José
Rodrigues, 55 anos, está desde o dia 5 de abril em greve de fome num hospital
francês por a administração local lhe recusar apoios sociais.
Natural de
Almada, chegou a França em 2005 e, até 2012, este técnico de eletricidade
trabalhou por conta de outrem. "Caí no erro de montar uma microempresa,
pois começava a entrar numa idade crítica e o mercado de trabalho não estava
seguro para assalariados da minha geração", recorda.
Acabou por
desistir em 2013 e, depois de dar baixa da atividade, tratou de procurar
emprego, sem sucesso. No final desse ano, apresentou um pedido de rendimento de
solidariedade ativa (semelhante ao rendimento social de inserção), recusado em
janeiro de 2014 pelo Conselho Geral da Província du Gard (Sul do país), com o
argumento de que José não tem direitos de residência em França.
"Eu
trabalhei anos a fio e paguei todos os impostos."
"Como
membro da União Europeia, como diz a lei francesa, para adquirir os meus
direitos devo ter trabalhado um mínimo de quatro meses consecutivos em
território francês. Eu trabalhei anos a fio e paguei todos os impostos",
diz.
Entre o vaivém
de contestações, acabou por perder a casa e a família e teve que ir viver para
a rua. "A vergonha fez com que me escondesse. Durante o dia, refugiava-me
e à noite saía para comer uma sopa que a Cruz Vermelha distribui pelos pobres.
A minha prioridade era trabalhar, mas acabei por constatar com amargura que
ninguém contrata um sem-abrigo". Regressar a Portugal nunca foi opção,
porque é em França que estão os seus quatro filhos.
O seu estado
de saúde deteriorou-se de tal forma que, em janeiro deste ano, José Rodrigues
teve de ser internado em Nîmes, onde vive, tendo sido transferido para uma
unidade hospitalar de recuperação e fisioterapia - o centro hospitalar Les
Châtaigners de Ponteils.
A falta de alternativas
e a revolta com a situação levaram-no a uma atitude extrema: "Lutar com a
minha vida". Só aceita beber água e café, para conseguir tornar a sua
história pública.
Após um
primeiro contacto com o vice-cônsul em Marselha, José Rodrigues voltou ontem a
falar com o representante das autoridades portuguesas. A informação que lhe foi
transmitida é a mesma que a Secretaria de Estado das Comunidades deu ao JN. O
caso está a ser acompanhado pelo consulado de Marselha e foi pedido a um
advogado que "tratasse dos procedimentos legais necessários" para
fazer "diligências junto das competentes autoridades francesas". Uma
vez que José Rodrigues não quer regressar a Portugal, o consulado está a
"contactar familiares para perceber que apoio familiar é possível" dar-lhe.
Fonte: JN
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