Conforme prometido no meu artigo anterior, hoje falarei da estratégia
para se combater este ataque sistemático que é feito à imprensa
regional, desde que somos uma democracia plena de direitos, ou melhor
dizendo, desde o 25 de abril de 1974.
Importa referir para enquadrar algum
histórico de protestos semelhantes, que raras vezes o jornalista
ou o jornalismo saiu à rua e protestou. Isso aconteceu 2 ou 3
vezes, com redações de jornais nacionais com planos de
encerramento/remodelação ou com protestos ao nível salarial
(ordenados em atraso). E estas ações de protesto nunca miraram a
tutela, mas sim as chefias. Importa agora também referir que a
imprensa regional nunca, mas nunca criou ou participou em alguma
espécie de protesto coletivo, que visasse demonstrar a sua
insatisfação ao governo.
A função da imprensa regional é
acompanhar o dia a dia do seu povo, divulgando as suas atividades, as
suas alegrias e tristezas, sendo os primeiros a chegar às tragédias
que se vivem, sendo roubados pelos órgãos nacionais nos textos,
vídeos e imagens que criam. E são também os principais veículos
de informação da nossa diáspora. Na altura de se decidirem
apoios, são sempre relegados para último e poucas migalhas
conseguem alcançar do repasto dos ricos jornais nacionais.
E chegou a altura de nas próximas
semanas/meses, começarmos a desenhar uma espécie de bloco central
estruturado, que vise informar o governo que a imprensa regional
anda aqui há muitos anos (muito antes do 25 de abril), sempre fez um
trabalho extraordinário, noticiando localmente o que as populações
precisam de saber, substituindo-se aos jornais nacionais que
noticiam menos de 1% das realidades regionais. E quando o fazem
são quase sempre notícias de faca e alguidar, que é efetivamente o
que vende e dá “gostos” no Facebook.
Ressalvo que não pretendo com este
artigo incitar a nenhuma ação de protesto que não se enquadre no
estrito respeito pelo direito à integridade física e intelectual,
de pessoas e bens, sempre na defesa de uma ação elevadora e acima
de qualquer crítica. Contudo, precisamos de pensar em soluções
mais musculadas, em termos intelectuais, para passar a ideia de
que iremos lutar, doe a quem doer.
Enquadrada que está a necessidade
de lutarmos (pela primeira vez), urge perceber como o podemos fazer.
Já percebemos que não vamos a lado nenhum com esta passividade
a que nos sujeitamos. Então, e partindo do princípio em que nada
perderemos, ou não perderemos mais, pois a continuação deste
marasmo vais-nos levar ao fecho das nossas publicações, só
temos a alternativa de lutar, e tudo a ganhar. Já perdemos o que
tínhamos a perder.
E numa primeira ideia, pois não sou
profissional de protesto (que os há), é justo dizer-se que temos
connosco, em cada jornal em que trabalhamos, a espada certa para
arrepiar caminho. A nossa caneta! Há que abrir rúbricas por
esta imprensa regional, de norte a sul do país, e começarmos todos
a escrever colunas de opinião que visem denunciar este plano que
está em curso há muito tempo, de apertar o pescoço aos órgãos de
comunicação regionais. Há que divulgar, massivamente, sem
medos de retaliação. Quem nada aufere do poder, nada pode perder.
Muitos de nós aguardam o regresso de São Sebastião, mas ele
não volta mais. Morreu, está enterrado e cabe-nos a nós armarmos
os nossos cavaleiros para as batalhas que se avizinham.
Mas escrever artigos a denunciar
esta situação basta? Não, não basta. Há que encontrar uma
base de inteligência, que pode ter como quartel-general uma das
associações de imprensa existentes, ou todas, bastando haver
vontade de cooperação entre as existentes, e a partir daí desenhar
outras ferramentas. Não podemos esquecer que a imprensa regional
é líder de audiências em Portugal, se estivermos unidos.
Bastam 23% das publicações regionais para atingirmos 10 milhões
de pessoas mais a diáspora em que somos mais 5 milhões lá fora
e onde existem dezenas de órgãos de comunicação, tutelados por
Portugal, equiparados aos nossos jornais regionais, com as mesmas
dificuldades que nós sentimos. Os outros 77% são redundantes. Ou
seja, em suma, temos uma força editorial e uma capacidade de
penetração nos diversos públicos, nacionais e na diáspora,
extraordinária, em que os nacionais só sonham.
Então o que tem corrido mal? A
nossa desunião! Nunca fomos unidos, as nossas associações de
imprensa nunca protagonizaram grandes mudanças ou mesmo tiveram
posições de grande força, e fomos andando, esperando por quem
nunca virá, fechando aqui e ali, definhando e esmorecendo. Ora,
isto não tem de ser assim. Pode ser diferente, se tivermos a coragem
de dar força ao setor e participarmos ativamente na construção de
uma força que efetivamente obrigue o governo a olhar para este setor
com outros olhos. Atualmente, a maioria dos nossos representantes
associativos limita-se a ser informado pela tutela das regras/apoios
e pouco mais fazem para melhorar as propostas. Mandam uns
e-mails, sugerem a correção de algumas alíneas, fazem umas
reuniões e aceitam passivamente o que lhes é oferecido. Basta.
Há que inverter esta estratégia, há que informar a tutela que
acabou o tempo de andarem a brincar connosco. A brincadeira
vai-lhes custar muitas dores de cabeça, se continuam nesta direção.
Podemos e devemos informar os 15 milhões de portugueses a que
teoricamente abrangemos, de que algo de podre se passa nesta
república. Com esta constância noticiosa, informando e formando os
nossos leitores de que a primeira força de defesa da democracia
está ameaçada pelos interesses de alguns escroques e corruptos,
podemos começar a inverter esta tendência de nos quererem subjugar,
apertando cada vez mais o cerco e criando condições de trabalho
inatingíveis para a maioria dos nossos órgãos de comunicação
regionais.
O que aí vem nos próximos meses
não é bom, vai delapidar o nosso setor, e vamos, dentro de meia
dúzia de meses, ser cada vez menos. Alguns de nós irão
sobreviver porque têm uma dimensão regional robusta, e vão tomar
conta deste setor. Os outros, que têm as suas quotas de leitores
(sendo muitos destes títulos centenários) vão fechar
porque não têm as mínimas condições de permanecer no mercado,
com regras tão apertadas.
Por isso, insto a que todos nós,
colegas de profissão e leitores, se juntem e defendam o jornalismo
regional. Há que fazer um novo 25 de abril. Há que escrever até
à última gota de tinta das nossas canetas e depois, marchar,
marchar, marchar…
*José Vieira – Jornalista e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APMEDIO (Associação Portuguesa dos Media Digitais Online)
.webp)
Nenhum comentário:
Postar um comentário