O Administrador financeiro da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) revelou “um marco de registar, um incremento na ordem de 46 por cento sobre a tarifa cobrada à Eskom” no entanto manteve o tabu sobre o preço que a eléctrica sul-africana compra a energia. Investigação do @Verdade apurou que a tarifa até 2017 era de 35 cêntimos do dólar por quilowatt/hora(kWh), dez vezes menos do que o preço que a “nossa HCB” vende à Electricidade de Moçambique (EDM).A HCB apresentou na passada terça-feira (28) alguns resultados do exercício de 2017, discursando no evento que aconteceu em Maputo o Presidente do Conselho de Administração (PCA), Pedro Couto, sublinhou: “que o desempenho da empresa HCB em 2017 foi positivo em termos de resultados operacionais apesar das restrições hidrológicas e um contexto macro-económico adverso”.
As receitas, que são facturadas em Rands desde 1969, reduziram cerca de 12 por cento, como resultado da queda da quantidade de energia vendida, diminuiu de 13.788 em 2016 para 11.968. No entanto essa receita expressa em meticais regista um crescimento de 15 biliões de meticais para 15,6 biliões.
“Nas receitas a um dado fundamental a partilhar com os presentes foram as negociações com a Eskom que decorreram durante o último trimestre de 2017, o PPA (Power Purchase Agreement) com a Eskom estabelece que de cinco em cinco anos há uma revisão da tarifa, a negociação do último trimestre, e que fazia cinco anos desde a última negociação que tinha sido em 2013, resultou num incremento rectificativo da tarifa. Foi um feito, um marco de registar, um incremento na ordem de 46 por cento sobre a tarifa cobrada à Eskom”, revelou Manuel Gameiro, Administrador financeiro da Hidroeléctrica de Cahora Bassa.
Discorrendo sobre o desempenho financeiro só positivo Gameiro disse que embora: “a data de entrada em efectividade desta nova tarifa é este ano, 2018, e há um efeito que já se faz sentir sobre as receitas da empresa. Dados de Junho de 2018 indicam um crescimento de 39 por cento das receitas da empresa quando comparado com igual período de 2017”.
Contudo o PCA e o Administrador financeiro não revelaram qual foi o resultado líquido da HCB no exercício de 2017 nem qual é o passivo não corrente e corrente dos empréstimos obtidos no ano passado mantendo a falta de transparecia desta empresa que pretende cotar-se na Bolsa de Valores de Moçambique.
Aliás a Hidroeléctrica de Cahora Bassa ainda não publicou o Relatório e Contas de 2017, como é de lei e nem respondeu aos pedidos formais do documento efectuados pelo @Verdade.
Aumento de 35 para 51 cêntimos do dólar por kWh, Electricidade de Moçambique paga 3,5 dólares
Questionado por jornalistas sobre a tarifa que a Eskom pagava antes do referido aumento acordado Manuel Gameiro manteve o tabu que dura desde muito antes da “HCB ser nossa”.
“Sobre qual é exactamente a tarifa actual, há questões de confidencialidade contractual sobre as quais a HCB deve submeter-se e não poderei neste fórum, e por força destes princípios, não poderei revelar valores específicos de tarifas com os nossos clientes”, disse.
Não é segredo que sendo o principal cliente da hidroeléctrica, desde antes da sua construção, a empresa de electricidade sul-africana tem imposto o preço que paga pela energia que acordou comprar desde os anos sessenta e que pretende comprar nas próximas décadas.
Porém o @Verdade apurou que preço que a Eskom começou por pagar 3 cêntimos do Rand por quilowatt/hora, desde a inauguração da HCB até 1988, altura em aceitar renegociar para uma tarifa de 2 Rands kWh que se manteve inalterada até ao ano 2000.
Com o fim da guerra e a renovação das linhas de transporte Hidroeléctrica de Cahora Bassa forçou uma renegociação das tarifas, que culminou com um corte unilateral do fornecimento de energia no final da década de noventa, e só após uma queixa ao Tribunal Arbitral de Paris é que em 2002 a Eskom aceitou aumentar o preço que comprava para 3 Rands kWh.
Já depois de fim do apartheid e na altura em que Moçambique quis assumir o controle maioritário da HCB voltou a apelar à boa vontade da África do Sul que o @Verdade sabe aproveitou para renegociar contratos futuros cuja duração não é pública e que mantiveram o custo da energia para a Eskom como um dos mais baratos do mundo, ainda que tivesse chegado aos 5 Rands por quilowatt/hora, cerca de 35 cêntimos do dólar norte-americano, e é sobre esta tarifa que incide o aumento anunciado esta semana.
Importa recordar que a EDM, que tem a missão de iluminar Moçambique, compra a energia de Hidroeléctrica de Cahora Bassa a 3,5 dólares norte-americanos por quilowatt/hora, dez vezes mais do que a Eskom adquire, e nem sequer pode desejar comprar mais electricidade pois a empresa sul-africana tem reservada para si 70 por cento de toda energia produzida pela HCB.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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