de tudo isto, não depende só de nós”.
“Depende de nós (EDM) fazer todo o trabalho de casa para que os decisores tenham responsabilidade do que é que acontece se houver reajustamento e o que poderá acontecer se não houver reajustamento, essa é uma função que é obrigação da EDM explicar”, afirmou Yum ressalvando que em termos de distribuição de energia Moçambique está a viver um período de emergência e para se passar para um período com alguma estabilização, “Temos um diálogo sério, responsável e permanente com as diferentes entidades pela causa efeito que ela cria na sociedade”.
“A EDM tem um balanço que é uma combinação de um modelo de negócio comercial e um modelo de negocio subsidiado”
Mais pormenorizado nas questões de sustentabilidade financeira da Electricidade de Moçambique o Administrador Noel Joaquim Govene explicou que: “A EDM é uma empresa que até a 3 a 4 anos atrás era basicamente sustentada pela energia da HCB, que era a fonte mais barata de fornecimento de energia, em 2015 e 2016 nós tivemos a introdução de novas fontes de energia que alteraram o que nós chamamos de mix de fornecimento de energia para fontes relativamente mais cara”.
“A consequência directa disso é que houve uma redução da rentabilidade, nós estávamos a ter alguns incrementos em termos de ligações e que isso, teoricamente, devia se traduzir num impacto positivo financeiramente, porque isto é um crescimento orgânico. E o desafio que se coloca à EDM nos próximos 12 anos, até 2030, para que de facto atinjamos o acesso universal é que a gente tem de fazer 300 a 400 mil ligações por ano”, acrescentou o Administrador do Pelouro de Finanças.
Segundo Noel Govene: “A EDM tem um balanço que é uma combinação de um modelo de negócio comercial e um modelo de negocio subsidiado, todos aqueles projectos de infra-estrutura para electrificação rural foram financiados por grandes empréstimos concessionais que foram repassados pelo Governo e estão no balanço da EDM. E obviamente, porque não são comercialmente rentáveis, eles tem uma carga muito grande na empresa e na capacidade da EDM autofinanciar-se ou atrair investimentos comerciais”.
O @Verdade descortinou que as dívidas relativas a esses empréstimos concessionais totalizavam, em 2016, 23,2 biliões de meticais.
“É importante que a EDM passe por um processo de recapitalização, hoje nós estamos como empresa a financiar projectos de longo curso com capital de giro, o que obviamente não faz sentido, o ideal é que consigamos com receitas próprias financiar despesas operacionais de curto prazo e possamos ter investimentos, precisamos de reformular o modelo de negócios em que possamos fazer o reinvestmet do que é comercial e o nosso objectivo nos próximos tempos é que consigamos reduzir a dívida que temos com fornecedores entre 30 a 50 por cento, que largamente são dívidas de curto prazo”, detalhou.
O @Verdade apurou que no fecho do exercício de 2016 a eléctrica estatal tinha um passivo corrente de 32,5 biliões de meticais, dos quais 23,9 biliões eram facturas por pagar a fornecedores.
“EDM para prover um serviço de qualidade ela precisa de ser financeiramente sustentável, doutra forma não conseguimos”
O Administrador Financeiro deixou ainda claro que é objectivo da EDM “criar uma tesouraria robusta, este é na realidade o coração da empresa, o dinheiro em caixa é que determina, não interessa quanto a gente venda mas se este dinheiro não está em caixa e é bem aplicado tem pouco significado em termos de sustentabilidade financeira”.
Noel Govene admitiu no entanto que; “devido ao balanço entre a receita e o custo a EDM ainda não é uma empresa lucrativa. Não é lucrativa porque existem ineficiências, o custo que nós suportamos pela energia vendida representa cerca de 80 por cento do que é a nossa facturação, e nós viemos de um histórico que em 2014 era de sensivelmente 40 a 35 por cento, este é que é o grande desafio em termos de sustentabilidade na EDM. Como é que gente adequa as tarifas para recuperar os custos e como é que reduzimos os custos da energia, que tem a ver com o balanço das fontes de energia e com a reestruturação de alguns contratos”.
De acordo com o Administrado do Pelouro de Finanças a EDM vende energia mais barato do que compra. “Nós hoje estamos numa tarifa média de 8 cêntimos por Kwh, para um custo de 10 cêntimos, portanto matematicamente sabemos que 8 não pode cobrir 10 e para a sustentabilidade financeira de qualquer negócio é importante que o que nós facturamos consiga cobrir estes custos”.
“Claro que há algumas ineficiências como as perdas que podem trazer alguns ganhos, mas se nós olharmos para EDM nós vemos uma instituição que durante 5 a 6 anos não ajustou tarifas, se nós quisermos comparar as tarifas de Moçambique com os países vizinhos obviamente que as nossas tarifas ainda estão abaixo daquilo que são as tarifas domésticas na Região, principalmente se estivermos a comparar com a África do Sul”, esclareceu também Noel Govene.
O último reajustamento das tarifas de electricidade aconteceu em Agosto de 2017, cerca de dez meses após o anterior que aconteceu em Novembro de 2016.
Franco e objectivo o Administrador Govene recordou que a Electricidade de Moçambique tem programas de modernização e manutenção das suas infraestruturas obsoletas, “a nossa infraestrutura tem sensivelmente 40 a 50 anos, e ela precisa de ser mantida, precisa de ser modernizada, e isto representa um custo substancial que nós precisamos de cobrir parte desta manutenção com as nossa receitas”.
“Portanto precisamos de atingir este equilíbrio financeiro para termos uma Empresa Pública sustentável. O importante é que nós entendamos que para a EDM para prover um serviço de qualidade ela precisa de ser financeiramente sustentável, doutra forma não conseguimos”, concluiu Noel Govene.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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