Artistas Sem Arte é o nome do primeiro livro publicado da jovem escritora Bruna Bernardo Ribeiro.
Foi em Julho de 2015 que o auditório dos Serviços Municipais Desconcentrados de Santa Marinha do Zêzere viu ser apresentado o Artistas Sem Arte, livro da autoria de Bruna Bernardo Ribeiro. A jovem natural de Baião não esconde o seu talento particular pela escrita e afirma que este seu livro é “o ponto de partida, uma referência de como estou a evoluir”.
Nesta entrevista, Bruna Bernardo Ribeiro convida-nos a conhecer o seu livro através das suas palavras e mostra-nos a pessoa por detrás da escritora.
Artistas Sem Arte é o nome do teu primeiro livro publicado. Porquê este título?
Ok, trata-se de dois artistas que reconhecem o desejo de serem artistas, escritor e pintora, neste caso. Mas ambos têm o problema que todos os amadores têm, encontrar a sua primeira obra, a inspiração para escrever, para pintar, algo que os transcenda, que os faça sentir:" ok, é isto, isto é a minha arte." Qualquer artista tem problemas de auto estima, ( muitos de ego quando finalmente conseguem ), mas no início, somos apenas "artistas" na busca de algo que valha a pena ser visto, escrito e sempre com medo que não preste, então joguei pelo seguro porque queria mesmo que o livro tivesse Artistas no nome mas essa é uma palavra com diversos sentidos. Para mim eles são artistas, se não de arte, de espírito pelo menos, mas ao longo do livro apercebemo-nos que até de arte o são...
Quando é que deste conta que tinhas um gosto particular pela escrita?
Sempre gostei de escrever mas costumava ser mais privada em relação a isso... Pequenos cadernos sempre na mochila, até escrevia em Inglês -cheio de erros para a minha mãe não ler (risos)-, mas creio que era bastante insegura em relação, não achava nada que valesse a pena ser lido, eram textos soltos. Mas quando fui estudar para o secundário conheci novas pessoas, e mais importante, novos professores, uma em particular, a de português, que sempre dizia que um dia lhe ia agradecer ela ser tão insistente comigo e parece que agora tenho a vida inteira para lhe agradecer... Ela reparou nos meus textos, seja nos testes, seja no projecto literário que ela estava a desenvolver com a nossa turma em que era necessário nós escrevermos textos sobre o Douro... Comecei a reunir-me com ela em particular e a mostrar o que escrevia, ela dava-me temas e eu simplesmente escrevia. " sabes Bruna, se juntares tudo isto dava um livro interessante ", isso nunca me tinha passado pela cabeça para ser honesta, tencionava ir para Direito e achava que escrever era só um hobby... Algo que também me ajudou foi um grande amigo meu que me viciou em livros de Kerouac, de Miller e Ginsberg. Comecei a devorar livros, a tentar escrever como eles, a querer deixar uma marca, a querer ser ouvida e quando me apercebi do tipo de escrita que estava a desenvolver -tinha 16 quando escrevi o primeiro livro-, submeti-o à Chiado Editora que queria publicar e cheguei a ter o contrato em casa, mas por motivos monetários não pude assinar. Talvez tenha sido pelo melhor, se calhar não estava preparada ainda, tudo tem o seu tempo e eu já estava a ser apressada demais...
Muitos autores procuram histórias do dia a dia para escrever os seus livros, outros fantasiam sobre elas. E tu, em que é que te inspiraste para escrever este livro? Foi uma ideia previamente pensada ou um dia acordaste e pensaste “quero escrever sobre isto”?
Um pouco dos dois, creio... Eu tenho dificuldades em escrever uma história "pensada" por assim dizer. O Artistas sem Arte começou com textos separados que eu escrevia sobre o dia a dia, não fazia ideia que iria dar um livro, tive-o guardado no meu computador durante meses, sem saber o que fazer com os textos, mas começava a irritar-me e a sentir-me frustrada por ainda não ter publicado nada e o tempo começava a passar e eu já tinha ideias de ir para Lisboa mas não queria ir sem "nada para mostrar", sem nada publicado... Creio que a história do Artistas sem Arte surgiu quando eu estava de férias em Madrid e no meio de uma conversa eu estava a desabafar com uma amiga minha acerca do livro e dos textos e de como queria que fosse um romance e que não estava a conseguir que fizesse sentido... E ela disse-me “Para de procurar respostas, um dia vais encontrar alguém que só te vai dar perguntas e aí apaixonas-te", ou talvez nem tenha dito isso e o meu espanhol não é o melhor.
Mas nessa altura fez-se um clique e descobri que queria mesmo isso, uma história de amor com excessos, com perguntas, poucas respostas, diálogos desafiantes e um final que não fosse bem finito.
Mas sim, o livro é bastante pessoal, todos os meus escritores favoritos são conhecidos pelas suas odes à vida, pelas suas experiências. O Artistas sem Arte acaba por ser também uma espécie de ode à minha ideologia de amor.
E quais são esses escritores a que te referes?
A geração beat sem dúvida: Kerouac, Ginsberg... Um pouco de Bukowski e muito Miller. Mas talvez o que tenha influenciado mais o livro é o tom confessional e simples e muito mórbido de Kafka.
Já referiste o facto de a tua professora de português te ter dado um incentivo relativamente a este teu talento. Mas relativamente ao apoio familiar, como é que os teus familiares reagiram ao saber que ias ter a oportunidade de ver o teu livro publicado?
Digamos que sempre tive apoio por parte da minha mãe, do meu padrasto... Todos se sentiram orgulhos, claro. As minhas tias e assim. Mas ainda tenho muito para lhes provar.
Quanto tempo levaste para o ter escrito?
Os textos em si foram escritos ao longo do meu primeiro ano em Ciências da Comunicação, o livro em 6 dias... Talvez...
Como mencionaste há pouco pensaste em mudar-te para Lisboa e chegaste mesmo a fazê-lo. O que é que te levou a tomar essa decisão?
Temos que ser honestos, o Norte a nível das Artes, pelo menos Literárias, é bastante escasso, seja mesmo a nível de editoras, teatros, cinemas, cursos que desenvolvam essa vertente... Quando me apercebi que era isso mesmo que eu queria fazer, pensei: Ou é tudo ou nada. E fui. Curso e cidade adaptados aquilo que eu queria fazer.
E já começas a notar algumas diferenças?
A nível de escrita tenho andado mais parada, estou mais concentrada a aprender neste momento. Mas sim, noto uma grande diferença na minha escrita e nas próprias temáticas abordadas... O meu primeiro livro está muito pessoal, uma espécie de diário com erros ortográficos, desconexão frásica e mal pontuado porque eu assim o quis... Queria que este livro fosse o ponto de partida, uma referência de como estou a evoluir. Continuidade é importante e tenho imensos projectos que envolvem voltar a usar as personagens do Artistas sem Arte...
Já fizeste uma sessão de esclarecimento do teu livro. Como te sentiste a falar pela primeira vez sobre algo que é tão teu?
Vulnerável, muito vulnerável. Bastante nervosa. No início tremia, quase chorei... O auditório estava cheio e tinha a pressão de ser o primeiro, de estar lá a minha família, as minhas professoras... É uma boa experiência, das melhores que tive, mas vulnerável é a palavra que melhor define essa experiência. Uma coisa é escrever, outra é falar, então falares do que escreves ... É uma linha difícil de traçar.
Que pessoas envolveste neste projeto?
A minha professor de Português, Conceição Pires, supervisionou tudo, releu tudo. A Vereadora da Educação de Baião como representante do concelho e uma amiga minha, Belisa Sequeira, estudante de teatro que leu as passagens do livro durante a sessão... Foi uma boa equipa e espero que ainda este ano nos possamos juntar outra vez.
Para terminar, fala-nos um bocadinho dos teus planos relativamente ao futuro, onde e como podemos adquirir o teu livro e o que podemos esperar de ti daqui para a frente?
Tenciono voltar a publicar um livro este ano, tem sido complicado, estou um pouco indecisa em se o submeto à editora ou se concorro ao Prémio Leya. Caso não publique este ano, nos próximos dois anos estarei parada, concentrada em aprender, focar-me na Universidade. Aprender a escrita para teatro e cinema. Tenho 4 projetos para livros e duas peças de teatro já guardadas, mas tudo precisa do seu tempo e creio que é isso que vou fazer. Mas gostaria de publicar ainda este ano o próximo, vamos ver.
Aconselho a qualquer escritor amador que tenha desejo em publicar que esta é uma boa editora para primeiros trabalhos, hoje em dia ser publicado não é barato, os contratos são caros, e esta é uma editora que apoio os escritores amadores.
Terminada esta entrevista resta-me agradecer à Bruna pela sua disponibilidade e por ter aceite responder às minhas questões.
Para que possam seguir mais de perto o seu trabalho ou adquirir o seu livro, vou deixar em baixo alguns links dos locais onde a podem encontrar.
Por Cátia Sofia Barbosa, aluna de Jornalismo da UC
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