segunda-feira, 1 de maio de 2017

“JOGAR” COM A VIDA DOS OUTROS. DESPOLETAR O SUICIDO NOS JOVENS É CRIME?


BALEIA AZUL, O “JOGO” SUICIDÁRIO AO ALCANÇE DOS INTERNAUTAS

Devem ser os especialistas a pronunciar-se se o convite ao suicídio de modo tão elaborado como o jogo a que chamam Baleia Azul é crime e se os responsáveis pela sua existência na Internet estão ou não a cometer uma ilegalidade grave que conduz a que jovens mais volúveis e inexperientes sobre contrariedades e a importância da vida se suicidem. Certo é que o jogo – se àquilo se pode chamar jogo – tem conduzido imensos jovens ao suicídio. O jogo, só por si, enquadra-se no desrespeito pela integridade física dos que nele participam e desprezo pelas suas vidas, trabalhando-os psicologicamente, por etapas, a que se automutilem e culminem suicidando-se. Se a gravidade da existência dos métodos e de instigadores do referido jogo que leva jovens a suicidar-se não tem enquadramento criminal devia de ter. Compete aos estados, aos legisladores, preservarem a vida dos jovens que caem em tal jogo sem que as suas capacidades mentais e psicológicas, entre outras, estejam devidamente desenvolvidas para rejeitarem serem participantes em tal absurdo.

A seguir, se continuar a ler, entenderá muito melhor o que é isso do “Baleia Azul” e como “génios” da desgraça da humanidade se divertem e lucram contribuindo para alterar mentes jovens ou frágeis comportamentalmente. Hoje conhece-se que os convidam a automutilarem-se e, no auge, a suicidarem-se. Lá virá o dia em que complementarão  o “jogo” com outros "derivados", como, por exemplo, o assassinato dos pais, dos irmãos, de amigos… De tudo aquilo em que resulte “trabalhar” as mentes mais voluveis. Legislação para combater tudo isso é urgente.

CT | PG

O que é, afinal, o jogo suicidário Baleia Azul?

A participação no jogo Baleia Azul pode conduzir ao suicídio de adolescentes que se encontram vulneráveis.

Em que consiste o jogo?

O jogo Baleia Azul – ou Siniy Kit, como é conhecido em russo ou Blue Whale, em inglês – é composto por um total de 50 desafios diários, e que deve, portanto, ser completado no final de 50 dias. Cada desafio é enviado diariamente por um “curador” ou “administrador” que pede provas (como fotografias ou vídeo) de que o desafio foi cumprido na íntegra pelos jogadores que são, por norma, adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. Uma das premissas do jogo é que se deve jogar até ao fim, sem desistências e sem contar a ninguém. Este jogo acaba por ser, na realidade, um incentivo ao suicídio, já que grande parte dos desafios envolve automutilação e o último desafio é “Tira a tua própria vida”.

O nome “Baleia Azul” vem de um dos desafios – em que é pedido ao jogador que se mutile e desenhe uma baleia azul no braço – com base na crença de que as baleias azuis (os animais) dão à costa voluntariamente com o intuito de perderem a vida. 

Que desafios são estes?

Apesar de alguns desafios serem simples ou até inócuos, a maior parte dos desafios está relacionada com a automutilação. O primeiro desafio é “Com uma navalha, escreve ‘F57’ na mão e envia uma fotografia para o curador”. Um dos desafios mais simples pede que seja partilhado nas páginas da rede social russa VKontakte (VK) a hashtag “#i_am_whale”; outro pede que se passe o dia sem falar com ninguém e, noutra, é sugerido que encontre alguém que também esteja a participar no jogo. Já vários outros desafios pedem que a pessoa se mutile repetidamente ou que suba a telhados ou pontes para se sentar na borda e, por fim, que tire a própria vida. Confira, em baixo, alguns dos desafios:

2. Vê filmes de terror ou psicadélicos às 04h20 da manhã. Têm de ser filmes indicados pelo curador que depois vai fazer perguntas para confirmar que viste mesmo.
14. Corta o teu lábio.
15. Fura a tua mão com uma agulha muitas vezes.
25. Reunião com uma baleia azul que o curador te vai indicar.
26. O curador vai indicar a data da tua morte e vais aceitar.
27. Acorda às 04h20 e vai a um caminho-de-ferro.
50. Tira a tua própria vida.

Como se joga?

O Baleia Azul é jogado sobretudo na famosa rede social russa VKontakte; noutros países, o fenómeno tem-se propagado por outras redes sociais. Alguns adolescentes são “identificados” pelos curadores através do uso de determinadas hashtags ou por fazerem parte de certos grupos nas redes sociais (como grupos sobre depressão ou suicídio). Depois de serem contactados por esse “administrador” ou por se voluntariarem a jogar, o jogador recebe um desafio diário que deve ser cumprido e registado.

Quem são os “curadores”?

Os "curadores" são as pessoas responsáveis por introduzirem os jogadores – a maior parte jovens – nos desafios Baleia Azul. Todos os dias enviam mensagens com o desafio do dia e asseguram-se, pedindo fotografias ou vídeos como prova, de que os desafios foram cumpridos. Os curadores dizem ter em sua posse todas as informações do jogador, como o local de residência e quem são os seus familiares, informações essas que são usadas como ameaça no caso de o jogador querer desistir.

Em Novembro do ano passado, Filipp Budeikin, de 21 anos, foi detido por suspeitas de ser um destes curadores e incentivar o suicídio entre os jovens. Ainda está a aguardar julgamento.

Como surgiu o fenómeno?

Este fenómeno começou em 2016 e presume-se que tenha começado na Rússia, através da rede social mais utilizada no país, VKontakte. A Rússia é um dos países com a taxa mais elevada de suicídios entre a população jovem.

Há registo de vítimas?

De acordo com uma notícia publicada no jornal russo Novaia Gazeta, este jogo pode ter causado 130 suicídios na Rússia entre Novembro de 2015 e Abril de 2016. Ainda assim, muitos suicídios não têm qualquer relação comprovada entre a morte auto-induzida e o facto de terem aceitado fazer parte do jogo Baleia Azul. Mesmo que os dois fenómenos estejam directamente relacionados, importa referir que os casos de suicídio podem ter partido de pessoas que se encontravam fragilizadas ou já tinham a ideia de se suicidarem em mente, tendo o jogo funcionado como um contributo ou um estímulo.

Mais recentemente, na Colômbia, a polícia terá detectado que uns 3200 jovens com perfil no Facebook terão participado no jogo. No Brasil foram noticiadas dezenas de suicídios cometidos por adolescentes com ligações à participação no jogo Baleia Azul.

Já há casos registados em Portugal?

Sim. Uma jovem no Algarve atirou-se de um viaduto em Albufeira, na sequência da sua participação no jogo Baleia Azul. A jovem ficou ferida mas não morreu. A PSP confirmou ter tido conhecimento de outros dois casos, e garante que está a “monitorizar” o fenómeno, “tendo em conta as recentes notícias da adesão de crianças e jovens” ao jogo.
Também em Espanha uma menor deu entrada nas urgências de um hospital em Barcelona. Numa mensagem publicada no Twitter, as autoridades espanholas admitem ter conhecimento de casos, “ainda que isolados” de jovens que praticaram actos relacionados com o jogo.

O que fazer para detectar e evitar estes casos?

Alguns dos desafios propostos no jogo podem ter resultados visíveis e detectáveis. Os golpes feitos por navalhas ou lâminas nos braços e nas mãos, assim como um corte com a palavra “sim” na coxa direita são alguns destes exemplos. Também a saída de casa por volta das 04h20 da manhã ou a publicação nas redes sociais da hashtag “#i_am_whale” podem indiciar que a pessoa se encontra dentro do jogo suicidário.

Segundo recomendações da PSP, os pais são aconselhados a “manterem-se informados relativamente ao jogo e a alertar crianças e jovens para as suas implicações”, bem como a aumentarem a supervisão das actividades dos filhos na Internet e nas redes sociais. “Importa ainda que os pais alertem as crianças sobre os riscos de adicionar desconhecidos e recomendem que apenas a família, amigos e pessoas da escola façam parte da lista de amizades nas redes sociais”, acrescenta a PSP.

Há ainda alguns sinais de alerta gerais, indicados pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), de que alguém possa estar a pensar cometer suicídio: comentários acerca da morte ou suicídio, a preparação de documentos, o oferecimento de objectos pessoais de valor sentimental elevado ou a escrita de cartas a amigos ou familiares. “O nível de energia é também um factor importante a ter em conta”, lê-se no site da SPS, já que é na fase de remissão da depressão que o risco de suicídio aumenta. Há ainda outros sinais de risco exteriores como a sensação de desesperança, ansiedade intensa, autodesprezo, apatia, tristeza intensa, comportamento impulsivo e mudanças rápidas de humor”.

A quem posso pedir ajuda?

A Sociedade Portuguesa de Suicidologia recomenda que a pessoa que esteja a contemplar o suicídio seja sempre ouvida e acompanhada. Existem ainda várias linhas de ajuda e apoio sobre o suicídio em Portugal e na Europa:

SOS – Serviço Nacional de Socorro: 112

SOS Voz Amiga (entre as 16 e as 24h00):
21 354 45 45
91 280 26 69
96 352 46 60

SOS Telefone Amigo: 239 72 10 10
Telefone da Amizade: 22 832 35 35
Escutar - Voz de Apoio – Gaia: 22 550 60 70
SOS Estudante (20h00 à 1h00): 808 200 204

Cláudia Carvalho Silva | Público

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