terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

DISCUTIR SOBRE UM MURO QUE JÁ EXISTE: A OPERATION GATEKEEPER



Muito se tem falado e criticado a decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, em insistir construir um muro na fronteira entre os EUA e o México – e bem, na minha opinião enquanto humanista e respeitador das liberdades individuais desde que sempre respeitadoras do outro –; é um direito, como governante, que lhe assiste e que, Trump, sempre disse em campanha eleitoral que o faria!

Todavia, parece que nos esquecemos que já existe uma parcela significativa de um muro entre estes dois países, iniciada na administração George Bush, nos anos 80, e impulsionada e implementada, em 1994,na administração Bill Clinton, com o programa anti-imigração-ilegal ‘Operation Gatekeeper‘ (Operação Guardião) e continuado pelas administrações subsequentes, havendo já secções de muros nas fronteiras entre Tijuana (Baja Califórnia) e San Diego (Califórnia) e nos estados de Arizona, Novo México e Texas, numa extensão de cerca de 33% da fronteira entre os dois países.

O mundo e os seus outros muros

Mas esquecemos de outros muros – físicos ou políticos – que também existem entre outros países, como por exemplo, um recentemente falado, entre o próprio critico México e Guatemala (ainda que haja muitas vozes mexicanas – até porque a foto usada para o provar é a da que separa Tijuana de San Diego – afirmarem que é um bulo” (mentira) enquanto imprensa guatemalteca sente alguma preocupação nessa construção; na dúvida fica o registo).


de Israel com a Cisjordânia (Palestina) e entre Israel e Faixa de Gaza (Palestina);

entre Ceuta e Melilla (Espanha) e Marrocos;

entre as duas Coreias, no paralelo 38, que separa familiares;

o “muro de Evros” que separa a Grécia e a Turquia;

dentro de Creta, mais concretamente o muro que divide a capital Nicósia, desde 1974, separando a parte grega e “oficial” da parte turca;

em perspectiva a construção de uma muralha entre a Ucrânia e a Rússia;

entre a Hungria e a Sérvia e entre esta e a Croácia, ambas pelas mesmas razões – fluxo exponencial de imigração proveniente dos países sul mediterrânicos e do Médio Oriente;

entre a Índia e o Paquistão e entre a Índia e o Bangladesh;

a cerca divisória entre a República da Geórgia e a separatista Ossétia do Sul, criada pelos russos;

na Irlanda do Norte (Reino Unido) um muro que divide as comunidades Católicas e Protestantes, onde ainda hoje existem cerca de 99 barreiras em Belfast, e outros muros na cidade de Derry;

no Saara Ocidental, desde 1987, que separa as forças marroquinas dos separatistas da auto-denominada República Árabe Saauri Democrática;

Mas as mais importantes são as criadas pela e dentro da União Europeia. Não esqueçamos as que, recentemente foram criadas por vários estados-membros, entre si, dentro de países da União Europeia (e em arame farpado) para conter o já citado fluxo migratório proveniente dos países sul mediterrânicos e do Médio Oriente; ou o mais antigo “muro”, este mais político que físico, criado sob a União Europeia, no início desta década, na orla marítima meridional, contra o fluxo de emigrantes e reconhecido pela muralha da “Fortaleza Europeia”, como já previamente a identificado Uçarer, em 2007.

E não esqueçamos que já na antiguidade, a História apresenta-nos vário muros ou muralhas criadas para suster investidas de povos invasores: a Muralha da China, a Muralhas de Adriano e de Antonino e a Muralha Romana de Lugo (construídas durante o Império Romano), a Muralha de Constantinopla (Império Bizantino), a Muralha de Óbidos (construída pelos mouros no século VIII), a Muralha ou Cerca Fernandina de Lisboa (criada por D. Fernando).

Ora, talvez seja, então, altura de parar um pouco para pensar e olharmos para nós mesmos e como podemos criticar terceiros sem criticar o que se passa, em muitos casos, intra-muros!

Escrito por Eugénio Costa Almeida – Publicado em "Changing Word" do CEI-IUL)

*Investigador e Pós-Doutorando. 

**Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Foto: US-Mexico border fence. Photo by / CC BY-SA 2.0


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