Um estudo
desenvolvido por uma equipa de investigadores da Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) sugere
que a doença cardiovascular é a comorbilidade que acarreta maior
risco de mortalidade por COVID-19,
seguida da diabetes.
Conduzido por
Francisco Caramelo, Nuno Ferreira e Bárbara Oliveiros, este estudo
teve como objetivo determinar o risco de mortalidade por COVID-19
ajustado à idade, género e presença de comorbilidades como
diabetes, hipertensão, doença cardiovascular, respiratória ou
oncológica, doenças muito prevalentes na população portuguesa.
O trabalho,
explicam os investigadores, foi desenvolvido em finais de fevereiro,
«imediatamente
após ter sido publicado um artigo do CDC [Centro de Controlo de
Doenças] chinês que reportava a razão de letalidade dos casos
confirmados na China até à data, mas não apresentava estimativas
do risco de mortalidade na presença de uma ou mais características
dos indivíduos, representando uma mais-valia para o artigo do CDC
chinês ao quantificar o risco associado».
Para estimar as
comorbilidades com maior peso na mortalidade pela doença causada
pelo novo coronavírus, a equipa usou ferramentas matemáticas
simples. A abordagem adotada pode ser utilizada para determinar a
probabilidade de morte por COVID-19 para um paciente em particular,
dada a sua faixa etária, sexo e comorbilidades associadas.
Sendo já
conhecido que a taxa de mortalidade atinge mais os homens, os mais
idosos, e indivíduos com comorbilidades associadas, o estudo da
equipa da FMUC reporta uma maior probabilidade de mortalidade nos
homens, aumentada entre 1,60 a 2,13 vezes, com 95% de confiança.
«Encontramos
também um aumento do risco de mortalidade associado à idade,
principalmente a partir dos 50 anos, sendo este risco, em média,
6,76 vezes maior a partir desta idade, 18,82 vezes maior a partir dos
60 anos, 43,73 vezes maior a partir do 70 anos e 86,87 vezes maior a
partir do 80 anos, quando comparado com a classe de referência (até
aos 20 anos)»,
sublinham os investigadores.
Apesar de neste
momento não ser possível ainda aferir estes resultados na população
portuguesa, dado que das mortes registadas nenhuma ocorreu abaixo dos
40 anos, segundo os dados da DGS, «observa-se
que a distribuição da mortalidade por grupo etário, em Portugal,
está próxima do que ocorre normalmente em termos de mortalidade na
população portuguesa por grupo etário, segundo informações
recolhidas no PORDATA. Outro fator importante é que a presença de
qualquer comorbilidade, como diabetes, hipertensão, doença
cardiovascular, cancro ou doença respiratória se traduz no aumento
do risco de mortalidade, sendo a doença cardiovascular aquela que
tem um maior peso, seguida da diabetes»,
afirmam.
Comentando os
resultados obtidos, Francisco Caramelo, Nuno Ferreira e Bárbara
Oliveiros reforçam os alertas que têm sido amplamente divulgados,
salientando que, «embora
a letalidade não seja, ainda, elevada em Portugal, estima-se que a
percentagem de casos severos a necessitar de ventilação venha a ser
muito alta; noutros países é aproximadamente de 16% e este valor
conhece-se desde meados de Janeiro (China); são conhecidas situações
onde os profissionais de saúde têm sido obrigados a escolher quem
acede ou não a estas unidades. Esta percentagem faz com que qualquer
serviço nacional de saúde fique sobrecarregado se o número de
infetados for muito elevado, pelo que é crucial diminuir o número
de infeções restringindo para isso o contacto social».
Agora, tal como
muitos outros cientistas, e após ter submetido outro trabalho que
avalia o efeito das condições meteorológicas na propagação da
doença, a equipa da FMUC está focada em determinar «o
pico a partir da estimativa do número máximo de casos infetados.
Estamos a usar métodos de inteligência artificial, mas os modelos
são muito dinâmicos no tempo e não tem sido fácil conseguirmos
validar o modelo, tal como tem acontecido a outros investigadores».
Os investigadores
disponibilizam ainda diariamente uma descrição detalhada com
diversos indicadores sobre a evolução da doença em Portugal. Essa
informação pode ser acompanhada em:
O “preprint”
do artigo científico sobre o estudo pode ser consultado em:
Este projeto está
disponível na plataforma UC
Against Covid-19, que
reúne todos os projetos da Universidade de Coimbra associados aos
efeitos e à luta contra a pandemia.
Cristina
Pinto
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