A Hungria vive um problema similar a uma faca
de dois bicos: Por um lado, o governo liderado por Viktor Orban resiste contra
a entrada imposta pela União europeia de mais migrantes e refugiados no país
oriundos das crise e conflitos gerados no norte de África e no Médio Oriente;
por outro, o país debate-se com falta de mão-de-obra.
O
governo estará entretanto a analisar uma proposta para contratar profissionais
estrangeiros para colmatar as carências da indústria local, mas ao mesmo tempo
não parece inclinado a aceitar o potencial reforço de mão-de-obra que poderiam
ser os migrantes e refugiados a integrar ao abrigo da partilha por quotas
proposto pela União Europeia.
A
correspondente da euronews na
Hungria, Andrea Hajagos, tentou obter esclarecimentos junto do Ministro da Economia e do porta-voz do governo. Sem êxito.
Péter
Lakatos, presidente executivo (CEO)
da fabricante de componentes eletrónicos Videoton Holding sublinha que “em
muitas partes do país, a mão-de-obra está em falta”. “Não apenas em profissões
específicas como soldadores, operadores de máquinas, cozinheiros ou empregados
de mesa. Também falta mão-de-obra semiqualificada para as linhas de produção.
Eles podem aprender aqui, mas até esses é difícil de encontrar”, lamenta este
empresário.
Perante
a falta de salários atrativos para outros cidadãos europeus e uma língua
difícil de aprender que também se revela um obstáculo, a integração dos 1294
migrantes e refugiados propostos pela UE poderia ser uma solução, mas… a dois
de outubro vai realizar-se um referendo na Hungria, um país que à imagem de
Portugal terá à volta de 10 milhões de habitantes.
A
pergunta colocada será: “Aceita que a União Europeia possa impor a integração
pela Hungria de cidadãos não-húngaros sem o consentimento do parlamento?” A
expectativa do “não” vencer coloca um problema de falta de solidariedade ao
plano de quotas aprovado em Bruxelas — com votos contra da Hungria, da
República Checa e da Roménia — e servirá para Orban advogar a independência do
país.
A
socióloga Ágnes Hárs diz que a eventual abertura à contratação de estrangeiros
“é parte de um problema muito mais complexo”. “Se a abertura a estrangeiros
permitir aligeirar um pouco a política anti-imigração, já será um sucesso, mas não
penso que isso venha a ter o sucesso económico desejado”, anteviu.
A
Hungria faz parte da UE desde 2004. Um levantamento feito a partir de 2008
indica que pelo menos 400 mil húngaros terão deixado o país nos últimos anos à
procura de uma vida melhor noutros países com melhores condições económicas.
Ao
todo, nos últimos 35 anos, terão sido 850 mil húngaros que emigraram. Ao que se
soma uma quebra na natalidade, o natural envelhecimento da população e uma
progressiva falta de mão-de-obra num país onde o salário mínimo ronda os 350
euros mensais e a remuneração média andará entre os 500 e os 600 euros.
Andrea
Hajagos conclui a reportagem com uma pergunta pertinente: “Mesmo que, no final,
venham estrangeiros trabalhar para a Hungria, a dúvida mantém-se: quantas
pessoas aceitarão vir face aos baixos salários e às políticas anti-imigrantes
do governo húngaro?”
Fonte:
euronews
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