sábado, 4 de maio de 2019

OPINIÃO | Mãe, é tudo!



Joaquim Carlos *
Maternidade não é apenas processo material e biológico, mas, principalmente, tarefa espiritual. E haverá função mais nobre?
Somente a mãe tem o privilégio de sentir em outro ser humano o seu próprio corpo. Tão forte é o sentimento da maternidade na mulher que, não tendo filhos, ela sofre e procura atenuar a amargura, dedicando-se aos filhos alheios.
A solicitude com que a mãe trata o bebé, cria em torno dele um clima de afectividade que concorrerá para a expansão de simpatia com os seres e as coisas. É o ambiente humano propício ao desenvolvimento da criança e também o de que ela necessita para conseguir e desenvolver a verdadeira maturidade. Convergem, portanto, os interesses da mãe e do filho. Tudo que impede a realização do ideal materno, afecta os filhos: inferiores condições de habitação, falta de segurança provinda do mau acolhimento que o pai oferece à família.
Só consegue educar quem se educa, por isso inicia uma vida mais profunda a mulher que se forma mãe.
Dar à luz uma criança, amamentá-la, distribuir carinhos ou palmadas, conforme o bom ou mau humor, é pouco em conforto com o sentido espiritual da maternidade. Esse consiste em auxiliar alguém a tornar-se adulto.
Pelos problemas que criam, os filhos educam as mães, obrigando-as a uma revisão de si mesmas, a uma correcção de atitudes, e tudo isto não significa uma dilatação do horizonte humano?
Ser mãe é realizar sensibilidade, intuição do próximo, tacto, doçura e principalmente procurar colocar-se no lugar dos outros, deixá-los expandir-se num ambiente de serenidade, ordem e beleza. É tarefa que exige além de inteligência e sensibilidade, também cultura humana.
Somente a mãe é capaz de entremear as tarefas domésticas com factos, gestos e palavras dos filhinhos. É a pessoa indicada para ajudá-los e encorajá-los, a que não tem hora marca para atendê-los.
Sua presença acalma e solicita confidência que estabelece confiança.
Enquanto a mãe ensina o filho a conhecer-se e compreender-se, num esforço consciente e constante, procura também conhecê-lo e compreendê-lo. É ainda ela que orienta a criança para travar boas relações com o próximo: verdadeira iniciação do amor, chave das relações humanas.
Lutando para auxiliar os filhos, instruí-los e educá-los, é a si mesma que a mulher se auxilia, pois conquista um alto nível moral. Por isso, todas as tarefas que lhe forem propostas, quer sejam de natureza económica ou profissional, nenhuma oferecerá essa oportunidade de ascensão espiritual.
O trabalho fora do lar é sempre um prejuízo à maternidade. Cada partida da mãe é marcada por gritos e choros que provocam o sentimento de abandono.
No fim do dia, ao revê-la, a criança paga com juros a ausência, entregando-se a excessos de carinho o que também é condenado em matéria de educação.
A mãe, por sua vez, ao voltar do trabalho, já cansada, tem duas atitudes: ou deixa a criança entregue a si mesma sem oportunidade de quem lhe encoraja as falhas, ou torna-se irritada e irritante num estado deplorável de nervos. Zanga-se facilmente e desaparece o diálogo mãe e filho tão importante para despertar confiança.
Depois de certo tempo, o afastamento se transforma em hábito, mas a criança muda de atitude, fala pouco por não ter ocasião de expandir a personalidade; tem necessidade de entregar-se, de fazer confidências.
Habitua-se com a pessoa a quem foi confiada mas desorienta-se. Como atender a duas orientações?
Chega com a idade escolar mais uma orientação. Todos esses contactos criam nela uma aceitação passiva que lhe é prejudicial porque não se utiliza do raciocínio nem da vontade.
Minada inconscientemente pelo remorso a mãe entulha-a de roupas, brinquedos e jóias. Oferece-lhe todo o conforto material porque o moral não pode dar.
Tem valor inestimável a maternidade espiritual, a que torna a mulher mais rigorosa consigo mesma, que a livra de qualquer baixeza, que a incita a conquistar uma vida sem manchas à custa de lutas e sofrimentos, mas que deixa como herança aos filhos a lembrança de uma bela imagem.
Um feliz dia da mãe.

*Director

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