Académico
e consultor Minoru Ueda faz uma análise sobre o cenário de adulação
no ambiente corporativo.
O
estudioso La Fontaine já dizia que “todo bajulador vive à custa
de quem lhe dá ouvidos". A clássica piada “Bonita camisa,
Fernandinho” arranca risos de toda equipe quando o assunto é
aquele camarada que está sempre paparicando alguém influente. A
palavra bajulação está ligada a um termo um pouco mais chulo:
bajulador é o famoso “puxa-saco”, aquela figura que sempre é
objeto de piadas de mau gosto.
O
“puxa-saco” tem uma vida muito árdua. Além de estar sempre
alerta para fazer um paparico, ainda precisa se esquivar das
piadinhas ardidas de seus companheiros. Bom, de definições o
inferno está cheio! Por isto, não quero definir o que é um
bajulador. Ao contrário, analisarei perfis e darei dicas para o
gestor lidar com a situação.
A
pergunta que não quer calar: seríamos todos nós imunes à
bajulação? Acho que não. Quem não gosta de um paparico? Somos
cerebralmente programados para aceitar um elogio, não importa de
onde ele venha. A questão é compreender como a bajulação corrompe
o profissionalismo. Aqui está o objectivo do texto.
Meritocracia
e gestão por competência
O
bajulador acaba muitas vezes sendo acusado de ser manipulador,
circula facilmente pelas situações, pois parece ter as “costas
quentes”. Em princípio, considera-se o bajulador como inimigo.
“Será que fulano X pode ‘fazer a cabeça’ da chefia?”
Temos
dois sentimentos gerados pela bajulação: hostilidade e receio.
Contudo, quando o gestor tem um filtro ancorado no autoconhecimento e
na gestão por competências, ele é capaz de analisar cenas
delicadas e sair delas “no sapatinho”.
Chama-se
“meritocracia” o fenómeno de reconhecimento que um gestor dirige
a seus colaboradores pela realização de um trabalho calcado na
excelência. Frase muito grande para dizer uma coisa simples:
bem-aventurados os que atingem sucesso por mérito próprio.
A
quinta competência emocional “Habilidades Sociais” (ética,
política e sustentabilidade) é uma ferramenta para evitar o desvio
profissional. Quem almeja méritos não precisa bajular; quem bajula
muito não sabe quais méritos quer ter.
Papel
do gestor: como detectar méritos e afastar “paparicos”?
A
empatia é uma das competências emocionais que auxilia na construção
de relações. O gestor empático entende, antes de qualquer coisa,
que o bajulador é alguém necessitado de autoconhecimento e o
autocontrole.
A
geração Y é conhecida como geração da transparência, da
velocidade e do desenvolvimento. Ela está sempre em busca de
feedback. Isto já é um passo em direcção ao CBP = “Controle de
Bajulação Potencial”.
Se
as duas moedas da geração Y são Desenvolvimento e Feedback,
entende-se que sustentar e desenvolver relações é respeitar o
outro. O desenvolvimento só ocorre pelo feedback respeitoso. Quando
o gestor direcciona sua equipe e entende cada pessoa em suas
particularidades, ele passa a ter empatia e demonstra a virtude de se
auto -conhecer.
Gentileza
X Agrados para atingir alvos?
A
gentileza é uma acção natural. Surge quando podemos ajudar outra
pessoa sem esperar nada em troca. A gentileza nasce quando a situação
é tão instantânea que não é possível pensar em troca de
favores. É uma acção que nos permite suprir as necessidades dos
outros com um gesto ético.
Ser
gentil não é ser bajulador. Uma pessoa gentil tem um semancómetro
bem ajustado, e o que sua mão direita faz, a esquerda não fica
sabendo. Devemos desenvolver a capacidade de perceber quando estamos
sendo exagerados em gestos de gentileza. Promover um churrasco de
aniversário para um superior que acabou de entrar na empresa pode
“queimar o filme”, antes mesmo de assar o churrasco.
O
gestor na frente do espelho
Por
que nos deixamos ser paparicados? Como anda nosso autoconhecimento?
Temos o livre arbítrio para aceitar ou não uma bajulação? Quando
um não quer, dois não brigam. Quem aceita bajulação não pode
reclamar das consequências.
Essa
liberdade para escolher deve ser pautada pelas habilidades sociais.
Não devemos esquecer a moral da fábula de La Fontaine. Estaríamos
disponíveis a pagar os preços da ambiguidade gerada pela bajulação
em nossa vida profissional?
Conclusão
A
primeira competência emocional, autoconhecimento, é a espinha
dorsal para lidar com bajulação. Eis o desafio que deixo ao leitor:
como direccionar a pessoa que passou o sinal vermelho e gerou uma
situação de “puxa-saquismo”?
Uma
dica: o direccionando deve ser sempre uma abordagem ética. Um modelo
de feedback deve ser desenvolvido para que o “bajulador” em
potencial perceba que pode “manchar” sua carreira.
Por
fim, a gentileza é um produto de empatia. É o resultado de uma
acção pró-activa. Ela surge quando notamos que alguém precisa de
ajuda. Gentileza é entrega, é humanização das relações.
Fonte: Portal HSM
Minoru Ueda (Professor-convidado da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP), docente e consultor pelo SENAC e co-autor no livro "Ser Mais Líder", Editora SerMais, 2010. Site:
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