Um jornalista italiano alega que a escritora Elena Ferrante, um dos mais recentes fenómenos da literatura contemporânea, é, na realidade, a tradutora italiana Anita Raja, de 63 anos. Elena Ferrante é a autora-mistério da tetralogia recomendada por Marcelo Rebelo de Sousa para melhorar o “enriquecimento cultural” da classe política.
Claudio Gatti, repórter do Il Sole 24 Ore, passou vários meses a investigar declarações de impostos e registos de pagamentos e tirou conclusões através da comparação da evolução dos rendimentos daEdizioni e/o, editora de Ferrante com a qual Anita Raja colabora, com os da família da tradutora ao longo dos últimos anos.
“Meses depois de uma longa investigação é possível construir um caso sólido sobre a verdadeira identidade de Ferrante. Longe de ser a filha de uma costureira de Nápoles descrita em Escombros, as novas revelações do seu património e registos financeiros apontam para Anita Raja, uma tradutora que vive em Roma, cuja mãe, nascida na Alemanha, fugiu ao Holocausto e mais tarde casou com um magistrado napolitano”, lê-se na edição de domingo da New York Review of Books.
De acordo com o porta-voz da editora, Anita Raja é uma tradutora em regime de freelancer e não é uma empregada da casa. No entanto, segundo descobriu o jornalista, os pagamentos que a editora lhe tem feito aumentaram “dramaticamente” nos últimos anos.
A revelação está a provocar uma grande polémica, já que desde a publicação, em 1992, do seu primeiro livro, Elena Ferrante faz questão de se manter anónima.
A autora da tetralogia que inicia com “A Amiga Genial” nunca fez aparições públicas e as suas raras entrevistas são sempre por e-mail, mediadas pelos seus representantes. No meio literário questiona-se até se se trata de uma mulher, ou de uma única pessoa.
Sandro Ferri, o editor da escritora e um dos poucos a conhecer a sua identidade, afirmou-se chocado com a tentativa de identificar alguém que escolheu viver no anonimato e que tem como único compromisso a literatura. “Achamos que este tipo de jornalismo é repugnante”, disse ao jornal britânico The Guardian.
“Pesquisar na carteira de um autor que decidiu não ser ‘público’”, diz o conhecido editor de Ferrante, que não desmentiu a notícia sobre a identidade da escritora.
O artigo, no entanto, sustenta-se no argumento de que os leitores têm o direito de saber quem é Ferrante.
Em 2014 e 2015, Elena Ferrante tornou-se um sucesso comercial em todo o mundo – incluindo em Portugal – com a tradução da tetralogia que começa com “A Amiga Genial”. Além deste livro, a conhecida saga de Ferrante é composta por “História do Novo Nome”, “História de Quem Vai e de Quem Fica” e “História da Menina Perdida”, todos publicados em Portugal pela Relógio D’Água.
No início de setembro, aproveitando a visita à Feira do Livro no Porto, o Presidente da República recomendou a leitura da tetralogia de Elena Ferrante quer ao primeiro-ministro, António Costa, como ao líder da oposição, Pedro Passos Coelho.
Marcelo Rebelo de Sousa, que afirmou estar a ler o terceiro volume da obra, explicou que este tipo de leitura poderia melhorar o “enriquecimento cultural” da classe política.
“Primeiro, porque não tem que ver diretamente com a política. Depois, porque dá um retrato da evolução de uma relação entre duas amigas, mas no fundo de uma geração ao longo de décadas. Faz a história da Itália do pós-guerra até ao presente e eu penso que os políticos ganham em não lerem só política”, explicou.
AF, ZAP
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