Quando deixou o riso de ser considerado um pecado? Será que Cristo nunca se riu ou, afinal, Cristo riu-se? O riso, como sugeria Nietzche, é uma coisa de sábio? E, neste tempo de total democratização do riso, poderá ele ser considerado um fármaco? Partindo de algumas destas inquietações, Abílio Almeida, investigador da Universidade do Minho, mergulhou numa profunda pesquisa em busca da origem e evolução dos conceitos de riso ao longo da História e publica agora as conclusões nesta História do Riso. De Platão a Nietzsche, de Jesus Cristo a Umberto Eco, esta viagem «atrevida», nas palavras dos professores Helena Sousa e Manuel Pinto – que assinam o prefácio da obra –, assume-se como uma importante reflexão sobre o papel do riso enquanto acto social. Uma edição Guerra e Paz Editores, a História do Riso chega à rede livreira nacional no próximo dia 25 de Outubro.
Nas páginas da História do Riso, Abílio Almeida leva-nos pelos climas emocionais, do medo à tristeza, da raiva à alegria, que o riso atravessou ao longo da história da humanidade, mas – ressalva o investigador – «sobretudo na história ocidental após o primeiro século d. C.»
Neste ensaio, que nasceu de uma tese de doutoramento, o autor mostra-nos que, muito antes de Agostinho de Hipona (354 d. C.-430 d. C.), conhecido no universo católico como Santo Agostinho, ter teorizado sobre o desuso das emoções positivas no âmbito social, que viria a ser promovido pela doutrina da Igreja durante cerca de 2000 anos, Platão já o tinha catequizado. Segundo o filósofo grego, todo e qualquer expressar emocional positivo era um usufruto temporário das coisas mundanas e, por isso, um atentado visual à pureza moral. Uma das maiores expressões públicas de um prazer voluntário, o riso seria então, naturalmente, observado na Antiguidade Clássica como algo menor, oriundo de um mundo inferior, doentio e terreno. Será o «fato, gravata e cara de mau» o espelho contemporâneo do ideal platónico?
Mais tarde, também João Crisóstomo, um dos pais da Igreja, se assumiu como um dos maiores adversários do riso, tendo apontado, inclusivamente, que, segundo as escrituras, Cristo jamais rira, «mas frequentemente aparecia triste». Quem pode prová-lo?
Seguir-se-iam séculos de perseguição ao riso, apoiada na ideia de um pecado capital, ou de um acto que deveria ser reprimido por fazer mal à saúde. Contudo, os ideais platónicos, camuflados de ideais cristãos por parte da Igreja, viriam a ser desmontados no século XIX por Friedrich Nietzsche, que considerava o riso um acto «sábio». O filósofo alemão introduziu um «conceito moderno» de felicidade: visual, quantitativa e centrada apenas no prazer, sustentando‑se no «novo início» proposto pelo naturalista Charles Darwin. Também o escritor e filósofo Umberto Eco teorizou sobre o riso, tendo afirmado que este «pode ser visto como uma imagem de um pequeno e repetido prazer carnal».
Com um clima emocional e social favorável e com um modelo-base capaz de associar o riso ao poder, ao sucesso e à autogratificação, toda a sociedade começou, gradualmente, a rir, sem ficar com um peso na consciência. De um pecado insalubre, terá o riso passado a ser um bálsamo para a saúde mental?
Mais recentemente, a análise do tema encara novos desafios, e a democratização do riso no cinema, na televisão, na imprensa e na Internet transformou-o numa arma. Perante esta alteração de paradigma, Abílio Almeida propõe-nos uma reflexão sobre os aspectos psicológicos e emocionais do riso, mas também sobre os diferentes papéis do riso na sociedade actual. Terá o riso caído na banalização? Será o riso hoje algo mecanizado e produto de determinados géneros mediáticos? Ficam as questões.
Uma raridade em Portugal, a História do Riso chega à rede livreira nacional no próximo dia 25 de Outubro, numa edição Guerra e Paz prefaciada pelos professores Helena Sousa e Manuel Pinto, que orientaram a tese de Abílio Almeida na Universidade do Minho.
Abílio Almeida
Não-Ficção / História
200 páginas · 15x23 · 16€
Nas livrarias a 25 de Outubro
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