sábado, 27 de fevereiro de 2016

O Vírus de Verdi


Há uma história sobre uma noite em que o compositor Giuseppe Verdi realizou um recital de piano no teatro Scala, em Milão, Itália, em que, depois da peça final, a plateia calorosa exigiu "bis”. Verdi, ávido por aplausos, escolheu uma composição sonora e espalhafatosa pois sabia que emocionaria o público, embora fosse, artisticamente falando, de qualidade inferior.

Quando terminou, a plateia levantou-se em estrondosa ovação. Verdi desfrutava dos prolongados aplausos quando viu na galeria o seu mentor de longa data, que sabia exatamente o que ele acabara de fazer. O mentor não se levantou, nem aplaudiu. O seu rosto estampava uma expressão de frustrado desapontamento. Verdi quase podia ouvi-lo dizer: "Verdi, Verdi, como foste capaz de fazer isso?”

Poderíamos chamar a esta situação o "vírus de Verdi” — desejo de controlar, necessidade de aprovação. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche descreveu-a da seguinte forma:"Sempre que escalo um degrau na vida, sou seguido por um cão chamado ego.”  O ego "incha” quando regado por louvor. Ávido por poder e sucesso, jamais se satisfaz, não importa a quantidade de elogios que receba.

Esta situação é muito comum no moderno e sofisticado mundo empresarial e profissional. Homens e mulheres lutam por atenção, anseiam por adulação, intrigam para obter controlo e impor a sua vontade. Todos os dias ouvimos falar ou lemos sobre líderes que sucumbiram às tentações de egos famintos. Tais atitudes não são novas. O egocentrismo é tão velho quanto a Bíblia. Vejamos alguns exemplos:

Amor por estatuto. 3 João 9-11 fala que Diótrefes, "que gosta muito de ser o mais importante entre eles”, ou noutra tradução, "que ambiciona o lugar de primeira distinção”. Ambição por prestígio e controlo levam à adoração e a igual quantidade de influência intimidante.

Insistência em impor a nossa vontade. Em Números 22-24 lemos sobre Balaão, único profeta gentio do verdadeiro Deus identificado na Bíblia. Ele obedeceu a Deus até certo ponto, mas o seu coração aceitou a liderança de Balaque, que se opunha aos israelitas. Balaão desejava obedecer a Deus, mas cedeu à tentação do ouro. Ele tinha uma mente cheia de iluminação espiritual, mas um coração em trevas. Deus permite que façamos o que insistimos em fazer, ainda que errados. Queremos e insistimos em fazer. Até mesmo oramos: "Senhor, por que não posso ter isso?”

Rebeldia contra a verdade e sabedoria. Em 2 Crónicas encontramos a história de Roboão, insolente filho do rei Salomão. Roboão presumiu que o legado da sua família e o poder que herdou, fariam o povo ceder aos seus caprichos. Porém, sem a sabedoria política nem a compreensão e confiança que o seu pai depositava em Deus, Roboão morreu orgulhoso e tolo aos 58 anos. "Ele agiu mal porque o seu coração não procurou buscar o Senhor” (2Crônicas 12.14).

Como evitar as armadilhas do orgulho e do egocentrismo? Considere a lição de 1Pedro 5.5-6: "Sejam todos humildes, uns para com os outros, porque Deus Se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes. Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele os exalte no tempo devido.”  


Texto da autoria de Robert D. Foster, fundador do "Lost Valley Ranch" (Rancho do Vale Perdido), perto de Colorado Springs, Colorado, USA. Ele é empresário e autor de meditações semanais sobre negócios há mais de 50 anos, morando na Califórnia. Tradução de Mércia Padovani. Revisão e adaptação de J. Sergio Fortes (fortes@cbmc.org.com) e MJP (aspec@aspec.pt)

Nenhum comentário:

Postar um comentário