Pais e docentes propõem que a organização do ano escolar deve passar para as escolas. A Associação Nacional de Professores prepara uma proposta polémica, que foge às datas religiosas.
Mal o calendário escolar foi publicado em Diário da República na semana passada, muitas foram as vozes que vieram a público demonstrar o seu desagrado com algumas das alterações para o ano letivo 2016/2017. Um primeiro período demasiado longo e o facto de se estipular mais três semanas de aulas para os alunos do 1.º Ciclo do ensino básico são as principais queixas de professores, pais, sindicatos e diretores de escolas.
Há mesmo quem apresente propostas de resolução. Neste sentido, a Associação Nacional de Professores vai mais longe e apresenta um novo modelo que rompe com o tradicional: em vez dos atuais três períodos de aulas, a associação propõe que o calendário se divida em apenas dois semestres, com pausas que fogem às datas religiosas. “Se temos um ensino laico, não há razão para as pausas terem que ser obrigatoriamente no Natal, Carnaval e na Páscoa”, refere ao SOL a presidente da ANP, Paula Figueiras Carqueja. Assim, e para que as pausas aconteçam ao longo do ano, a associação propõe dois ou três dias de férias em Novembro, a meio do primeiro semestre, e uma outra pausa no início de Abril, de modo a permitir descansar a meio do segundo semestre. Entre os dois períodos, haveria uma pausa no final de Janeiro.
O problema do tempo livre dos filhos
“Os alunos precisam de parar para fazer nada, para se afastarem do ambiente escolar”, considera a responsável. O problema, segundo Paula Carqueja, prende-se com os tempos da família. “Os pais ficam aterrorizados com o tempo livre dos filhos”, garante, aproveitando para lembrar uma anterior proposta da associação, na qual se previa que pelo menos um dos pais pudesse ter um horário de trabalho semelhante ao horário escolar do filho. Além disso, a associação defende que as escolas deveriam ter autonomia para dividir o calendário escolar consoante as suas necessidades.
Posição semelhante tem a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). “O que funciona em Faro não tem necessariamente que ser o modelo ideal para uma escola de Bragança” - exemplifica o presidente Jorge Ascensão, exigindo, como mínimo, que ficasse estipulado a nível nacional um dia para começar e um dia que pusesse fim ao ano letivo.
Do lado dos pais, as queixas prendem-se com os tempos escolares que, na opinião do responsável, nada têm a ver com o tempo dos pais. “As pausas são demasiado longas e os pais são obrigados a recorrer ao privado para ter onde deixar os filhos”. Para Jorge Ascensão, o atual primeiro período é demasiado longo, com uma intensidade de trabalho que se vai perdendo ao longo do ano. “Isto é uma corrida de fundo, não de cem metros. Há que saber gerir o esforço”, lembra.
Sem prever alterações a curto prazo, o Ministério da Educação, em resposta ao SOL, refere que o calendário do próximo ano letivo é o que chegou a conhecimento público. “A tentativa será sempre a de garantir estabilidade e enquadrar todas as decisões não como medida administrativa mas como salvaguarda das melhores condições para cumprimento dos projetos das escolas”, acrescenta
Por agora, uma nova divisão do calendário vais ser posta em discussão entre os professores. A associação enviou esta semana um e-mail aos docentes remetendo para um questionário de resposta ‘sim’ ou ‘não’ à pergunta ‘Concorda com a divisão do ano letivo em dois semestres?’. Os docentes têm até dia 20 de julho para responder e, se o “sim” ganhar ou se os resultados forem muito próximos, a associação avança para o passo seguinte: organizar debates nas secções regionais e recolher sugestões, a partir de setembro. Com o avanço dos debates, a ANP espera chegar à fala com o ministério através da apresentação de uma proposta concreta, “mas nunca para o próximo ano letivo”, assegura Paula Carqueja: “Estas questões precisam de ser muito bem ponderadas”.
Conselho de Educação prepara parecer
Contactado pelo SOL, o presidente do Conselho Nacional de Educação recusou fazer comentários sobre o atual calendário escolar e as propostas apresentadas, invocando o trabalho em curso. “Estamos a preparar um parecer, a ser lançado em Outubro ou Novembro, sobre o tempo escolar”, explicou David Justino. Nesse documento, o Conselho prevê abordar questões como os tempos de aulas, a organização escolar e o calendário que rege o ano letivo.
Fonte: sol
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