Os trabalhadores da Autoeuropa aprovaram na quarta-feira, nos plenários realizados, uma proposta para uma greve de dois dias, em 2 e 3 Fevereiro, disse o coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT), Fernando Gonçalves, hoje à Lusa.
"Durante os plenários, houve um trabalhador que apresentou uma proposta de greve. Em seis plenários houve um que votou contra e cinco votaram a favor", disse o coordenador da CT.
Segundo Fernando Gonçalves, durante os plenários foi também apresentado um caderno reivindicativo da CT, que será, posteriormente, apresentado à administração da Autoeuropa, mas que "ainda não é um documento fechado" porque vai ser submetido a discussão durante o mês de janeiro
"É um documento de 24 pontos que incluiu várias matérias, como prémios por objetivos, progressão nas carreiras, seguro de saúde, apoio escolar, bem como uma proposta de aumentos salariais de 6,5% em 2018", disse.
No que respeita ao diferendo sobre o novo horário imposto pela administração para vigorar de fevereiro a julho de 2018, e que inclui a obrigatoriedade do trabalho ao sábado, para cumprir o objetivo de produzir 240 mil veículos T-Roc na fábrica de Palmela em 2018, Fernando Gonçalves disse tratar-se de uma situação que não se verifica noutras fábricas do grupo alemão.
"Nos contactos que tive com outras fábricas do grupo Volkswagen], na Alemanha, na Argentina, no México, no Brasil, vi outros horários, outras formas de trabalhar, de segunda a sexta-feira, em que se fazem acordos para o trabalho ao sábado e ao domingo. E as pessoas são remuneradas nesses dias", disse Fernando Gonçalves, relembrando que, além das divergências sobre questões pecuniárias, os trabalhadores da Autoeuropa também não concordam com a obrigatoriedade de trabalharem ao sábado.
"Nos acordos de outras fábricas da Volkswagen, o que está previsto é que, quando é preciso trabalhar aos sábados, paga-se. Parece que aqui pretendem implementar um horário que sirva de exemplo para o resto do grupo, parece que temos de ser a cobaia para algo diferente. E nós não queremos", reforçou Fernando Gonçalves.
O coordenador da CT da Autoeuropa adiantou que a próxima reunião sobre o novo horário com a administração da Autoeuropa está prevista para o dia 05 de janeiro, mas lembrou que, na reunião da passada segunda-feira, a administração lhes transmitiu que não havia nada para negociar.
"Depois da reunião da passada sexta-feira com o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, o que ficou combinado foi que retomaríamos as negociações na segunda-feira, o que aconteceu. Mas quando chegámos a essa reunião, o que nos foi comunicado pela administração foi que não havia nada para decidir, que iam impor o horário anunciado", disse.
"Eles [a administração da Autoeuropa] assistiram a todos os plenários, perceberam bem qual foi o `feedback dos trabalhadores. É bom que reflitam sobre aquilo que se está a passar e é bom que tomem uma posição diferente da que estão a tomar agora", acrescentou Fernando Gonçalves, convicto de que há um “sentimento de revolta" dos trabalhadores, "devido a um acumular de situações ao longo dos últimos anos".
Depois da rejeição de dois pré-acordos sobre os novos horários negociados previamente com os representantes dos trabalhadores, a administração da Autoeuropa anunciou a imposição de um novo horário transitório, para vigorar no primeiro semestre de 2018, e a intenção de dialogar com a CT no que respeita ao horário de laboração contínua, que deverá ser implementado em agosto, depois do período de férias.
O novo horário transitório, que entra em vigor nos últimos dias do mês de janeiro, com 17 turnos semanais, prevê o pagamento dos sábados a 100%, equivalente ao pagamento como trabalho extraordinário, acrescidos de mais 25%, caso sejam cumpridos os objetivos de produção trimestrais.
No passado mês de julho, 74% dos trabalhadores da Autoeuropa rejeitaram um primeiro pré-acordo sobre os novos horários e fizeram um dia de greve (30 de agosto), a primeira por razões laborais na fábrica de automóveis de Palmela. Um segundo pré-acordo negociado com a nova Comissão de Trabalhadores liderada por Fernando Gonçalves também foi rejeitado pela maioria dos trabalhadores.
Lusa
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