Enquanto o ano de 2017 mal começa, o Brasil assiste a uma onda de criminalidade que lembra cenas de filmes de terror, tamanha a crueldade e a selvageria cometidas nas ruas, nos presídios, e até mesmo no recinto familiar.
Nesse último, onde outrora reinava a tranquilidade, a segurança e o bem-estar, com o desfazimento da família vêm se produzindo desequilíbrios alarmantes, cujo exemplo recente mais chocante foi a chacina ocorrida no final de 2016 em Campinas, que ceifou a vida de várias pessoas de uma família, inclusive da esposa e do filho do autor, que depois pôs fim à sua.
Se medidas drásticas não forem tomadas, e, sobretudo, se Deus não intervier contra esta brutal investida, impossível não vislumbrar o caos social.
Entre tais medidas estaria, de um lado, fazer cessar por vias legais todos os programas televisivos atentatórios à família e cujo desfecho próximo ou remoto é o crime em suas diversas modalidades, e de outro, impedir a legalização das drogas, como sendo requerido até por conhecidas figuras nacionais. A Holanda, que as legalizou, está voltando atrás, tais foram os estragos irreparáveis causados pela legalização.
Quanto à mídia — televisiva, falada ou escrita — coloca-se a questão: a liberdade de imprensa, para ser verdadeira e legítima, não pode jamais prejudicar o bem comum, cuja defesa incumbe ao Estado. A propósito da liberdade ilimitada, exercida por uns poucos em detrimento do conjunto do País, convém repetir o que a propósito da Revolução Francesa exclamou Madame Roland: “Liberdade, liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!”.
Foi devido a essa liberdade irrestrita e mal compreendida, cujo porta-voz incessante é a política dos Direitos Humanos, mediante a qual gangues de presidiários do crime organizado vêm disseminando o terror em disputa pelo poder dentro e fora das prisões; policiais fazem greves, enquanto outros são agredidos e mortos nas ruas; que se tornou possível a grande desordem ocorrida em Vitória–ES [foto ao lado], com pilhagens, roubos, execuções e conflitos sangrentos que causam pânico na população ordeira, pacífica e desarmada.
Com efeito, como estamos longe da paz verdadeira, definida por Santo Agostinho como a tranquilidade da ordem! Entendida como a paz de Cristo no Reino de Cristo, essa ordem não está para ser inventada, porquanto ela existiu e está registrada na História, quando a sociedade destilou e colocou em prática os princípios do Evangelho formando a civilização cristã no período medieval.
Após a época medieval, num declinar ininterrupto, esta mesma civilização foi sendo destruída pelos seus inimigos. Começando pelo tão propalado Renascimento, que substituiu a sociedade teocêntrica pela antropocêntrica, passando pela Revolução Protestante, quando foram lançados o espírito de dúvida e o liberalismo religioso, desfechou mais tarde no assim chamado Século das Luzes, ao mobilizar a razão para combater a verdadeira fé; sobrevindo depois a Revolução Francesa com a sua doutrina igualitária e laicista, até desfechar no comunismo.
Como esse processo não deve ser visto como uma sequência fortuita de causas e efeitos, que se foram sucedendo de modo inesperado, pois já em seu início continha as energias necessárias para reduzir a atos todas as suas potencialidades, como afirma Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução, ele continua fazendo o seu caminho rumo ao abismo da anarquia.
Com efeito, uma vez desencadeadas as más paixões, o homem passa a ter sede de absurdo e de pecado, e assim, de abismo em abismo, ele segue inexoravelmente a rota da bola de neve ou da pedra que rola do cimo de uma montanha até o vale mais profundo, incapaz de se lembrar da casa paterna onde imperavam a harmonia e a paz. Afinal, são poucos os que hoje se lembram da civilização cristã.
Por que não procurar reviver aquilo que fazia o homem feliz neste vale de lágrimas? Bons tempos foram aqueles proclamados pelo Papa Leão XIII: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava as nações”. Havia harmonia entre as classes sociais, pois todos obedeciam à Lei de Deus, conditio sine qua non para reinar a verdadeira paz que é a tranquilidade da ordem.
Fala-se tanto de paz… Aí está a ONU, supostamente a guardiã da paz mundial, mas do que valem seus esforços? De nada. Absolutamente nada. Há, a respeito dela, até um conceito com ares de verossimilhança, que se enuncia mais ou menos assim: “ONU = organismo com o qual ou sem o qual o mundo continua tal e qual”. Afinal, seus meios são alheios, quando não diametralmente opostos à Lei de Deus e à sua divina sabedoria.
Portanto, este grande desejo de paz vem-se demonstrando inalcançável como a linha do horizonte, sempre equidistante e nunca atingida pela embarcação em alto mar. Bem considerada a questão, isto não constitui surpresa, visto que a busca de solução tem sido feita por meios tortuosos, quando não cúmplices. As discussões costumam girar em torno das desigualdades, da pobreza, do desemprego, da educação, da saúde.
Mas faz-se, propositadamente, tábula rasa a respeito daquilo que importa realmente, as questões morais, como se estas não embasassem fortemente os conceitos e a licitude estabelecida nas leis. Não esqueçamos que a Santa Igreja é a guardiã da moral, consubstanciada nos dez mandamentos da Lei de Deus.
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Podemos facilmente constatar que numa família de prole numerosa, mas carente de recursos, via de regra os filhos atingem a maioridade vencendo as dificuldades da vida com honra e dignidade, para a alegria dos pais e edificação da sociedade em que vivem e servem, constituindo exceção o fato de um deles se tornar infrator ou criminoso contumaz.
Ora, a imensa maioria dos brasileiros mostra-se estarrecida com os feitos monstruosos perpetrados pelas chacinas ocorridas nos presídios, mas muitos se mostram indolentes em relação às crianças trucidadas no ventre materno nas clínicas de aborto, bem como em relação a idosos que possam vir a ser objeto da eutanásia — casos que revelam evidente violação da Lei natural.
Cabe ainda salientar que, à força de se conhecer pelo noticiário esses e outros acontecimentos, estes vão se tornando banais, o que mais facilmente inclina as pessoas à barbárie. O que se depreende da narrativa do noticiário sobre as tragédias é que a opinião pública acaba por se habituar às notícias, não reagindo nem tomando posição, baseada em princípios, diante dos fatos. Com tal estado de espírito, o martelar das notícias torna as pessoas insensíveis.
A noção de bem e mal, conatural às pessoas, vai se evanescendo. Encontramo-nos à mercê de um mundo dominado pela insensibilidade, pelo egoísmo, pela indiferença, pela ausência crescente de Deus nos corações. O verdadeiro conceito de família como instituição divina vai assim desaparecendo de nossas mentalidades e considerações e, com ele o bem-estar, o equilíbrio e a harmonia.
Resta-nos buscar na oração as forças necessárias para enfrentar esta luta com certeza e esperança de melhores dias. A doutrina de Jesus Cristo é uma luz que nos guia até a vitória profetizada em Fátima, há um século, pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria. A Mãe de Deus, embaixadora celeste, disse em 1917 que a Rússia espalharia seus erros pelo mundo. Pediu oração, penitência, mudança de vida e a devoção dos cinco primeiros sábados.
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