Leo Daniele (*)
Quem não ouviu falar da famosíssima
experiência de Pavlov?
Coloca-se açúcar diante de um cão
imobilizado. Ele salivará. A seguir, associa-se a apresentação do açúcar ao som
de uma buzina, e repete-se a operação várias vezes. O cachorro continua a
salivar normalmente.
Em uma terceira fase, toca-se a buzina,
mas não se apresenta o açúcar. O cão saliva, porque se estabeleceu uma
associação entre o som da buzina e a apresentação do açúcar.
É o que o cientista russo, os meios
científicos e culturais chamam, de reflexo condicionado.
Se se continuar tocando a buzina, de vez
em quando, mas sem apresentar o açúcar, o que acontecerá? A salivação irá
diminuindo, e começará a se manifestar uma inibição das funções reflexas, que
irá se estender a todo o organismo e engendrar um estado de sonolência.
A mesma inibição das funções reflexas,
que assim se obteve pela repetição, pode-se conseguir quando o excitante for
particularmente intenso. Por exemplo, a aparição súbita de uma serpente pode
inibir as reações de fuga de um pássaro.
Algo de semelhante acontece com o homem
pós-moderno? acocorado dentro de seu “bunker”(1) de indiferença, já não capta
com grande clareza a realidade externa. Culposamente, diante de uma situação em
que ele normalmente reagiria, pode acontecer que se limite a bocejar ou a
lançar um vago lamento.
Por exemplo, o Brasil está sendo
penetrado por um batalhão de 4 mil médicos cubanos e apesar das dimensões do
lance, quase ninguém protesta! Ou o faz por causa de um pequeno aspecto
secundário!
O homem de hoje, pela TV, pela internet,
e outros meios de comunicação, está sendo submetido a uma espécie de
experiência de Pavlov. Uma verdadeira sarabanda. Em várias ocasiões, Plinio
Corrêa de Oliveira mostrou os efeitos deletérios de certa mídia, do próprio
acontecer moderno e pós-moderno sobre os nervos dos indivíduos:
“O que faz esta sarabanda informativa?
Interessa? Atrai? Orienta? A meu ver, o mais das vezes causa acabrunhamento,
superexcitação, e por fim tédio. Sim, o tédio dentro da superexcitação; eis o
estado de espírito que a pletora informativa cria em muitos e muitos de nossos
contemporâneos [...] Em suma, todos sabem de tudo, não entendem nada, alguns
ficam com os nervos a tinir, e quase todos, à falta de melhor, bocejam”.(2)
“Acontecimentos que em outras épocas
teriam ferido profundamente a sensibilidade do público, despertando reações
clamorosas, hoje não inquietam a quase ninguém e não geram nenhum conflito
sério. Mesmo quando transgridem princípios e convicções, e até quando
contrariam — supremo mal em nossos dias — consideráveis interesses individuais
ou de grupo”.(3)
O ilustre autor constata:
“A opinião pública está desnorteada e
cambaleante, com toda a zoeira do caos contemporâneo. E isto a leva a
alternativas de sobreexcitação e de letargia”.(4)
Vem-se falando — e com justíssimo motivo
— dos efeitos nocivos da televisão sobre a psique dos meninos. Pouco ou nada se
escreveu sobre as deformações que a própria vida moderna pode provocar sobre um
adulto que viva num grande centro e se entregue ao frenesi próprio de nossa
época. Muitos dos elementos que prejudicam a vida mental e emotiva das crianças
teledependentes podem ser encontrados nesse frenesi, ao qual ainda se somam as
ansiedades, as preocupações e as torções muitas vezes presentes no quotidiano
de quem precisa ganhar a vida.
Tudo isto pode conduzir à indiferença. E
como o indiferente se defende, para não deixar a indiferença! Nisto ele não tem
nenhum relaxamento, e defende o estado de torpor valentemente. Como se
estivesse dentro de um bunker! E a principal arma de defesa é a frase: “O que
tenho a ver com isso?”
Observa Plinio Corrêa de Oliveira:
“Durante o dia, em cada minuto, pensa em si e em seus problemas, uma vez ou
outra lê um jornal e comenta um acontecimento, pensando que com ele próprio não
é assim, graças a Deus. Dobra o jornal e acabou-se. Esta indiferença associa a
pessoa à categoria dos indiferentes”.
Se precisar ensinar a alguém como
escapar desse bunker, para ser breve eu diria: adote como lema três palavras:
Ver – julgar – agir. Ver com inteira objectividade, sem optimismo nem pessimismo.
Julgar sem paixão e com justiça. Agir sem omissão, mas também sem um ardor
descalibrado e impaciente: são esses os três tempos da Sabedoria, e da
anti-indiferença.
__________
Notas:
1. Termo utilizado em sentido figurado.
Em sentido próprio, bunker é uma instalação fortificada fechada, com teto
arredondado, à prova dos projéteis inimigos.
2. “Folha de S. Paulo”, 23 de maio de
1971.
3. TFP-Covadonga, España Anestesiada sin
Percibirlo, Amordazada sin Quererlo, Extraviada sin Saberlo - La Obra del PSOE.
Ed. Fernando III El Santo, 1988, p. 21.
4. “Folha de S. Paulo”, 25 de abril de
1971.
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(*) Leo Daniele é colaborador da Agência
Boa Imprensa (ABIM)
Postado por Paulo
Roberto Camp
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