O deputado Hugo Soares foi esta quarta-feira eleito líder do grupo parlamentar do PSD, com 85,4% de votos favoráveis, tendo obtido 12 votos brancos e um nulo. Quem é e como aqui chegou?
De acordo com informação oficial da bancada do PSD, votaram os 89 deputados do grupo: 76 votaram sim, 12 em branco e um votou nulo. Hugo Soares, que era candidato único, sucede na liderança da bancada social-democrata a Luís Montenegro, que já não se podia recandidatar por ter atingido o limite de três mandatos.
A JUVENTUDE CHEGA À LIDERANÇA
Recorde o artigo da VISÃO da semana passada (edição 1271, de 13 de julho de 2017), que lhe conta quem é e como aqui chegou o sexto deputado mais jovem do PSD
No primeiro dia como deputado, em junho de 2011, Hugo Soares sentiu um misto de sensações: o peso da função, mas também o orgulho de estar a cumprir o percurso que idealizara. Então com 28 anos, só tinha estado na Assembleia da República (AR) uma única vez e apenas como visitante, numa viagem organizada pelo PSD de Braga, cidade de onde é natural. Era um novo desafio, num novo local de trabalho, numa nova cidade. Tudo era novidade para ele. E tão diferente, que acabou por se perder no labiríntico edifício de São Bento. Só ao fim de algum tempo a deambular pelos corredores é que conseguiu encontrar a saída.
Agora, seis anos depois deste episódio, já conhece os cantos à casa e está perfeitamente ambientado na dinâmica parlamentar. Rapidamente conquistou a confiança e o respeito dos seus pares.
Licenciado em Direito, sabe o que está por detrás de cada decisão; como vice-presidente da bancada social-democrata, já sentiu o peso de estar na primeira fila do hemiciclo; autor de algumas propostas polémicas, sabe o que é ter de lidar com a exposição mediática. O jovem bracarense, que outrora se tinha perdido nos corredores da AR, prepara-se para liderar o maior grupo parlamentar. Aos 34 anos – menos quatro dos que tinha Montenegro quando assumiu o cargo que agora deixa –, poderá estar prestes a tornar-se o mais jovem líder de uma bancada parlamentar. Pode ter aprendido depressa, mas o surgimento da sua candidatura não foi pacífico.
OS CANDIDATOS QUE NÃO O FORAM
Hugo Soares é, neste momento, o único candidato ao cargo. Mas foram vários os nomes que se perfilaram para a sucessão a Luís Montenegro. Na imprensa, os nomes de António Leitão Amaro e Hugo Soares surgiram de imediato como os mais fortes entre as fileiras jovens do partido. Marco António Costa e Luís Marques Guedes também chegaram a ser apontados como possíveis candidatos. Mas, destes, apenas Hugo Soares avançou e não se prevê que
venha a ter adversários na corrida.
Contactado pela VISÃO, Marco
António Costa assegurou que “enquanto vice-presidente do partido” não tinha “interesse em liderar a bancada parlamentar”. O deputado do PSD admitiu que, nas hostes sociais-democratas, houve quem lhe tivesse manifestado apoio caso decidisse avançar, mas o próprio garante que tal hipótese nunca passou pelos seus objetivos: “Há quatro ou cinco meses, quando me falaram da liderança da bancada, disse logo que estava indisponível.”
O deputado do Porto nega, assim, os rumores de que estaria a ponderar uma candidatura. Nos bastidores da eleição, comenta-se que a sua relação com
Passos Coelho já teve melhores dias, não sendo certo que esta fosse a primeira escolha do líder do PSD. Além disso, também não era líquido que tivesse o apoio da maioria da bancada, o que inviabilizaria a sua eleição. Terão sido estas variáveis que levaram o deputado a não se lançar formalmente na corrida.
Outro dos nomes em cima da mesa, nesta roda de putativos candidatos, foi o de Luís Marques Guedes. Caso avançasse, o deputado, ex-ministro da Presidência, regressaria ao cargo que foi seu em 2005, quando Marques Mendes era o líder do partido. Foi sob a liderança de Marques Guedes que a bancada do PSD enfrentou o primeiro governo socialista com maioria absoluta – o de José Sócrates. Deixou o lugar em 2007, com a chegada de Luís Filipe Menezes à chefia do partido.
Para muitos, esta experiência era vista como uma grande mais-valia. Até porque é tido como uma “pessoa ponderada” que, apesar de “não ter grande criatividade, é cumpridor”, segundo fonte social-democrata. Mas Marques Guedes decidiu não avançar, deixando o caminho livre para outras candidaturas.
DA JSD À LIDERANÇA DA BANCADA
Casado e pai de dois filhos, Hugo Soares desdobra-se em esforços para conseguir dividir o tempo entre Lisboa e Braga, onde vive a família. Durante a semana está na capital e aos fins de semana vai a casa. Este exercício começou a tornar-se mais complexo quando, em dezembro de 2012, se tornou presidente da JSD, cargo que o obrigava a andar por todo o País.
Foi precisamente neste período que apresentou uma proposta que o colocou sob as luzes da ribalta – propôs que a adoção e a coadoção por parte de casais homossexuais fossem referendadas (ver caixa). A iniciativa foi travada pelo Tribunal Constitucional, mas o caminho iniciado por Hugo Soares não. O seu nome deixara de ser desconhecido.
Foi também por esta altura que Luís Montenegro o convidou para a direção do grupo parlamentar. Era um deputado em quem o líder parlamentar confiava e a vice-presidência da bancada, com apenas um ano de experiência no palácio de São Bento, era prova disso.
Hugo Soares foi fazendo o seu caminho e ganhando a confiança da direção do grupo parlamentar. No início da presente legislatura, começou a substituir Montenegro na conferência de líderes, por exemplo assumindo-se como primeiro vice-presidente da bancada do PSD. Apesar disso, a idade continua a ser um fator que levanta reservas a alguns deputados.
A IDADE CONTA?
Para Marco António Costa, os 34 anos de Hugo Soares não são um problema. “Há um conjunto de jovens quadros com muita qualidade no partido, sobretudo no Parlamento”, diz à VISÃO, garantindo que “o Hugo é um deles”. No entender do deputado, num partido como o PSD, não se pode “estar sempre a defender a renovação e depois dizer que são demasiado jovens para determinado cargo”.
Leitão Amaro, que tem apenas mais três anos que Hugo Soares, concorda. “Uma política de cabelos brancos não seria o reflexo da sociedade portuguesa.
É preciso distinguir a experiência da idade. E o Hugo Soares tem seis anos de Parlamento e alguma experiência na direção do grupo parlamentar.” Acredita que o jovem deputado vai estar à altura do cargo, mas não deixa de lançar o aviso: “É um desafio grande. Não só pelo cargo em si mas também pelo legado que Luís Montenegro deixa.” Quanto a si, e sem se querer pronunciar sobre eventuais pressões para avançar, garante que não considerou a candidatura.
Desvalorizando o debate, Hugo
Soares diz que este “é um problema que o tempo resolve”. E acrescenta: “A idade aqui não pesa.”
B. I. DE HUGO SOARES
- Nasceu a 2 de Março de 1983
- Licenciado em Direito, É advogado
- Foi eleito deputado em 2011, pelo círculo de Braga.
Um ano depois, tornava-se
vice-presidente do grupo parlamentar do PSD
- Foi líder da JSD
entre 2012 e 2014
CAUSAS
Adoção e coadoção
por casais gay - Em 2013, já depois de o Parlamento ter aprovado, na generalidade, a coadoção por parte de casais homossexuais, Hugo Soares propôs
a realização de um referendo sobre
a adoção e a coadoção por duas pessoas do mesmo sexo.
O diploma foi aprovado com os votos do PSD e a abstenção do CDS-PP, mas o referendo não chegou a realizar-se, por ter sido considerado inconstitucional pelo TC.
Comissão de Inquérito à CGD - Na atual legislatura, foi nomeado coordenador do grupo parlamentar do PSD na Comissão de Inquérito ao banco público. Foi da sua boca que saiu a acusação de os partidos de esquerda estarem a “boicotar a democracia” ao não permitirem que as mensagens trocadas entre Mário Centeno e António Domingues fossem reveladas.
Vice-presidência
da bancada - Ao longo da legislatura,
o líder parlamentar do PSD,
Luís Montenegro, incumbiu Hugo Soares de o substituir, nas suas ausências.
Fonte: Visão, Edição de 20.07.2017 às 10h13
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