Antes de começarem a ler a este Macroscópio deixo um aviso: contém spoilers. É sobre o primeiro episódio da sétima temporada de Game of Thrones – como eu já tinha avisado – e, por isso, quem não quiser saber como recomeçou a série mais popular do momento (por não o ter visto ainda) pode passar adiante e guardar esta newsletter para mais tarde. A todos os demais digo apenas que os fãs – e eles são cada vez mais, pois foram de novo batidos todos os recordes de audiência e a transmissão sem streaming deitou mesmo a internet abaixo – não experimentaram a desilusão.
Mas passemos directamente à acção, até porque este episódio de arranque da penúltima temporada da saga criada por George RR Martin teve a virtude colocar as diferentes as diferentes peças num xadrez complexo mas onde o jogo se começa a fechar. Miguel Santos Carrapatoso fez disso uma boa síntese no Observador, em As cinco perguntas que marcam o regresso de Game of Thrones. E que são as seguintes:
- Arya Stark: A grande vendetta consuma-se. E agora?
- Cersei e Jaime: O que farão os Lannister?
- Euron Greyjoy: Que presente trará a Cersei?
- Jon Snow: Até quando te aguentas, rapaz?
- Daenerys Targaryen: Quando começa a derradeira luta pelo trono?
Para cada uma destas questões fica uma hipótese de resposta, sendo que depois de explicar o simbolismo da chegada de Daenerys à Pedra do Dragão, a casa que no passado foi dos Targaryen, e de sublinhar o simbolismo da derradeira cena, quando a Mãe dos Dragões percorre com os dedos uma mesa com o mapa de Westeros e pergunta apenas “Podemos começar?”, se faça a seguinte previsão: “O presumível e aguardado embate entre as duas rainhas, Daenerys e Cersei, será um dos momentos altos da temporada, pelo que é pouco provável que aconteça nos próximos episódios. Até lá, veremos alianças a serem forjadas e estratégias a serem delineadas.”
Daenerys Targaryen, Arya Stark, Cersei Lannister, Sansa Stark, ainda a ausente (neste episódio) Yara Greyjoy. Game of Thrones é cada vez mais uma história onde as mulheres ocupam um lugar central, como justamente se nota no Guardian, em Game of Thrones season seven premiere review – winter is here, and it's a wonder, “As the landmark series nears the end, it is increasingly dominated by strong female characters (...). It makes sense. As Jon Snow argued, announcing that women will now become warriors: “We cannot defend the North if only half the population is fighting.”
Mais: “This 61st episode held all the virtues that have made the series so feted. George RR Martin’s novels offer a one-stop shop for myth and legend – Greek drama, Shakespeare, CS Lewis and JRR Tolkien are all there somewhere – but the TV version merges ancient narratives with the newest digital imagery, imposing plausible cities, castles and towers on the stunning natural settings (...). And, while it contains traditional elements of escapist entertainment – dragons, dungeons, dwarves and monsters – the story reflects the darkness and divisions of the real world.” Ou seja continuamos na linha o que eu próprio defendi quando expliquei, em “Guerra dos Tronos” é muito mais do que uma série. É já um clássico moderno, porque sou um fã desta série.
O New York Times, em Welcome to Dragonstone, também fez uma crítica entusiástica, colocando uma questão perturbante sobre o rumo de personagens que antes víamos como heroínas e que, como mais do que uma vez sucedeu ao longo da saga, podem transformar-se em vilãs: “Tell them winter came for House Frey,” Arya instructed one of the women she spared. It’s a first-rate catchphrase for a ruthless assassin, but it doesn’t make me feel any better about her soul. We’re reminded that the Stark girls have suffered plenty of trauma, from witnessing their father’s execution through multiple rounds of physical and emotional abuse. As they grow into ever more powerful women, will they resist or lean into the dark forces and experiences that have shaped them?” De novo as imensas contradições próprias da natureza humana, os volte-face que tantas vezes nos marcam para o melhor ou para o pior e que George RR Martin gosta de explorar.
O que me leva um pouco atrás, ao único texto desta selecção que não é sobre este episódio, antes sobre até que ponto GoT nos ensina História. Trata-se de uma crónica de Kate Maltby no Financial Times, The ‘Game of Thrones’ version of history, que no fundo se interroga sobre a verdade por trás do medievalismo desta saga, interrogando-se sobre “how authentic are its Middle Ages?” Esta passagem é bem interessante: “One thing is clear from the popularity of the GRR Martin school of history. However dark our climate, we are still comforted by the thought that the past was worse. Game of Thrones feeds us an old tale of progress; mass rape and feudal murder may be titillating, but lie safely in a mythic past. Or as Monty Python might put it: we don’t have dragons, but at least we’re not all covered in s**t.”
Regressando às reacções em Portugal, uma nota para o trabalho de Joana Amaral Cardoso no Público, A Guerra dos Tronos bate todos os recordes e faz planos para o futuro, que notou que “além da exposição e disposição de peças no tabuleiro de xadrez, Dragonstone veio com novas variações de temas de A Guerra dos Tronos, defendem os críticos que, nas últimas 24 horas, têm feito uma avaliação sobretudo positiva deste episódio da maior série da actualidade”, e para a crónica de João Miguel Salvador no Expresso, Vimos “A Guerra dos Tronos” como se fosse cinema, onde se considera que o pior momento deste episódio é aquele que conta com a participação do músico Ed Sheeran: “A entrada do cantor pop em cena apenas valeu pelo crescimento da série nas redes sociais. A estreia da sétima temporada foi o episódio com maior atividade no Twitter de sempre – foram publicados 2,4 milhões de tweets durante a exibição do capítulo inaugural – e houve um momento que captou a atenção dos internautas. Sozinha, a aparição de Ed Sheeran representou 7% de todos os tweets escritos a propósito de “A Guerra dos Tronos” durante a estreia mundial.”
Antes de terminar, mais três referências:
- Game of Thrones Gears Up for the Wars Still to Come, onde se relatam as reacções dos redactores da revista americana The Atlantic, das quais destaco esta passagem: “Much of the hour similarly revolved around young people taking on responsibilities that would be left to their elders were their elders not already decomposing. Winterfell in particular felt like the meet-up place for a very un-fun youth group. After he proclaimed that both boys and girls as young as 10 would have to battle, Jon enlisted the loyalties of two moppets who find themselves head of household alongside child-ruler Lyanna Mormont. In this, we see the starkest manifestation of George R.R. Martin’s interest in how innocence isn’t the sacred status we might want it to be. In Thrones but also often in our own world, the wars to come must be fought by a generation orphaned by the wars that came before.”
- Winter is here... and so is Ed Sheeran, umas das várias peças de revisão deste capítulo do The Telegraph, onde se considera, num texto por pontos, que “Sam’s stint at the Citadel might be our new favourite storyline” ou que “life as King in the North isn’t as straightforward as Jon expected”.
- Game of Thrones returns with more of a whimper than a bang, de Nick Hilton na Spectator, onde se nota que “Putting aside Arya’s Lucrezia Borgia act (which is really just a continuation of her Titus Andronicus moment from the end of the previous season) ‘Dragonstone’ is lacking in the series’s signature sex and violence. It will come, no doubt, but with so much still to resolve in just two abbreviated seasons, I wish they’d get on with it. We’ve waited a long time to see Lannisters immolated by dragons; only a show as sure-footed as Game of Thrones would dare make us wait longer.”
Para a semana há mais, mas não espero que Game of Thronesregresse ao Macroscópio antes do final desta temporada. Mas nunca se sabe – em Westeros, onde toda a acção se passa agora, nunca se sabe mesmo como será o dia seguinte. Até lá, tenham bom descanso, boas leituras e, se estiverem de férias, gozem-nas o melhor possível.
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