Em ano da crise da Dívida Pública, marcado pela desvalorização do metical em mais de 100% e com inflação superior a 20% o preço da cerveja manteve-se quase inalterado, embora as matérias-primas sejam importadas. Além disso os lucros da empresa Cervejas de Moçambique(CDM), onde o Estado e o partido Frelimo são accionistas, cresceram 18%.
O ano de 2016 foi mau para a generalidade das empresas que operam em Moçambique, a suspensão da ajuda internacional em Abril precipitou a desvalorização do metical em relação às principais divisas e a inflação disparou. Os custos dos serviços locais aumentaram assim como os das matérias-primas, particularmente para as empresas que as importam. Mais do que prejuízos os empresários têm lutado para não falir no nosso país.
Porém, apesar de toda essa conjuntura, e mesmo sem aumentar significativamente o preço dos seus produtos as CDM registaram um exercício financeiro “robusto”, pelo terceiro ano consecutivo.
“O volume total de vendas da empresa cresceu 12% em relação ao ano anterior, alimentado pela cerveja que cresceu 15%. A receita de vendas foi 17% superior ao ano anterior, impulsionada pelo forte crescimento de volume acoplado à uma estratégia de preços que ajudou a elevar o lucro líquido 18%, apesar do aumento significativo no custo de produção devido ao impacto da desvalorização cambial do Metical sobre materiais importados e serviços”, pode-se ler no Relatório e Contas de 2016 da cervejeira moçambicana.
O lucro bruto cifrou-se em 6,1 biliões de meticais, contra 5,1 biliões em 2015, o lucro antes de impostos ascendeu aos 2,9 biliões de meticais, contra 2,5 biliões do ano anterior, e o lucro operacional foi de 3,2 biliões, contra 2,8 biliões do exercício anterior, ficando o lucro final em 2,065,902,021 meticais.
É obra! O @Verdade perguntou às CDM qual o segredo para manter a empresa a dar lucros mas, passada uma semana, a empresa não respondeu.
Matérias-primas aumentaram de 1,8 para 3,7 biliões de meticais mas deu para beber 5 cervejas a 100 meticais
O facto é que para a produção de cerveja são importados pelos menos três matérias-primas essenciais (a cevada, o açúcar e as garrafas) que cujo custo foi severamente afectado pela desvalorização do metical, como aliás a empresa reconhece no seu Relatório e Contas.
“Importação de maquinaria, matérias-primas, produto acabado e equipamento apartir da Brewex (Pty), SAB Beer e MUBEX. O valor incorrido nestas transacções foi de MT 3,765,616,455 (2015: MT 1,853,548,899)”, pode-se ler no documento financeiro que revela que o segredo dos resultados positivos neste 20º ano de operação das CDM deveu-se, em parte, ao “desempenho positivo das vendas de cerveja impulsionado pelo crescimento excepcional da Impala, o crescimento sustentado da 2M, o relançamento com êxito das latas de 330ml, a recuperação de Laurentina Preta e o investimento nos nossos clientes”.
O Relatório e Contas acrescenta que o “volume de vendas total de bebidas alcoólicas cresceu 12% face ao ano anterior, marcado pelo forte crescimento de cerveja (Lager) e uma alteração no desempenho de Chibuku. Os resultados de cerveja Lager e opaca permitiram compensar os resultados do nosso portfólio de vinhos e bebidas espirituosas, que sofreu a pressão da oferta delinquente de álcool informal e barato. O desempenho de Lager (cerveja e FABs) mostrou um crescimento de dois dígitos pelo segundo ano consecutivo (2014/2015)”.
É no entanto importante recordar que o preço da cerveja não só não aumentou significativamente como ainda baixou para algumas marcar pois as Cervejas de Moçambique oficializaram as promoções de 3 cervejas a 100 meticais, inicialmente lançadas no mercado informal, e criaram chance dos seus consumidores receberam 10 meticais por cada vasilhame de 330ml ou 550ml devolvida o que gerou a possibilidade de se consumir 5 cervejas a 100 meticais.
Segundo o documento que estamos a citar bebeu-se mais álcool no Sul de Moçambique, onde as vendas cresceram 19%, enquanto nas regiões Norte e Centro o volume de vendas aumentou em média 10%.
Graças a estes lucros os accionistas das Cervejas de Moçambique - empresa cotada na Bolsa de Valores e detida em 79,18% pela SABMiller Africa BV; 10,48% pelos trabalhadores; 2,46% pelo Instituto Nacional de Segurança Social; 1,32% pela Moçambique Investimentos Lda; 4,78% pela holding do partido Frelimo(SPI SARL); e 1,78% pelo Estado moçambicano - deverão receber dividendo de 13.57 meticais por acção para o ano financeiro que terminou a 31 de Março de 2016.
Importa recordar que a condução sob o efeito de bebidas alcoólicas tem sido uma das principais causas dos acidentes de viação que em Moçambique causam a morte de uma média de cinco pessoas todos os dias.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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