Um
estudo publicado na revista científica BMC
Public Health
concluiu que as crianças do
ensino pré-escolar (até aos 5 anos de idade) passam, em média,
mais de uma hora e meia (154 min) por dia em frente à televisão e
outros dispositivos.
Este estudo,
intitulado "Social inequalities in traditional and emerging
screen devices among Portuguese children: a cross-sectional study",
foi realizado por uma equipa de investigadores do CIAS - Centro de
Investigação em Antropologia e Saúde, da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e teve como objetivo
avaliar o tempo de ecrã das crianças portuguesas em diferentes
equipamentos eletrónicos - os tradicionais (como a televisão, o
computador e as consolas de jogos) e os modernos, incluindo os
tablets
e os smartphones
-, bem como determinar as diferenças no uso de acordo com o sexo e a
idade das crianças e a posição socioeconómica das famílias.
Foram
avaliados os hábitos de 8430 crianças, com idades compreendidas
entre os 3 e os 10 anos, a residir nas cidades de Coimbra, Lisboa e
Porto. Os
dados foram recolhidos em 118 escolas públicas e privadas. As taxas
de participação foram de 58% em Coimbra, 67% em Lisboa e 60% no
Porto.
Segundo
os resultados do estudo, nas crianças mais velhas o tempo em frente
ao ecrã é maior, sobretudo devido ao maior tempo gasto em
dispositivos eletrónicos, como computadores, videojogos e tablets:
«aproximadamente
201 min/dia. Concluímos que a maior parte das crianças,
principalmente entre os meninos, excede as recomendações de tempo
de ecrã indicadas pela Organização Mundial de Saúde e pela
Associação Americana de Pediatria, em que o tempo de ecrã deve ser
limitado a 1h (em crianças até aos 5 anos) ou 2h/dia (em crianças
acima dos 6 anos)»,
afirma Daniela Rodrigues, primeira autora do artigo agora publicado.
Embora
a televisão continue a ser o equipamento mais utilizado, «o
uso de tablets
está generalizado e o tempo gasto neste equipamento é elevado,
incluindo em crianças com 3 anos de idade»,
nota a investigadora, sublinhando ainda que o tempo de ecrã «é
sempre mais elevado em crianças de famílias de menor posição
socioeconómica, independentemente da idade, sexo, ou do tipo de
equipamento».
De
acordo com a investigadora da FCTUC, tendo em conta que o tempo de
ecrã está associado a um impacto negativo na saúde das crianças,
por exemplo, menor tempo e qualidade do sono, maior atraso no
desenvolvimento cognitivo e da linguagem, excesso de peso, etc.,
estes resultados «indicam
que é necessário um maior controlo por parte dos pais no acesso que
as crianças têm aos equipamentos eletrónicos. Este panorama é
ainda mais preocupante numa altura em que, devido à pandemia de
COVID-19, as crianças estão obrigadas a passar mais tempo em casa,
e precisam de recorrer a alguns destes equipamentos para aceder à
telescola».
«É
fundamental
identificar
os subgrupos de risco e identificar como cada dispositivo é usado de
acordo com a idade, para permitir futuras intervenções apropriadas.
Os pais devem ter em mente que as crianças passam a maior parte do
tempo a ver televisão, mas os dispositivos móveis estão a
tornar-se extremamente populares a partir de tenra idade»,
finaliza Daniela Rodrigues.
Cristina
Pinto
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