O jornal "Correio da Manhã" refere que a juíza concorda com o Ministério Público quando sustenta que o assessor jurídico dos encarnados agiu “a interesse da Benfica SAD”, o que poderá levar a que a sociedade seja constituída como arguida no processo.
O despacho da juíza de instrução criminal do processo “e-toupeira” validou a existência de fortes indícios de crime de corrupção envolvendo Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Sport Lisboa e Benfica, José Augusto Silva, funcionário do IGFEJ que se encontra em prisão preventiva, noticia o “Correio da Manhã”, na edição desta sexta-feira.
O jornal acrescenta que a juíza concorda com o Ministério Público quando sustenta que o assessor jurídico agiu “a interesse da Benfica SAD”, o que poderá levar a que a sociedade seja constituída como arguida no processo.
Acrescenta que o magistrado do Ministério Público que assina o despacho de indiciação refere a existência do perigo de perturbação do processo e, também, o risco de existência de um “pacto de silêncio”, porque se trata de “um meio fechado pelos interesses futebolísticos em causa”.
O funcionário do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) José Augusto Silva é suspeito de usar palavras-passe de colegas para entrar nos computadores e na plataforma do sistema de justiça Citius, acedendo, então, a processos que envolvem o Benfica.
Além dos processos envolvendo o Benfica, José Augusto Silva é suspeito de aceder a processos envolvendo o Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal.
A Procuradoria Geral da República (PGR) confirmou já que o inquérito “e-toupeira” está a investigar a utilização de credências informáticas da magistrada Ana Paula Vitorino, assessora da procuradora geral distrital de Lisboa, para aceder ao sistema Citius, para recolher informação relacionada com processos. Em causa está informação confidencial de investigações em curso, como o “caso dos emails”, que terá ido parar às mãos do assessor jurídico do Benfica e um dos cinco arguidos da “Operação e-toupeira”.
Processos fora do Citius
Para evitar fugas de informação relativas ao processo judicial conhecido por “caso dos emails”, este vai passar, agora, a ser tramitado fora do Citius, como noticiou o “Correio da Manhã” esta terça-feira.
Os magistrados terão jutificado a decisão pela dificuldade de identificar “toupeiras” que entram no sisitema informático da justiça portuguesa. Os constantes ataques informáticos também sustentam a decisão dos magistrados, segundo o jornal.
Na segunda-feira, 12 de março, à noite, o caso “e-toupeira”, subsequente ao “caso dos emails”, ganhou novos contornos depois de um blogue, denominado “Mercado de Benfica”, ter divulgado informação confidencial.
Além de José Augusto Silva, a Polícia Judiciária (PJ) suspeita, no entanto, da existência de, pelo menos, mais duas pessoas infiltradas no sistema de justiça que terão agido como “toupeiras”, no interesse do Sport Lisboa e Benfica, segundo informou o “Jornal de Notícias”.
Esta suspeita baseia-se no facto de uma auditoria feita IGFEJ ter detetado acessos ao inquérito do chamada “caso do emails” através da rede Citius não só a partir dos tribunais dos distritos de Braga, de onde são os dois oficiais de justiça constituídos arguidos, mas também de tribunais da zona centro do país.
O IGFEJ anunciou que tem cooperado com o Ministério Público e a Polícia Judiciária na investigação do caso “e-Toupeira”, desde outubro, e sublinhou que o acesso ao sistema informático Citius é restrito e limitado. O IGFEJ, responsável pelo sistema informático da justiça Citius, recorda que aplicou “um conjunto de medidas que permitem melhor identificar o acesso aos processos judiciais que se encontram em tribunal e que são tramitados através deste sistema”, nomeadamente, a “identificação de potenciais situações de utilização fraudulenta e de usurpação de identidade”.
Operação em cinco regiões diferentes
José Augusto Silva e Paulo Gonçalves foram detidos a 6 de março, no âmbito da “Operação e-toupeira”, que investiga suspeitas dos “crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, violação do segredo de justiça, favorecimento pessoal e falsidade informática”, segundo informou a Procuradoria-geral Distrital de Lisboa.
A operação foi desenvolvida através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) e no âmbito de um inquérito que corre termos no DIAP de Lisboa.
Foram cumpridos seis mandados de buscas domiciliárias, um “mandado de busca a gabinete de advogado” – no caso, Paulo Gonçalves – e 21 mandados de buscas não domiciliárias. A operação envolveu cerca de 50 elementos da PJ – incluindo inspetores e peritos informáticos –, um juiz de instrução criminal e dois procuradores-adjuntos do Ministério Público. Foram realizadas 30 buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa, “que levaram à apreensão de relevantes elementos probatórios”, refere.
As autoridades perseguem a comprovação de indícios da “prática de acessos por funcionários a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação sobre diligências em curso, informações que eram depois transmitidas a assessor da administração de uma sociedade anónima desportiva a troco de vantagens”, segundo a Procuradoria-geral Distrital de Lisboa.
José Augusto Silva ficou em prisão preventiva, indiciado pelos crimes de corrupção passiva, favorecimento pessoal, peculato, burla informática, falsidade informática, nove crimes de acesso ilegítimo e mais quatro crimes de violação de segredo de justiça, estes em coautoria com Paulo Gonçalves. O assessor jurídico do Benfica ficou em liberdade, mas proibido de contactar com os outros arguidos do processo.
Benfica reafirma confiança em Paulo Gonçalves
Apesar disto, os dirigentes do Sport Lisboa e Benfica voltaram a depositar a sua confiança no seu principal assessor jurídico. Em comunicado, a 9 de março, a direção do clube e o conselho de administração da SAD comunicaram “aos seus sócios, adeptos, parceiros e colaboradores” já ter reunido com o departamento jurídico, e posteriormente com os advogados do Benfica, onde “deliberaram, por unanimidade, manter a sua integral confiança em Paulo Gonçalves, aguardando com serenidade a conclusão do processo e reiterando uma vez mais a sua total colaboração para com as autoridades judiciais”.
Depois, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, veio a público pedir celeridade à justiça portuguesa e assegurou que os “encarnados” vão agir criminalmente contra quem tem “manchado” a imagem do clube nos últimos tempos.
“Quero dizer a todos os benfiquistas que, tanto eu como a minha direção, nunca, mas nunca, manchámos a honra ou dignidade do Benfica. Fomos vítimas de um ataque sem precedentes em Portugal. Violaram-nos toda a nossa privacidade, de anos e anos de uma empresa com dimensão mundial. Infelizmente para nós, nada sucedeu até agora e nada sabemos”, afirmou, em conferência de imprensa.
“A partir deste momento, iremos agir judicialmente contra todos os que ponham em causa o nome do Benfica, sejam administradores, jornalistas. Não iremos perdoar a ninguém. Acabou a paródia à conta do Benfica”, avisou, anunciando a constituição de um “gabinete de crise” montado para responder a esta situação e que estará em funcionamento desde o início desta semana.
Fonte: Jornal Económico
Foto: Tiago Petinga/Lusa
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