quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Acham mesmo que Paulo Macedo é competente?

É DE LER...
Pedro Tadeu

Paulo Macedo recebe geralmente elogios por ser uma pessoa competente. A generalidade dos opinadores concretiza essa apreciação com dois exemplos: o trabalho como diretor-geral dos impostos e, posteriormente, a gestão da pasta da Saúde como ministro de Passos Coelho.
Quem sou eu para duvidar de tão doutos pareceres?... Ninguém.
Não sendo capaz, portanto, de negar a capacidade de Paulo Macedo em atingir resultados não consigo esquecer, porém, os caminhos que o levaram a ter, desse ponto de vista numérico, sucesso.
O comando de Paulo Macedo nos Impostos criou um sistema em que o contribuinte sob suspeita tem, muitas vezes, de provar a sua inocência, mesmo se o fisco não o conseguir. Esta inversão de ónus da prova - que na justiça tem sido, até agora, inaceitável - é dramática para quem não tem recursos para pagar a fiscalistas e advogados. O contribuinte com poucos rendimentos ou sem capacidade para compreender a informação opaca enviada pelas repartições de Finanças fica sem meios de defesa, abdica e acaba por pagar multas e coimas, mesmo se o fisco não tiver razão. O rico, mesmo se estiver em falta, protela, litiga e, no mínimo, negoceia um acordo mais barato.
Paulo Macedo tornou a cobrança fiscal mais eficaz, é verdade, mas também mais injusta - e o exemplo e o sistema lançados por ele acabaram por abrir caminho para os seus herdeiros no posto, frequentemente, decidirem executar penhoras de casas de gente pobre com dívidas de apenas algumas centenas de euros e a colocarem funcionários do Estado a cobrar dívidas de empresas privadas!
Na Saúde esta competência tornou mais difícil o acesso a inúmeros tratamentos no serviço público que antes se faziam com facilidade, deixou que se degradassem gravemente muitas assistências hospitalares e chegou ao ponto de ser confrontado, na Assembleia da República, por um doente com hepatite C que lhe gritou, olhos nos olhos e frente às câmaras de televisão, "senhor ministro, não me deixe morrer!"... E só assim resolveu, em 24 horas, o problema, que arrastou seis meses, da comparticipação de um novo medicamento curativo daquela doença. Nesse período perdeu-se, pelo menos, uma vida.
Paulo Macedo será muito competente a obter resultados mensuráveis e demonstrou ter capacidade política para amortecer resistências corporativas às mudanças mas, por este historial que, repito, não consigo esquecer, parece ser uma pessoa incompetente em incorporar nos objetivos da sua folha Excel as dificuldades reais das pessoas comuns.
É esta incompetência que, agora, vai gerir a Caixa Geral de Depósitos, um banco público que deveria ter como prioridade ajudar as pessoas comuns... Tem tudo para correr mal.

Fonte:DN/Opinião

Enviado por António Alves Ribeiro

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