Tanques soviéticos na invasão de Praga em 1968 |
♦ Ítalo Nóbrega
“Cá e lá, os mesmos tiranos há” foi o título de um artigo escrito em setembro de 1968 pelo líder católico Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na “Folha de S. Paulo”.
Ele o inicia o relembrando um alerta a respeito do falso pacifismo da falecida URSS. Tal alerta dizia que os soviéticos somente se mostrariam pacíficos ou brandos ao mundo enquanto isto conviesse à sua política.
Com efeito, se até então eles tinham se mostrado cordatos, generosos em algumas de suas atitudes, era justamente para não deixar a máscara cair.
No referido artigo, o renomado líder católico comenta algo que ocorreu e precipitou com toda a energia possível a máscara soviética no chão: a invasão de Praga, Tchecoslováquia. Neste acontecimento veio à tona toda a crueldade dos russos.
Ele aponta uma raiz comum entre aquelas agressões procedidas dos soviéticos e as agressões sofridas no Brasil por parte dos membros da TFP: o espírito comunista.Entretanto, aquilo que poderíamos chamar de cerne do artigo é o paralelo que o Prof. Plinio traça entre a citada invasão e todo um contexto de agressões sofridas por membros da TFP na realização de suas campanhas.
Coluna de tanques soviéticos na invasão de Praga |
A esta altura, eu faria uma pergunta ao leitor: será que a análise feita pelo pensador e líder católico estaria circunscrita à sua época, ou teria ela, ainda hoje, algo a nos ensinar? Teria ficado no passado o período das tiranias, das ditaduras? Ou restam resquícios de sua existência?
A tirania do século XXI
O artigo aponta três modos diferentes e complementares de produzir as agressões. Cito-os:
“a) Pela força bruta, isto é, por meio de pancadaria contra nossos coletores de assinaturas, com o evidente — e aliás vão — intuito de os provocar a brigas múltiplas, que possam justificar o fechamento compulsório de nossa campanha, sob o pretexto de que perturba a ordem;b) Pela calúnia, por exemplo, atribuindo-nos, sem o menor vislumbre de veracidade, pichamentos e atos de violência vários. Os acusadores, intimados a exibir suas provas, calam-se sempre.c) Pelo silêncio compulsório. Amigos de uma grande cidade de nosso País, ainda há pouco me comunicavam sua desolação em face da atitude da maioria dos órgãos de publicidade locais: acolhida franca para todas as notícias e comentários desfavoráveis à TFP, e fechamento absoluto para as informações, retificações e refutações emanadas de nossa entidade.”[1]
Ora, não vemos ainda hoje tal procedimento por parte não de comunistas declarados, mas dos propugnadores da Revolução Cultural de nossos dias?
Abortistas, defensores do lobby LGBT, propugnadores da ideologia de gênero, etc, são exemplos de neocomunistas que em nossos dias levam a cabo tais agressões.
Peguemos, para ilustrar o quadro, os defensores de tal lobby.
O leitor com certeza está farto de ler notícias sobre represálias, sejam elas judiciais ou não, do movimento homossexual contra quem quer que se lhe oponha.
Talvez a mais famosa represália de cunho não jurídico seja aquela sofrida pelos jovens do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira em Curitiba, no ano de 2014. A repercutida ofensa, que começou com ataques morais, terminou com uma agressão ipsis litteris, saindo um dos membros do Instituto com a cabeça ferida por uma pedrada [foto ao lado].
Exemplos de agressões não físicas, mas por calúnias, seriam aquelas que estamos cansados de presenciar, nas quais qualquer um que se diga contrário à agenda do referido movimento é tachado de “preconceituoso”, “homofóbico”, nazista, fascista ou algum outro “ista”.
Não constitui isto uma tirania? O tolhimento das liberdades de expressar-se contrariamente a tais ou quais ideologias, a imposição de uma determinada forma de pensar, o uso da força para reprimir, a proibição dos pais de darem uma educação apropriada aos próprios filhos, entre outras formas de coerção não caracterizam uma ditadura?
E nem precisaríamos retroceder quatro anos no tempo para encontrar exemplo da tirania contemporânea. Basta citar o pernicioso Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero[2], um projeto de lei de autoria da senadora Marta Suplicy formalizando a ditadura homossexual até então encoberta.
Cito como exemplo:
O art. 91 caracteriza como “prática discriminatória publicar, exibir a público, qualquer aviso, sinal, símbolo ou emblema que incite à intolerância, conduta caracterizadora de dano moral coletivo e crime de discriminação, nos termos desta Lei”.
Art. 56: “Os estabelecimentos públicos e privados de ensino têm o dever de promover a liberdade, a tolerância, a igualdade, a diversidade e o respeito entre as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.”
Art. 58 diz: “Os profissionais da educação têm o dever de abordar os temas relativos à sexualidade, adotando materiais didáticos que não reforcem a discriminação com base na orientação sexual ou identidade de gênero.”[Os destaques são meus].
Neste sentido, muito oportuna é a campanha realizada pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira com o objetivo de impedir o advento de tal reinado.
Refiro-me à recente campanha do “cartão vermelho”, a qual consiste na coleta de assinaturas a serem enviadas a 81 senadores pedindo-lhes para não aprovar o funesto Estatuto elaborado pela senadora Marta Suplicy.
Voltando ao tema, alguém poderia objetar: “Mas onde já se viu uma ditadura que não tenha o controle sobre os meios de comunicação? Pois saiba que há uma completa liberdade nestes ambientes. Como apontar então a existência de uma ditadura?”.
Liberdade para quem? — Pergunto eu.
Toda vez que há alguma grande manifestação contrária à ideologia defendida pelo lobby, a grande mídia logo cuida de silenciá-la, ocultá-la ou diminuir-lhe consideravelmente as extensões.
Contudo, se a manifestação é de propagadores do homossexualismo, ideologia de gênero, etc., a mídia trata de inflar os dados, “super-divulgar” o ocorrido, e por aí vai. Constitui isto de fato uma liberdade?
No final de seu artigo, o Prof. Plinio põe uma pergunta que ele mesmo responde: “Que diferença há entre esse furor dos nossos esquerdistas indígenas e a brutalidade mostrada pelos soviéticos em Praga? No fundo, nenhuma. Pois procedem da mesma causa e trazem a mesma marca: o espírito comunista.”
E da mesma forma, no presente paralelo, pergunto: Que diferença há entre a violência apresentada pelos “lutadores” da tolerância, da liberdade, da igualdade, e aquela mostrada pelos soviéticos e esquerdistas de 1968? No fundo, nenhuma. “Pois procedem da mesma causa e trazem a mesma marca: o espírito comunista”.
Sim, comunista. Pois toda a revolução cultural presenciada hoje em dia não é senão outra face do comunismo.
Certo, mas qual seria a utilidade prática deste paralelo?
“Parece-nos bem clara. Ele torna fácil entender o que o comunismo quer quando seus asseclas bradam por liberdade. É implantação do reinado frio e implacável de uma integral violência.”
Além de liberdade, poderíamos acrescentar as palavras “tolerância”, “igualdade”, entre tantas outras que são torcidas para, no fundo, implantar um frio e implacável reinado de violência.
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[1] Plinio Corrêa de Oliveira, “Cá e lá, os mesmos tiranos há”, “Folha de S. Paulo”, 4 de setembro de 1968
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