quarta-feira, 11 de julho de 2018

Pessoas podem se conectar melhor se praticarem a empatia, dizem pesquisadores

Por , em 9.07.2018

Algumas pesquisas já mostraram que conexões mais fortes e numerosas na vida real e nas redes sociais estão relacionadas a pessoas com mais saúde e bem-estar, mas a forma destas relações pode esconder outro segredo. Acontece que ser o ponto de conexão entre pessoas nas redes sociais – ou seja, ter amigos de grupos diferentes, que não se conheceriam se não fosse por você – pode mostrar que alguém é melhor em resolver problemas. Além disso, essa capacidade de conexão, que pode ser treinada, pode ampliar a visão de mundo das outras pessoas.

Estas pessoas, chamadas de “corretores de informações”, conectam pessoas que, de outra forma, não se conheciam. Como alguém com quem você trabalha que conhece pessoas de todos os departamentos, que não se conhecem entre si. Um estudo liderado por Ronald Burt, professor de sociologia da Universidade de Chicago e especialista em redes sociais, mostrou que os corretores de informações apresentam melhores soluções para problemas no ambiente de trabalho, potencialmente porque estão expostos a perspectivas mais diversas. Eles também recebem promoções mais rápidas e salários mais altos.


Ser um bom amigo, professor ou gerente geralmente requer ver a perspectiva dos outros, ver o mundo através de outros olhos e entender suas alegrias e tristezas. Ter empatia, em outras palavras. Segundo Emily Falk, professora de sociologia, comunicação e marketing, e Michael Platt, professor de marketing, neurociência e psicologia, ambos da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, essas capacidades dependem de uma “rede social” do cérebro, que é um circuito neural ativado quando nos conectamos com outras pessoas. Uma nova série de estudos mostra que a estrutura e a função dessa rede social do cérebro estão ligadas à estrutura da sua rede social online.

“Em um estudo, pedimos aos adolescentes (com a permissão de seus pais) que nos dessem acesso à sua lista de amigos do Facebook. Isso nos permitiu ver se os adolescentes que são corretores de informações usam suas redes cerebrais sociais de forma diferente dos adolescentes cujos amigos se conhecem. Examinamos seus cérebros enquanto tomavam decisões sociais (sobre a recomendação de produtos diferentes para seus pares). Descobrimos que os corretores de informações usam mais suas redes cerebrais sociais ao fazer escolhas sobre o que recomendar aos outros do que pessoas cujos amigos se conhecem”, dizem os pesquisadores em um texto publicado no site da revista Scientific American.

“Isso pode acontecer porque os corretores de informações têm mais oportunidades de praticar o uso de seu cérebro social ao traduzir ideias entre diferentes grupos de pessoas. Em termos mais gerais, as pessoas que são melhores em vender suas ideias, literal e figurativamente, também tendem a envolver essas regiões do cérebro mais do que pessoas que são menos bem-sucedidas (nessa área). Considerar o ponto de vista de outra pessoa mais profundamente (por exemplo, o que a pessoa com quem vou compartilhar pensa sobre essa ideia?) ajuda a pessoa que compartilha sua mensagem a ressoar mais claramente com o estado mental do ouvinte”, explicam.

Em outras palavras, pessoas que têm a capacidade de se colocar no lugar das outras conseguem se conectar melhor ao, de certa forma, prever o que a outra pessoa pensa.

Como um músculo

Embora essa capacidade de conexão com os outros seja parcialmente herdada através de nossos genes, os pesquisadores dizem que a rede social do cérebro funciona como um músculo, de forma que, praticando, podemos ensinar nossos cérebros a ser mais empáticos.


“Estudos genéticos em pessoas e macacos indicam que o hardware do cérebro que suporta interações sociais é pelo menos parcialmente herdado. Embora a tendência a ser social esteja conectada a nós, nossos genes não são nosso destino. Estudos com macacos também mostram que a rede social do cérebro responde como um músculo em função do uso. Quando os macacos são forçados a navegar por uma rede social maior, suas redes cerebrais sociais aumentam em tamanho e conectividade. Isso, por sua vez, confere uma maior capacidade de interação com os outros”, apontam.

Os pesquisadores dizem que a ideia de que as redes cerebrais sociais se expandem com o uso é importante nos contextos educacionais e de trabalho. “Essas observações sugerem que fornecer acesso a redes mais amplas e mais diversificadas de laços sociais pode mudar fundamentalmente a forma como as pessoas usam seus cérebros ao tomar decisões cotidianas”.Eles citam outra pesquisa que mostra que bebês e crianças pequenas que são criados por pessoas que falam vários idiomas – e, portanto, que podem ter mais prática acompanhando perspectivas diferentes – tiveram melhor desempenho em uma tarefa que exigia tomada de perspectiva, em comparação com crianças criadas em ambientes monolíngues.

O fato das pessoas serem capazes de mudar a maneira como usam seus cérebros durante as interações sociais faz com que elas sejam capazes de causar este efeito nos outros. “Quando as pessoas se comunicam, elas influenciam as formas pelas quais seus parceiros de conversação veem o mundo. Por exemplo, o trabalho da equipe de Uri Hasson mostra que quanto mais atividade uma ideia desperta na rede social de um indivíduo, mais essa pessoa tende a provocar atividade semelhante nas redes cerebrais sociais de outras pessoas quando elas se comunicam”, esclarecem. “Quando isso acontece, os dois cérebros ficam mais sincronizados (ou seja, mostram padrões coordenados de atividade enquanto o falante fala e o ouvinte ouve), e quanto mais sincronizados seus cérebros se tornam, mais bem-sucedida é sua comunicação”.

Kit de ferramentas da empatia

De acordo com o texto, a maioria de nós nasce com um “kit de ferramentas” de empatia. A questão é aprender a usá-lo. “A maioria das pessoas nasce com um kit de ferramentas neurais de alto desempenho que impulsiona seu desejo de se conectar com os outros e sua capacidade de entender seus pensamentos e sentimentos, mas aprender a usar as ferramentas é fundamental tanto para os alunos quanto para relacionamentos no trabalho, na escola e em casa. Este kit de ferramentas tem raízes evolutivas profundas e é fundamental para quem somos como espécie”, definem.


Para eles, os benefícios práticos de compreender a biologia de como as pessoas se conectam envolvem “identificar novas maneiras de estimular a curiosidade e o envolvimento dos alunos na escola, selecionar pessoas para equipes, monitorar a integração de funcionários e identificar e cultivar líderes mais eficazes”.

“Pode também ajudar-nos a desenvolver novas formas de reduzir a solidão e, assim, melhorar a saúde e o bem-estar. À medida que olhamos adiante e consideramos formas de compensar o atual clima de tribalismo e desconexão política, a ciência da conexão social é mais relevante do que nunca”, finalizam.

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