No dia em que se assinalou o 113.º aniversário do nascimento do figueirense João Gaspar Simões, muitas dezenas de pessoas marcaram presença no Auditório do Museu Municipal para assistirem à entrega do prémio que homenageia o homem e a obra, perpetuando a memória do crítico literário. Silvério Manata foi o distinguido, pelo romance «A Bicicleta do Ourives Ambulante».
Esta quinta-feira, 25 de Fevereiro, a sessão mensal das 5as de Leitura foi especial e, por isso, começou ao som das guitarras de Manuel Ribeiro e Victor Santos. Depois, o Prémio João Gaspar Simões, bienalmente atribuído pelo Município da Figueira, foi entregue a Silvério Manata, pelo livro "A Bicicleta do Ourives Ambulante". A obra, já editada pela Gradiva, foi descrita pelo Vereador da Cultura e vice-presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Dr. António Tavares, como sendo «de grande riqueza vocabular e densidade narrativa», distinguindo-se, assim, entre os mais de noventa romances recebidos.
Pela Gradiva, coube ao editor Rudolfo Bogonha sublinhar a qualidade da obra, cuja decisão de publicação antecedeu, mesmo, o anúncio do prémio. «Num mercado editorial que está em manifesta redução, a Gradiva tevde de aumentar, naturalmente, a selectividade. Só publicamos, por isso, bons livros», afirmou.
«A Bicicleta do Ourives Ambulante», que na sua primeira edição conta com uma capa desenvolvida a partir de um quadro do pintor Zé Penicheiro, conta a história de Luís, um gandarês que troca a enxada por uma dura vida de viagens, e Laurinda, a mulher «que é terra, é sítio e é coragem», descreveu António Tavares, aconselhando os futuros leitores da obra premiada a começarem a aventura literária pelo posfácio de Pedro Calheiros, também presente no Auditório. «Não sei se é habitual começar a ler um livro pelo posfácio, mas neste recomendo», brincou.
As dificuldades da vida quotidiana num Portugal padrasto, num tempo de guerra que, parafraseando António José Saraiva, faziam dele não uma pátria mas uma mátria, são o pano de fundo do romance, passado entre terras gandarezas e alentejanas, entre dores profundas e misérias partilhadas, «sem errâncias», acrescentou. «É um retrato do país num determinado tempo e espaço, num neo-realismo revisitado, sem saudosismo ou passadismo, antes actualizado», descreveu, dando azo a um aceso debate, com a participação da plateia, sobre o conceito, os autores e a existência de um, ou mais, neo-realismos.
Silvério Manata agradeceu à Autarquia pelo prémio que, disse, o «encoraja a continuar pela aventura da escrita». O livro, a que não são alheias as suas memórias e as pessoas mais velhas com quem privou, é, no que à narrativa diz respeito, «totalmente ficção», esclareceu. «Mas o melhor é ler», aconselhou.
Sobre o Prémio João Gaspar Simões
O Prémio João Gaspar Simões, instituído em 2009 pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, tem como objectivo incentivar a criação literária e dar a conhecer novas obras e autores, assim como contribuir para a valorização e promoção da literatura, dando dessa forma continuidade ao trabalho desenvolvido pelo figueirense João Gaspar Simões – romancista, dramaturgo, editor, crítico e tradutor. «No que depender de nós não será esquecido», garantiu o autarca, depois de recordar o percurso de João Gaspar Simões, incluindo as agruras que a sua crítica, implacável na defesa da literatura portuguesa, lhe valeu dos autores seus contemporâneos. Antes de «A Bicicleta do Ourives Ambulante», o Prémio João Gaspar Simões distinguiu «O primo aprendiz – história de um carbonário», de Mário Fernando Silva Carvalho, na edição de 2012/13, e «O fotógrafo da Madeira» de António Manuel Melo Breda Carvalho, em 2010/11.
O júri - constituído por António Tavares, em representação da Câmara Municipal da Figueira da Foz; Manuel Frias Martins, em representação da Associação Portuguesa de Críticos Literários (APCL), e Maria Carlos Loureiro, em representação da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) - considerou que a obra premiada na edição de 2014/15 «revela uma notável riqueza de vocabulário e uma apreciável qualidade narrativa. A capacidade de efabulação e os vários registos de memórias e experiências trazem, ao romance em causa, um interesse especial que o coloca num plano estimulante de realização literária».
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