sábado, 30 de abril de 2016

Portugueses preocupados com situação política e económica do Brasil

Conselheiros das comunidades no Brasil afirmaram, em Lisboa, que os portugueses estão preocupados com a situação do país e têm pouca esperança de que haja grandes mudanças no atual cenário político brasileiro.
"Estamos a acompanhar com muita apreensão, porque em decorrência dessa situação política de instabilidade, a economia brasileira acaba sofrendo todas esses efeitos, porque não se sabe ainda se haverá uma mudança de Governo, se não haverá", disse o conselheiro Flávio Martins, também presidente do conselho permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).

A Presidente Dilma Rousseff está a enfrentar um processo de destituição, que está agora a ser avaliado no Senado, que dentro de dias pode afastá-la por 180 dias para investigar as denúncias contra a chefe de Estado e, posteriormente, decidir a afasta definitivamente.

Os conselheiros falaram à Lusa à margem da reunião plenária do CCP, que decorreu esta semana, na Assembleia da República, em Lisboa.

Ângelo Leite Horto, conselheiro no Rio de Janeiro, e António Davide Santos da Graça, conselheiro no Rio Grande do Sul, também relataram que a comunidade portuguesa acompanha "com preocupação" a situação do país.

"A comunidade portuguesa está sempre na parte comercial, na parte industrial e aqueles já mais idosos que procuraram poupar e investir em imóveis para terem uma renda no futuro, então tudo isto é preocupante, os empresários porque não conseguem produzir, não conseguem vender os seus produtos, os impostos são certos e a rentabilidade cai, os reformados a perder as rendas dos alugueres porque as empresas estão a entregar esses imóveis", afirmou Leite Horto, que é conselheiro e empresário no Rio de Janeiro.

De acordo com Leite Horto, para o setor económico não há "uma perspetiva de que o Brasil vá melhorar em cinco anos, pelo contrário, será bem mais, pois a situação é muito complicada" e todos estão "muito apreensivos, os empresários e o povo em geral".

Flávio Martins, que é diretor na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), referiu que se a destituição da Dilma Rousseff acontecer, também poderá haver uma mudança radical na própria economia ou nos planos económicos de "um futuro Governo".

"Então, temos acompanhado isso com muita preocupação porque, afinal, isso tem impactado tanto no aumento do desemprego, no aumento da inflação, numa mudança cambial em relação ao euro e ao dólar. E que, claro, acaba afetando também, por exemplo, um português ou um lusodescendente que queira vir a Portugal, tudo fica mais difícil agora", afirmou Flávio Martins, conselheiro no Rio de Janeiro.

António Davide Santos da Graça referiu, no entanto, que há esperança, pois "no Brasil as coisas acontecem muito rápido".

O conselheiro do Rio Grande do Sul declarou ainda que há "a esperança de que este Governo e a Presidente irão cair e que as coisas mudem" no setor económico.

"Fazemos uma comparação com o que aconteceu com o (ex-Presidente Fernando) Collor de Mello", disse António Davide Santos da Graça, referindo que após a destituição de Collor de Mello, assumiu o vice-Presidente Itamar Franco, que indicou para ministro das Finanças Fernando Henrique Cardoso (posteriormente Presidente) e "o Brasil teve um salto económico muito grande" nesse período.

No entanto, no campo político, os três conselheiros mostraram-se também bastantes céticos sobre uma mudança rápida.

"Não temos ali alguém que a gente possa chegar e indicar, vamos pedir novas eleições e muito bem, vamos eleger um novo Governo. Com toda a certeza, os políticos são os mesmos que vão apresentar-se e nós vamos votar neles porque o voto é obrigatório", acrescentou o conselheiro Leite Horto, defendendo a necessidade de uma reforma política.

"Se não houver (uma reforma política), vai ser muito difícil para o Brasil. Até mesmo em vez de termos o presidencialismo, ser o parlamentarismo, porque com toda a certeza teríamos uma diferença bastante grande na maneira de administrar o nosso país", acrescentou.

Já António Davide Santos da Graça disse não acreditar nos atuais políticos.

"Uma sigla que é o PT -- PMDB foram eleitos e a titular, que é a Presidente, vai ser cassada. Na minha conceção teria que ser a sigla, não acreditamos muito no Michel Temer, eu acho que teria que haver novas eleições", disse o conselheiro do Rio Grande do Sul.

Flávio Martins lembrou que o Brasil tem um regime presidencialista e não é da cultura dos países americanos serem parlamentaristas.

Sobre a possibilidade de portugueses regressarem a Portugal devido à situação no Brasil, Flávio Martins e Leite Horto mencionaram que a emigração que está há pouco tempo no Brasil talvez volte a Portugal, mas será mais difícil que isso aconteça entre os que estão no país há décadas.


Fonte: Lusa

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