segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Proença-a-Nova | Gestão de combustível junto aos aglomerados evitou danos maiores no incêndio

 

O Município de Proença-a-Nova estima que os prejuízos do incêndio de 13 de setembro sejam superiores a sete milhões de euros: o valor provisório foi apresentado na reunião de câmara desta segunda-feira, 21 de setembro, pelo presidente da autarquia que soma os prejuízos florestais, ambientais, agrícolas, de infraestruturas e recursos hídricos. Como os técnicos municipais ainda se encontram no terreno esta semana para, em conjunto com as populações, concluírem o levantamento, o valor ainda não é fechado. João Lobo referiu ter transmitido ao Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, aquando da sua visita à área atingida pelo incêndio, a necessidade de o Governo, através do Ministério da Agricultura, abrir um aviso específico de apoio para os pequenos agricultores que, de um momento para o outro, perderam uma importante fonte de rendimento.

Salientando a extrema violência deste incêndio, que tem origem criminosa, João Lobo defendeu a urgência de se tomarem medidas que ajudem a resolver um problema estrutural que se criou e tem vindo a agravar nas últimas oito décadas. “Não podemos voltar com as mesmas soluções e esperar resultados diferentes. Temos de ter soluções diferentes”, exigiu. Para um Município que ciclicamente se vê a braços com os incêndios florestais, João Lobo defende uma gestão profissionalizada da floresta. “As políticas públicas só se exercem em terreno público. Não defendo que nacionalizemos os territórios, pois os privados continuarão a ser proprietários, mas vão ter que perder a capacidade de gestão quando não contribuem para uma floresta ordenada e segura”, referiu na reunião. Só a existência de áreas limpas e geridas pode refrear o avanço das chamas em situações como as que se viveram neste incêndio.

É com expetativa que o autarca aguarda a implementação de algumas medidas recentemente aprovadas sobre esta matéria, nomeadamente as áreas de gestão de integração da paisagem, de que Proença-a-Nova faz parte do projeto piloto, ou o arrendamento forçado quando os proprietários não limpam e não gerem os seus terrenos dentro das áreas que tiverem planos de gestão eficazes. Adicionalmente a estas medidas, a obrigatoriedade de limpeza das faixas de gestão de combustível junto dos aglomerados florestais pode ter feito a diferença em algumas aldeias neste incêndio, nomeadamente Fórneas e Dáspera. “Na gestão de combustível junto aos aglomerados, Proença-a-Nova é um exemplo”. João Lobo reconhece o papel essencial dos habitantes das localidades na defesa do seu património, feito sem o auxílio inicial dos bombeiros, só possível porque a gestão de combustível estava feita. À corporação de Proença-a-Nova voltou a enderençar elogios e louvor e mesmo tendo perdido dois carros logo no início da ocorrência e tido cinco feridos, dois deles com gravidade, continuaram a lutar pela defesa do território. Deixou ainda um agradecimento a todos os voluntários e aos Escuteiros pelo apoio logístico na alimentação aos operacionais no terreno.

O autarca espera também que na vertente do combate aos incêndios sejam implementadas mudanças: “precisamos organizar as forças que temos no território e que fora da época dos incêndios exerçam outras funções na defesa da floresta”. Dando voz ao cansaço que todos sentem por ciclicamente ver uma das maiores riquezas do concelho desaparecer, João Lobo apela à “serenidade que é necessária a quem tem a capacidade de tomar decisões” para que se consiga continuar a “convocar a capacidade de acreditar” num futuro diferente para aquela que já foi a maior mancha contínua de pinheiro bravo da Europa.

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