A Câmara de Mira vai interpor uma providência cautelar para impedir a empresa Águas do Centro Litoral (AdCL) de fazer descargas sem tratamento na estação elevatória das Cochadas.
"Esgotaram-se os prazos e esgotou-se a nossa paciência", refere Raul Almeida, lembrando que o Governo ficou de apresentar uma solução para as sucessivas descargas poluentes feitas através da estação elevatória das Cochadas, apontadas como o principal foco de contaminação de águas e terrenos agrícolas.
A estação pertence ao sistema gerido pela AdCL fica situada no limite da Tocha (concelho de Cantanhede), numa zona de fronteira com Mira, o município que é o mais afetado pelas sucessivas descargas poluentes.
O autarca lembra que o secretário de Estado do Ambiente assumiu por duas vezes, em nome do Governo, em Junho e Dezembro de 2018, "o compromisso de apresentar uma solução para o problema até Janeiro de 2019".
Mais tarde, refere Raul Almeida, a Câmara de Mira teve conhecimento de que o Governo garantiu, em resposta ao Grupo Parlamentar "Os Verdes", que apresentaria uma solução para o problema até ao final do mês de fevereiro.
"Os prazos esgotaram-se sem haver uma solução. Por isso, vamos avançar com a providência em coautoria com a Junta de Freguesia de Mira, decisão que foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Municipal", relata o autarca.
Diversos partidos com assento parlamentar fizeram recomendações ao Governo para que resolva a situação. Depois de ter visitado o local, em junho de 2018, o secretário de Estado apresentou aos autarcas de Mira uma proposta que recupera a solução inicial, que passa pela construção, nas Cochadas, de uma nova Estação de Tratamento de Águas Residuais, sendo depois os efluentes encaminhados através de Mira e Vagos.
Esta solução desagrada, no entanto, aos autarcas de Mira, que temem que as descargas poluentes continuem devido ao subdimensionamento do sistema hídrico do concelho, que não está preparado para receber os efluentes do vizinho do sul.
"Face às propostas apresentadas, houve total unanimidade entre os autarcas de todos os quadrantes políticos, deixando bem claro ao senhor secretário Estado que Mira não aceitará nenhuma solução que não passe pelo tratamento e rejeição dos efluentes de Cantanhede no próprio concelho de Cantanhede, não utilizando, em nenhum caso, o sistema hídrico de Mira", avisou, na altura, Raul Almeida.
Mira propõe ao Governo, em alternativa, duas soluções.
A primeira passa pela construção de uma Etar na zona da Vala de Levadios, praia da Tocha, com rejeição de efluentes tratados no mar. A segunda projeta um "bypass" entre Cantanhede e Aveiro, com um novo sistema que atravesse a mancha florestal, longe dos centros urbanos e explorações agrícolas, e que esteja dimensionado para encaminhar em segurança a totalidade dos efluentes do concelho gandarês.
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