A polícia afirma que a falta de médicos legistas na província de Manica impossibilita uma investigação rápida do que levou à morte de 11 pessoas, cujos corpos foram encontrados há cerca de um mês, nas matas de Macossa.
A polícia esteve neste fim de semana com uma comissão parlamentar que visitou as matas de Macossa, onde foram encontrados os corpos, para investigar alegadas violações de direitos humanos.
Idrissa Nampovo, diretor provincial da Polícia de Investigação Criminal de Manica, afirma que asautoridades foram obrigadas a sepultar os 11 corpos, sem fazer uma autópsia.
Os cadáveres estavam em avançado estado de decomposição e “em termos da intervenção da medicina legal, o técnico de saúde não tem capacidade de fazer a intervenção e, na província de Manica, não temos médico legista”, afirma Idrissa Nampovo.
O bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, Eugénio Zacarias, afirma que é possível a Ordem destacar médicos legistas para averiguar o caso, se as autoridades assim o solicitarem. No entanto, Eugénio Zacarias diz que há falta de médicos da especialidade em todo o país.
Para o bastonário, o facto de não terem sido feitos exames aos cadáveres na altura poderá dificultar o apuramento da verdade.
"A verdade é que passou muito tempo", afirmou Eugénio Zacarias à DW África. "[Os corpos] estavam num sítio aberto, já aconteceram muitas coisas e já se perderam muitos indícios. Deviam ter sido feitos exames no momento em que foram descobertos os corpos."
Eugénio Zacarias afirma que, no entanto, ainda será possível fazer a investigação, mas que a autópsia aos cadáveres é fundamental. "Tudo é possível. Não sabemos do que é que eles morreram. Morreram de quê? Quando eles são autopsiados, nós conseguimos saber se morreram com arma de fogo, por envenenamento, por morte natural. Só depois de investigar é que é possível determinar [a causa da morte]".
"Há falta de vontade política"
Sílvia Cheia, deputada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e único membro da oposição na comissão parlamentar que investigou os motivos pelos quais os 11 corpos teriam sido sepultados nas matas de Macossa, considera que há falta de vontade política.
“Tratando-se de uma questão da nação, eu penso que, tal como os membros desta comissão se deslocaram da Beira até Manica, mesmo que fosse necessário deslocar gente de Maputo, se quisessem, podiam proporcionar as condições antes de enterrar os corpos”, afirma a deputada do MDM.
Angelina Napica, procuradora chefe de Manica, diz que é possível desenterrar os restos mortais e prosseguir com a investigação. No entanto, Sílvia Cheia considera que este método não é viável, e que ainda estão outros casos por esclarecer, pedindo uma investigação internacional independente.
“Dando o exemplo da Gorongosa; nós fomos a Gorongosa fazer uma passeata. Se existisse uma real investigação, ia ajudar-nos”, diz a deputada do MDM, acrescentando que “nós estamos preocupados em saber quem são as pessoas que morreram ali”.
Edmundo Galiza Matos Júnior, deputado da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, partido no Governo), quer que se intente uma ação criminal contra os jornalistas e órgãos que noticiaram em primeira mão a existência de valas comuns no centro do país.
No entanto, a procuradora chefe de Manica acredita que este não é o momento oportuno para tal, sublinhando que a instituição está empenhada em averiguar as causas da morte das pessoas cujos corpos foram encontrados debaixo de uma ponte na província.
Há duas semanas, jornalistas da Agência France Presse e da DW África visitaram a zona onde foram encontrados os corpos com um camponês. Foram vistos mais sete corpos.
Arcénio Sebastião – Deutsche Welle
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