terça-feira, 10 de março de 2020

Pesquisadores encontram evidências de um impacto cósmico que causou a destruição de um dos primeiros assentamentos humanos do mundo


Por Natasha Romanzoti, em 9.03.2020

Pela primeira vez, pesquisadores documentaram os efeitos diretos de um cometa fragmentado em um assentamento humano, o sítio arqueológico Abu Hureyra, no norte da Síria, onde antigos nômades se estabeleceram e começaram a cultivar alimentos cerca de 12 mil anos atrás.
Os fragmentos fazem parte de um impacto cósmico que explodiu na atmosfera do planeta no final da época do Pleistoceno.
Tal impacto provavelmente contribuiu para a extinção de muitos animais grandes, como mamutes, cavalos e camelos, além do desaparecimento da cultura Clovis da América do Norte e o início abrupto de um breve período de clima frio, o Dryas recente, há cerca de 12.700 a 11.500 anos.

A descoberta

Os arqueólogos estudaram esse assentamento antes de uma barragem ser construída no rio Eufrates na década de 1970.
Eles puderam coletar e descrever diversos materiais antigos, incluindo partes de casas, alimentos e ferramentas.
Em conjunto, as evidências fizeram os cientistas identificarem no sítio uma transição do nomadismo para a agricultura cerca de 12.800 anos atrás, um dos eventos mais significativos da história cultural e ambiental da Terra.

Entre os cereais, ossos animais e materiais de construção de Abu Hureyra, no entanto, os pesquisadores encontraram também vidro derretido formado a temperaturas extremamente altas – no caso, muito mais altas do que os humanos teriam sido capazes de alcançar naquela época.

Análise geoquímica

Os cientistas analisaram a composição geoquímica, formato, estrutura, temperatura de formação, características magnéticas e conteúdo do vidro.

As análises indicaram que ele possuía minerais ricos em cromo, ferro, níquel, sulfetos e titânio, bem como platina e ferro derretido rico em irídio, todos formados em temperaturas superiores a 2.200 graus Celsius.
“Para colocar em perspectiva, temperaturas tão altas derreteriam completamente um automóvel em menos de um minuto”, disse James Kennett, professor de geologia da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA).
Tal intensidade só poderia ter resultado de um fenômeno extremamente violento, de alta energia e alta velocidade, da ordem de um impacto cósmico.

Hipótese do Impacto do Dryas Recente

Segundo Kennett, os materiais críticos encontrados nas amostras são extremamente raros sob temperaturas normais, mas comumente encontrados em eventos de impacto cósmico.
Além disso, são consistentes com o material encontrado em outros locais do mundo que também teriam sido atingidos pelos fragmentos do cometa.
O sítio arqueológico Abu Hureyra fica no setor mais oriental do que é conhecido como “campo de dispersão da Hipótese do Impacto do Dryas Recente (IDR)”, que engloba 30 outras localidades na América, Europa e Oriente Médio.

Esses locais abrigam evidências de um impacto a partir de fragmentos de cometa, como altas concentrações de platina e pequenas esférulas metálicas formadas a temperaturas muito altas.
A hipótese tem se tornado cada vez mais aceita graças a novas descobertas, como uma cratera de impacto muito jovem sob a geleira Hiawatha, na Groelândia, e vidro derretido de alta temperatura em um sítio arqueológico em Pilauco, no sul do Chile.

A destruição da vila de Abu Hureyra

De acordo com os cientistas, o achado recente mostra evidência direta de um desastre em um assentamento humano muito antigo. O impacto deve ter ocorrido suficientemente perto do assentamento para enviar vidro derretido sob a vila inteira.
“A vila de Abu Hureyra teria sido destruída abruptamente”, disse Kennett. “Um único grande impacto de asteroide não teria causado materiais tão dispersos como os descobertos em Abu Hureyra”.
Tendo em vista essas análises, os pesquisadores propõem a hipótese IDR para explicar os materiais descobertos não somente na Síria, mas em mais de 14.000 quilômetros do planeta.
“Nossas descobertas em Abu Hureyra apoiam fortemente um grande evento de impacto de um cometa fragmentado”, conclui Kennett.
Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Scientific Reports. [Phys]

Fonte:hypescience

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