Não é só o
clima que está a mudar,
mas a parte viva do nosso planeta também está a ser rapidamente
modificada pela ação humana, dando corpo a um conjunto de
Alterações Biológicas Globais.
O alerta é de três investigadores da Universidade de Coimbra (UC),
da Oregon
State University
(USA) e do Instituto
Mediterráneo de Estudios Avanzados
(CSIC-UIB, Espanha), num artigo científico publicado hoje na Web
Ecology.
Neste trabalho,
os investigadores recolheram evidências «incontornáveis»
de que essas alterações biológicas «não
afetam apenas algumas espécies isoladas, mas que simplificam redes
alimentares inteiras, ameaçando a persistência das comunidades
biológicas naturais a longo prazo. Devemos tomar medidas urgentes
para proteger a integridade das cadeias tróficas naturais, sob o
risco de empurrarmos rapidamente ecossistemas inteiros para fora dos
seus limites de segurança»,
afirma Ruben Heleno, coautor do artigo e investigador do Centre
for Functional Ecology – Science for People & the Planet
da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC).
De referir que há
quase três décadas, 1.700 cientistas emitiram um primeiro aviso à
humanidade, alertando para a necessidade de proteger a “rede de
interdependências entre seres vivos (…) cujas interações e
dinâmicas apenas em parte compreendemos”. Desde então, cientistas
de todo o mundo abraçaram completamente esta missão de descobrir as
regras que regem a formação, funcionamento e resiliência das
complexas redes de interações biológicas que em última análise
suportam a vida na Terra.
Recentemente, um
segundo aviso foi emitido e assinado por mais de 15.000 cientistas de
187 países declarando que “para prevenir a miséria generalizada e
uma catastrófica perda de biodiversidade, a humanidade não pode
seguir na atual trajetória de business as usual e deve enveredar por
uma alternativa mais sustentável”.
No estudo agora
publicado, explica Ruben Heleno, «adotamos
uma visão mais alargada de biodiversidade e reavaliamos o estado das
redes alimentares no mundo, a sua capacidade de resistir face a
ameaças externas, e sobre a capacidade de detetarmos sinais de
alerta que nos avisem sobre o eventual colapso das redes tróficas
naturais».
As evidências,
prossegue, «mostram
que a maioria dos motores das alterações globais, como por exemplo
o aumento da temperatura, as invasões biológicas, perda de
biodiversidade, fragmentação de habitat, e sobre-exploração,
tendem a simplificar as redes tróficas, concentrando os fluxos de
matéria e energia na natureza através de menos vias, ameaçando a
persistência das comunidades biológicas no longo prazo. Ainda mais
preocupantes, são as observações que mostram que comunidades
inteiras podem passar rapidamente de elevados níveis de diversidade
para comunidades totalmente empobrecidas, onde apenas algumas
espécies se mantêm, com poucos ou nenhuns sinais de alerta».
O investigador da
UC salienta ainda que, «de
um modo geral, a melhor evidência mostra claramente que para além
de termos de enfrentar o desafio das alterações climáticas e de
contrariar a tendência de extinção de espécies ameaçadas,
precisamos igualmente de enfrentar o desafio de travar as alterações
biológicas globais e especificamente de proteger as redes
alimentares na natureza, ou arriscamo-nos a assistir ao colapso de
ecossistemas inteiros».
Em simultâneo, nota Ruben Heleno, «precisamos
de perceber melhor os potenciais efeitos sinergísticos ou
atenuadores entre os motores das alterações climáticas e
biológicas. Aqui, destacamos os principais desafios à conservação
das redes alimentares na natureza e os avanços recentes que nos
podem ajudar enfrentar esses desafios».
O artigo está
disponível em: https://doi.org/10.5194/we-20-1-2020
Cristina
Pinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário