Isabel Moreira – Expresso, opinião
Não é possível um “debate” ideológico sobre a simplicidade desta conclusão. Não estamos a falar de modelos de economia, de visões acerca do papel do Estado na área y ou x. Estamos numa novela cujo efeito possível é sancionar Portugal. No momento em que escrevo, ainda não sei do final da novela, mas isso é irrelevante para o que me parece ser de sublinhar.
Havendo uma só leitura no que toca aos efeitos de qualquer tipo de sanção sobre os portugueses, seria normal, por consequência, haver um único discurso sobre este momento que estamos a atravessar.
Não só seria normal, como seria o espectável do ponto de vista moral e ético. Repito: a eventual aplicação de sanções aos portugueses só tem uma leitura possível. Não há como encontrar um partido político a defender a bondade das sanções, por exemplo, para o desenvolvimento económico para o país.
Esta evidência faria esperar que as nossas circunstâncias fizessem subir os padrões morais dos líderes dos partidos à direita, no sentido de surgir claro nas portuguesas e nos portugueses uma questão mobilizadora, porque de uma evidência atroz, de uma só leitura, do domínio do político, mas também do domínio do psicológico.
Sim, também do domínio do psicológico, o que em nada contraria o domínio da política, antes o complementa, esse domínio que também salta à evidência, quando pensamos num povo que foi alvo direto da política de austeridade, política em contínuo, por mais que demonstrasse não surtir outra coisa que não afunilamento. Esse povo, composto de mulheres e homens concretos, vê quem ditou e dita essa política a ameaça-los com punições porque o governo anterior não cumpriu por décimas o limite do défice, donde castigo, donde mais sacrifício? Isto não deveria causar um sobressalto cívico?
Quando homens e mulheres a quem tudo foi pedido em nome de uma política europeia única ouvem de ministros de negócios estrangeiros de outros países e de instâncias europeias que Portugal deveria continuar “as políticas anteriores” sabem que está a ser-lhes dito, basicamente, que não têm o direito de usar o seu voto para mudar de política interna. Isto não deveria causar um sobressalto cívico?
Penso que o sobressalto existe, apesar de não ter expressão em manifestações de união espontânea ou em fenómenos do tipo.
Infelizmente, aquilo que sei que existe é a tentativa de impedir esta perceção simples por parte dos portugueses e das portuguesas: a aplicação de eventuais sanções aos portugueses é uma péssima decisão com péssimas consequências para Portugal.
É o que se vê por parte da direita portuguesa desde o início da novela das sanções. Desde Maria Luís a afirmar que se fosse ministra não haveria sanções a Cristas a afirmar que António Costa acordou tarde para o problema e que não se esforçou o suficiente para “convencer” o Ecofin.
Estes partidos que foram o governo que não cumpriu a meta exigida para não se abrir o procedimento de sanções fizeram de tudo para atrapalhar o esfoço do primeiro-ministro enquanto, ao longo de cada semana, produziam pérolas na comunicação social, como a exigência em alta voz da divulgação da carta que António Costa escreveu para defender Portugal (não fosse o PM um malandro) para ficarem desarmados quando a leram.
Desarmados, mas não calados. Continuam. Continuam, porque não interessa a um Passos Coelho já sem rumo nem a uma Assunção Cristas no desespero de ainda não ter encontrado um rumo ceder por uns dias ao interesse nacional, ceder perante a única atitude ética e moral possível neste momento: contribuir para a verdade indesmentível que devia ecoar com o esforço de todos, essa que nos devia dizer a uma só voz que a aplicação de sanções a Portugal é injusta, desigual, imoral e com consequências evidentemente negativas.
Quando a política consegue fazer isto, contribui para o tal sentir coletivo politico e psicológico perante um facto opressivo.
Terrivelmente, na questão das sanções, temos mais um exemplo de como a direita se encaminha para vestes de uma direita popular, pronta para esmagar o interesse nacional se ao voto isso for conveniente, presa ao seu passado recente de política única e pronta para estar pronta.
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