sexta-feira, 16 de março de 2018

Agora que a crise supostamente acabou...

P
 
 
Ipsilon
 
 
  Vasco Câmara  
Este excerto da entrevista Teresa Villaverde que hoje publicamos:
"Agora que supostamente a crise acabou, para mim este filme é mais pertinente ainda. Assim como nos afundámos abruptamente, de repente, como grupo, ficámos outra vez felizes, com esperança. É muito estranho como uma coisa e outra foram tão rápidas. Quando fiz o filme não sabia que ia tudo melhorar de repente. Mas o facto de tudo ter começado a alterar-se tão rapidamente — e muitas pessoas não resolveram ainda os seus problemas, não arranjaram trabalho, houve tensões dentro das casas, divórcios, enfim, coisas que ainda vamos saber mais para a frente... [...] se calhar a crise profunda já vinha de antes".
Coloo novo filme da cineasta de 51 anos, chega, depois de As Mil e uma Noites(Miguel Gomes, 2015), São Jorge (Marco Martins, 2016) ou Fábrica de Nada (Pedro Pinho, 2017), como mais uma produção do Portugal da troika. Uma família, desemprego, falta de dinheiro, uma casa que parece expulsá-los... Podia considerar-se que o filme chega tarde, que fica sublinhado o “filme de época”. Como nos dizem que a crise já acabou, corre mesmo o risco de  passar a filme “fora de época”. MasColo sobrevive ao "filme da crise". Não menciona a palavra no genérico. Nem ela é articulada por qualquer plano — nenhum plano é “sobre”. Todos os planos se deixam conduzir por um assombro perante o que é inclassificável porque ainda está dentro de nós. Isto é palpável no filme de Villaverde: a crise não nos aconteceu, a crise pertence-nos.
(Nos intervalos da rodagem de Colo, o fotógrafo António Júlio Duarte foi observando os actores, as paisagens as coisas que fizeram o filme. Dessa experiência construiu Ensaio, livro, hoje apresentado na Cinemateca Portuguesa, que captura a condição intemporal da adolescência numa narrativa de impasses e fugas).
O Ípsilon dá-vos boa música: Sol de Março encerra magistralmente, segundo Mário Lopes, a trilogia que Medeiros/Lucas iniciaram com Mar Aberto: uma âncora no Mediterrâneo, mas horizontes ainda mais vastos. Mário Lopes, que ficou deslumbrado com o disco, lembra-nos que será apresentado no Teatro Ibérico, em Lisboa, dia 29 (21h30, 10€). "É para o ano inteiro e para os anos que vierem depois deste", escreve.
David Byrne, aos 65 anos, poderia cair na tentação de recriar o seu passado ou então, o que também é vulgar, tentar replicar os que entretanto o evocam como uma referência primordial. Mas nada disso, segundo Vítor Belanciano. Aos 65 anos é como se fosse a primeira vez, American Utopia.
Um texto de Mariana Duarte empurra-nos para o Teatro Experimental do Porto. Maioria Absoluta, até dia 24 no Teatro Campo Alegre, regressa aos noventas de Cavaco Silva, da luta contra as propinas, do teatro inflamado pela performance. Mas com a cabeça e o corpo implicados no presente. Isto impele-nos: "Este suor dos anos 90 cheira a 2018"
E isto também: "Um livro de contos que são como lições de um tratado de retórica: eles são obra de um espantoso engenho que exaspera e leva ao estado de Babel a linguagem literária". É António Guerreiro sobre Nova Arte de Conceitos, livro de estreia de Luís Miguel Rosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário