Conselheiros
das comunidades no Brasil afirmaram, em Lisboa, que os portugueses estão
preocupados com a situação do país e têm pouca esperança de que haja grandes
mudanças no atual cenário político brasileiro.
"Estamos
a acompanhar com muita apreensão, porque em decorrência dessa situação política
de instabilidade, a economia brasileira acaba sofrendo todas esses efeitos,
porque não se sabe ainda se haverá uma mudança de Governo, se não haverá",
disse o conselheiro Flávio Martins, também presidente do conselho permanente do
Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).
A Presidente
Dilma Rousseff está a enfrentar um processo de destituição, que está agora a
ser avaliado no Senado, que dentro de dias pode afastá-la por 180 dias para
investigar as denúncias contra a chefe de Estado e, posteriormente, decidir a
afasta definitivamente.
Os
conselheiros falaram à Lusa à margem da reunião plenária do CCP, que decorreu
esta semana, na Assembleia da República, em Lisboa.
Ângelo Leite
Horto, conselheiro no Rio de Janeiro, e António Davide Santos da Graça,
conselheiro no Rio Grande do Sul, também relataram que a comunidade portuguesa
acompanha "com preocupação" a situação do país.
"A
comunidade portuguesa está sempre na parte comercial, na parte industrial e
aqueles já mais idosos que procuraram poupar e investir em imóveis para terem
uma renda no futuro, então tudo isto é preocupante, os empresários porque não
conseguem produzir, não conseguem vender os seus produtos, os impostos são
certos e a rentabilidade cai, os reformados a perder as rendas dos alugueres
porque as empresas estão a entregar esses imóveis", afirmou Leite Horto,
que é conselheiro e empresário no Rio de Janeiro.
De acordo com
Leite Horto, para o setor económico não há "uma perspetiva de que o Brasil
vá melhorar em cinco anos, pelo contrário, será bem mais, pois a situação é
muito complicada" e todos estão "muito apreensivos, os empresários e
o povo em geral".
Flávio
Martins, que é diretor na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), referiu que se a destituição da Dilma Rousseff
acontecer, também poderá haver uma mudança radical na própria economia ou nos
planos económicos de "um futuro Governo".
"Então,
temos acompanhado isso com muita preocupação porque, afinal, isso tem impactado
tanto no aumento do desemprego, no aumento da inflação, numa mudança cambial em
relação ao euro e ao dólar. E que, claro, acaba afetando também, por exemplo,
um português ou um lusodescendente que queira vir a Portugal, tudo fica mais
difícil agora", afirmou Flávio Martins, conselheiro no Rio de Janeiro.
António Davide
Santos da Graça referiu, no entanto, que há esperança, pois "no Brasil as
coisas acontecem muito rápido".
O conselheiro
do Rio Grande do Sul declarou ainda que há "a esperança de que este
Governo e a Presidente irão cair e que as coisas mudem" no setor
económico.
"Fazemos
uma comparação com o que aconteceu com o (ex-Presidente Fernando) Collor de
Mello", disse António Davide Santos da Graça, referindo que após a
destituição de Collor de Mello, assumiu o vice-Presidente Itamar Franco, que
indicou para ministro das Finanças Fernando Henrique Cardoso (posteriormente
Presidente) e "o Brasil teve um salto económico muito grande" nesse
período.
No entanto, no
campo político, os três conselheiros mostraram-se também bastantes céticos
sobre uma mudança rápida.
"Não
temos ali alguém que a gente possa chegar e indicar, vamos pedir novas eleições
e muito bem, vamos eleger um novo Governo. Com toda a certeza, os políticos são
os mesmos que vão apresentar-se e nós vamos votar neles porque o voto é
obrigatório", acrescentou o conselheiro Leite Horto, defendendo a
necessidade de uma reforma política.
"Se não
houver (uma reforma política), vai ser muito difícil para o Brasil. Até mesmo
em vez de termos o presidencialismo, ser o parlamentarismo, porque com toda a
certeza teríamos uma diferença bastante grande na maneira de administrar o
nosso país", acrescentou.
Já António
Davide Santos da Graça disse não acreditar nos atuais políticos.
"Uma
sigla que é o PT -- PMDB foram eleitos e a titular, que é a Presidente, vai ser
cassada. Na minha conceção teria que ser a sigla, não acreditamos muito no
Michel Temer, eu acho que teria que haver novas eleições", disse o
conselheiro do Rio Grande do Sul.
Flávio Martins
lembrou que o Brasil tem um regime presidencialista e não é da cultura dos
países americanos serem parlamentaristas.
Sobre a
possibilidade de portugueses regressarem a Portugal devido à situação no
Brasil, Flávio Martins e Leite Horto mencionaram que a emigração que está há
pouco tempo no Brasil talvez volte a Portugal, mas será mais difícil que isso
aconteça entre os que estão no país há décadas.
Fonte: Lusa
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