Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt20 de dezembro de 2017 às 23:00 |
As eleições são a pedra basilar da democracia representativa. Reflectem as escolhas de uma sociedade e o caminho que a maioria considera ser o mais acertado, mas também deixa espaço para que as minorias possam fazer ouvir a sua voz. O acto eleitoral que esta quinta-feira se realiza na Catalunha enquadra-se nesta visão do mundo político mas não irá trazer a tranquilidade à região. Antes pelo contrário.
Por uma simples razão:
– As sondagens disponíveis revelam que os soberanistas deverão vencer por uma margem mínima, mas a corrida está tão apertada que até é admissível um cenário inverso. A vitória (seja de quem for) nunca será retumbante e a derrota não retirará legitimidade aos princípios defendidos por qualquer uma das forças políticas.
Ou seja, as eleições, em vez de clarificarem uma situação de claro antagonismo, irão servir para pintar com cores mais carregadas o cenário de uma sociedade profundamente dividida, sobretudo desde 27 de Outubro deste ano, dia em que o parlamento regional catalão aprovou a declaração de independência, obrigando o senado espanhol a ratificar a aplicação do artigo 155º da Constituição e suspendendo assim a autonomia da região.
Uma realidade constatada por Víctor Lapuente Giné, em entrevista ao Negócios. "Com esta polarização é muito complicado constituir governos de consensos. É preciso regressar ao terreno da normalidade, sem saídas dicotómicas", sublinha este professor de Ciência Política.
A Catalunha vai, assim, continuar num limbo, por incapacidade dos líderes políticos da região, sobretudo os independentistas, e do Governo espanhol. Ambos optaram por um cenário de ruptura e nenhuma da partes parece disposta a optar por um caminho de reconciliação, a única via para atenuar os elevados índices de crispação.
Este é um quadro onde se traça uma dupla derrota. Para a Catalunha, que irá perdendo pujança económica (um dos argumentos que os independentistas usaram para forçar a separação) e será olhada com desconfiança pela Europa, assim como para o Governo central, que estará sempre sobressaltado politicamente com a região e fragilizado em função disso mesmo.
Estas eleições vão expressar quantitativamente uma escolha, mas irão deixar os estados de alma perigosamente à solta. Também por isso, a Catalunha continuará num limbo.
Fonte: Jornal de Negócios
Nenhum comentário:
Postar um comentário