quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Belmiro de Azevedo (1938-2017). Fazer-lhe justiça

P
 
 
Enquanto Dormia
 
David Dinis, Director
 
Ora viva. 
Irá perdoar-me, mas hoje esta newsletter será um pouco diferente. 

Ontem morreu Belmiro de Azevedo, provavelmente o maior empresário português, fundador do PÚBLICO. E permita-me que lhe diga que a notícia nos apanhou de surpresa, deixando-nos tristes - que é, eu sei, a antítese do que estado de espírito com que se deve fazer jornalismo. Mas esta é a nossa casa, a casa que também é dele.
Como explico no Editorial de hoje, Mas é tempo de fazer-lhe justiça, como lhe tento explicar no Editorial de hoje. Pelo que o Manuel Carvalho pegou nas notas que tinha guardadas, usou a memória que tem, e pôs-se a escrever o obituário - longo e denso, desafiador e desassombrado, como era seu dever, como é seu timbre. Chamou-lhe assim: "O homem que viveu a fazer até ao fim".
Mas Belmiro tinha muitas facetas, múltiplas dimensões. E foi preciso desdobrar a nossa equipa - a actual e a que também nos deixou um legado: a Rosa Soares olhou para o legado empresarial que ele deixou no império Sonae; o Vicente Jorge Silvarecordou os dias da fundação deste jornal; o Nuno Pacheco para os muitos anos que se seguiram.
De fora, chegaram-nos depoimentos exclusivos, entre as recordações e homenagens, entre os admiradores e os amigos. Do Presidente Marcelo aos ex-Presidentes Jorge Sampaio ("uma capacidade excepcional") e Cavaco Silva ("homenagem a um grande empresário"), passando pelo Presidente da Assembleia, Ferro Rodrigues ("aberto ao mundo"), também por Pinto Balsemão ("Nem sempre ganhou, mas nunca desistiu"). Também de Rui Vilar e Artur Santos Silva.
Vieram homenagens também dos nossos cronistas, que nos orgulhamos de serem tão livres como nós - e tão honrados como nós de pertencerem a uma marca livre, ela também. Do elogio do Rui Tavares ao que lhe deve o João Miguel Tavares, passando pelo adeus do Miguel Esteves Cardoso.
Por aqui, recordámos o "Pacto" do fundador com este jornal, tão actual hoje como era em 1990. Fizemos um podcast especial, onde conversámos sobre a importância que ele teve para esta marca, apesar das tensões, incompreensões e algumas desilusões que vivemos de parte a parte - o preço de um jornal livre, que o empresário soube tão bem respeitar. Refizémos a sua cronologia, lembrámos 15 frases de Belmiro, recuperámos uma das entrevistas que lhe fizemos, sem perguntas combinadas, sem qualquer constrangimento (de um lado e do outro). Recolhemos depoimentos e reabrimos o álbum, o das fotografias que ficarão para sempre. Na nossa história, na história do país.
A imprensa, muito para lá do PÚBLICO, também lhe deixou o seu In Memorium - na verdade muito mais do que um. Do José Manuel Fernandes, agora no Observador, ao Nicolau Santos, há muito no Expresso (mas os dois meus antecessores nesta casa) - num caso lembrando as guerras contra os políticos, noutro falando do "melhor empresário de sempre". Passando pelo "homens das nuvens", como o vê o Pedro Santos Guerreiro, assim como pelo António Costa, director do ECO, que lembra "o homem que ganhou mesmo quando perdeu".
No texto de que lhe falei há pouco, o Manuel Carvalho faz a síntese na hora do adeus: "Belmiro Mendes de Azevedo morreu nesta quarta-feira no Porto aos 79 anos de idade. O seu legado concreto mede-se facilmente no universo empresarial que criou. O seu exemplo como gestor permanece alvo de devoções. Mas a voz dura do empresário inconformado, exigente e rebelde parece ter-se perdido." Se ainda não leu, é entrar por aqui

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Agenda do dia

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Hoje também ficamos a saber mais sobre o país que temos: o INE publica dados sobre rendimento e condições de vida, assim como as contas nacionais relativas ao terceiro trimestre.
Da Europa também virão dados económicos, sobre a evolução do desemprego. Num dia em que a agenda internacional será dominada pelo encontro entre Merkel e Schulz, tentando um acordo para formar Governo na Alemanha. E pela visita de Aung San Suu Kyi à China, o seu maior aliado depois da crise dos Rohingya.
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