A Espanha continua politicamente à deriva. A Câmara de Deputados encontra-se de tal modo fragmentada, que há oito meses tenta sem sucesso articular uma maioria para eleger o chefe de governo. Os parlamentares têm fracassado na escolha do primeiro-ministro do país, desde o Partido Popular (PP), de centro-direita, passando pelo PSOE, socialista, até os novos partidos como “Ciudadanos” e “Podemos”.
Um problema delicado consiste em que tal fragmentação política parece estar contagiando os diferentes setores da sociedade e acostumando-os com um governo acéfalo quase permanente. Por sua vez, o Rei da Espanha — que, entre suas atribuições, detém o poder de convocar os líderes políticos para formar o governo — tem fracassado em suas tentativas. É o caso de ressaltar que, perdendo assim a sua razão de ser, o monarca está ficando perigosamente à margem dos acontecimentos.
Vai tomando conta da população um sentimento de irritação, impotência, frustração, cansaço e desinteresse pela coisa pública. Até quando poderá se prolongar essa situação em uma nação da importância da Espanha, para a qual continuam olhando os países latino-americanos?
Estará a Espanha se transformando em uma espécie de “laboratório experimental” para a América Latina? Baseados em teorias sociológicas do caos, alguns dizem que a Espanha estaria passando por um momento de mudança de paradigmas sociais e políticos, e levantam hipóteses no sentido de que esse caos poderá fazer germinar novas formas de governo e de sociedade.
Nesse sentido, o filósofo chileno Fernando Flores, ex-ministro de Allende, entrevistado pelo jornalista Héctor Aguilar Camin, faz uma interessante lista dos “estados de ânimo” suscitados pelas crises profundas: estados de ânimo “conjunturais”, referentes às mudanças sociais; estados de ânimo“fundacionais” de novos tempos políticos ou econômicos; estados de ânimo “crepusculares” de crises e desarticulações de países e regiões inteiras; e, por fim, os estados de ânimo “sazonais”, aludindo às profundas mudanças de paradigmas que dariam lugar a novas “civilizações”.
Na realidade, o receio é de que os operadores sociais neo-revolucionários possam forjar de algum modo tais estados de ânimo a partir dos bastidores, para empurrar Espanha e a América Latina rumo a aventuras políticas, sociais e morais perigosas.
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(*) Fonte: Notas de “Destaque Internacional”. Documento de trabalho, em 23 de setembro de 2016. Este texto interativo, traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode ser divulgado livremente.
Fonte: ABIM
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