Jornal de Angola, editorial
As nomeações políticas incorporam sempre uma dose de confiança e, desde que estejam em conformidade com a componente legal, devem ser encaradas mais pelos objectivos por detrás das mesmas e menos pelas implicações, sempre discutíveis.
É fundamental que o foco, das análises e comentários em torno de determinadas nomeações, esteja virado sobre o interesse nacional, sobre o que se espera e o que o tempo sirva como bitola apreciada para futuras avaliações.
Não se pretende aligeirar o papel que os debates e discussões produzem sempre que determinada nomeação contribua para tal, determinando, muitas vezes, a agenda dos meios de comunicação e temas de conversas um pouco por todo o lado. Diríamos que se está perante o mínimo que se pode esperar num Estado Democrático de Direito, em que o direito à palavra, dentro dos limites consagrados pelas leis, está protegido constitucionalmente.
A nomeação da empresária Isabel dos Santos como presidente do Conselho de Administração da Sonangol serviu para todos os aproveitamentos de índole política e jurídica, sendo incompreensível que o acessório se tenha sobreposto ao essencial.
O fundamental é que Angola consiga reverter a actual espiral decrescente das receitas ao nível da indústria petrolífera com uma gestão e liderança que dê respostas aos desafios que existem.
Era bom que boa parte das intervenções tivesse em atenção este aspecto, a necessidade urgente de transformação da empresa pública num instrumento eficiente e rentável, devidamente modernizado e competitivo.
Atendendo aos desafios que o sector petrolífero enfrenta, por via da baixa da procura do crude e redução significativa dos preços em todo o mundo, não havia dúvida para ninguém quanto à urgência de reformas.
Os modelos de gestão dos tempos modernos visam, em qualquer parte do mundo a maximização dos lucros, a redução de custos, direccionar a atenção ao “core business” da empresa, entre outras metas. Na verdade, é também isto que está em causa relativamente à Sonangol e nesta altura em que urge recolocá-la como líder e verdadeiro pilar da economia nacional.
Afinal, o mercado mundial, regional e o interno impõem exigências que devem ser encaradas de frente tendo em atenção os objectivos no incremento da eficiência, na redução de custos e no aumento dos lucros. É Angola que sai a ganhar com a materialização desse tipo de estratégias ao nível do sector dos petróleos em geral e da Sonangol em particular.
Se por um lado são saudáveis as opiniões convergentes e divergentes sobre a nomeação da engenheira Isabel dos Santos, que confirmam o pluralismo e liberdade de expressão, por outro tais observações escapam do que se afigura como fundamental neste momento.
O essencial neste momento é a busca de soluções, com “pessoas certas para os lugares certos”, com tarefas precedidas de diagnósticos exaustivos sobre o estado do sector dos petróleos e da Sonangol em particular, bem como metas bem traçadas. “Há objectivos claros e que estão bem definidos e que têm que ver com o aumento da eficiência no sector dos petróleos, permitindo que haja uma melhor utilização dos recursos em exploração e também um melhoramento da previsibilidade dos fluxos financeiros”, disse a empresária recém-nomeada presidente do Conselho de Administração da Sonangol, numa alusão ao principal foco. Houve um amplo trabalho de diagnóstico por parte da equipa nomeada para o trabalho de reestruturação da Sonangol, que contou com a participação de prestigiados escritórios de consultores. Não há dúvida de que foram devidamente avaliadas as forças, as fraquezas, as ameaças e oportunidades para transformar a Sonangol.
Como sabemos, e fruto da actual crise financeira e económica, os custos de produção do crude passaram a ser incomportáveis para o país e a necessidade de reestruturação do sector petrolífero e da principal concessionária.
As forças e oportunidades da petrolífera angolana são por demais conhecidas, razão pela qual faz todo o sentido uma avaliação das actuais ameaças ou desafios para o estabelecimento de um modelo mais eficiente para a empresa e para o sector petrolífero em geral. Tudo quanto esperamos da parte da Sonangol sob a presidência do novo Conselho de Administração é que as metas e objectivos a que se propõem contribuam decisivamente para aumentar a eficiência e as margens de lucro. Acreditamos que a actual equipa da Sonangol vai atingir os resultados que pretende, numa altura em que urge harmonizar o sector do petróleo, e da Sonangol em particular, à actual conjuntura interna e internacional.
Pela frente está o trabalho que a actual equipa vai fazer tendo em conta a necessidade de salvaguardar a operacionalidade da empresa e o papel da indústria petrolífera. Nesta conjuntura, é factual a ideia de que não era sustentável o actual estado em que se encontrava o sector de uma maneira geral. Como defendeu um antigo deputado e homem de negócios, em entrevista recente à Televisão Pública de Angola, o actual processo que tenciona tornar robusta a Sonangol apenas peca por tardia.
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