O 6.º Fórum Vê Portugal terminou hoje, em Castelo Branco, depois de dois dias de debates vivos e interessantes sobre o turismo interno.
A manhã começou com um painel intitulado “Turismo no Interior do País – Ativos Diferenciadores”. Moderado pelo diretor do jornal Expresso, João Vieira Pereira, contou com intervenções de João Paulo Catarino, secretário de Estado da Valorização do Interior; Ana Abrunhosa, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro; Carlos Filipe Camelo, presidente da Câmara Municipal de Seia e da CIM Beiras e Serra da Estrela; António Fernandes, presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco; e Rodolfo Baldaia de Queirós, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior.
Os intervenientes focaram o discurso nos ativos diferenciadores que tornam – ou podem tornar – a região Centro de Portugal atrativa para os visitantes.
João Paulo Catarino destacou as enormes potencialidades do interior do país para atrair turistas. “No interior está a autenticidade do povo lusitano, temos é de continuar a encontrar formas de levar os fluxos de visitantes do litoral para o interior. Todos os territórios têm o seu canhão da Nazaré, é preciso descobri-los”, disse. Isso passa, continuou, por “aumentar os incentivos aos turistas que chegam a Lisboa ou Porto para visitarem outros territórios”. Necessário é também assegurar que “os turistas deixem retorno económico nos locais que visitam, que interajam com os habitantes locais”. “Não queremos que o interior seja apenas uma sala de visitas para quem passa”, frisou.
Ana Abrunhosa realçou os fatores que levam as pessoas a querer visitar as regiões de interior. “Autenticidade, liberdade, recordações, raízes… A maioria dos portugueses tem o coração aqui e quando aqui vêm sentem-se em família”, sublinhou. E são também fatores decisivos para os investidores, considerou: “Quando se investe, o coração é decisivo, não se investe só com uma folha de cálculo. O mais importante são as pessoas”.
Carlos Filipe Camelo frisou o facto de “aqueles que visitam a região da Serra da Estrela começam a fazê-lo todo o ano, o que não acontecia até há pouco tempo”. Isso deve-se “ao trinómio montanha, ambiente e produtos endógenos”, em que esta região é exemplar e que atraem cada vez mais pessoas e durante mais tempo.
Fatores que foram igualmente destacados por António Fernandes. “Temos clima, paisagens, património, sossego, cheiros, museus, património, gastronomia… Falta ligar melhor estes recursos. Felizmente, a oferta começa a ser complementar”, disse. Igualmente importante é o facto de que “o turismo começou a ser uma prioridade dos autarcas. Há uma vontade muito clara nesse sentido”.
O painel foi encerrado por Rodolfo Baldaia de Queirós, que enalteceu as potencialidades dos vinhos da Beira Interior, e que enunciou o próximo passo: uma Rota do Vinho da Beira Interior.
No painel seguinte conversou-se sobre “Turismo na Orla Costeira – Ativos Diferenciadores”. Conduzida por Rui Baptista, jornalista da Agência Lusa, a conversa teve como protagonistas Walter Chicharro, presidente da Câmara Municipal da Nazaré, Pinto Moreira, presidente da Câmara Municipal de Espinho, António José Correia, ex-presidente da Câmara Municipal de Peniche e Diretor da Fórum Oceano, e Marta Sá Lemos, diretora do departamento de cruzeiros da APDL – Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo.
Walter Chicharro apresentou a estratégia que tem colocado a Nazaré como um case study de sucesso internacional. Cavalgando a onda gigante do Canhão da Nazaré, a cidade tem conseguido atrair cada vez mais visitantes. Uma estratégia que, segundo o autarca, tem como pilar essencial “a comunicação”, a “realização de eventos” mediáticos e a “digitalização” da promoção. Como resultado, a Nazaré recebe visitantes durante todo o ano, combatendo o problema da sazonalidade.
Combater a sazonalidade tem sido igualmente uma estratégia há muito seguida pela cidade de Espinho, de acordo com Pinto Moreira. Desde logo com o casino, com a maior feira semanal do país, com o torneio de golfe mais antigo da Europa e com muitas outras iniciativas. No entanto, por estar na orla costeira, o autarca mostrou-se particularmente preocupado com as alterações climáticas e com o efeito que estão já a ter a nível da erosão da costa portuguesa.
António José Correia apresentou o projeto das Estações Náuticas como uma aposta decisiva no mar, enquanto ativo turístico importante. “Mobilizando os territórios, Portugal todo ele será náutico”, sublinhou. O congressista incidiu também a sua participação na dimensão do “ecoturismo”, que deve estar na base da estratégia turística nacional.
Marta Sá Lemos mostrou à audiência o caso de sucesso do porto de cruzeiros de Leixões, grande porta de entrada de turistas no norte do país.
Marques Mendes falou do futuro do turismo
À tarde, Luis Marques Mendes, advogado, comentador político e Conselheiro de Estado, brindou o Fórum Vê Portugal com uma interessante palestra dedicada ao tema “Binómio: Portugal para Viver, Portugal Destino Turístico”.
Marques Mendes começou a sua intervenção elogiando o Fórum Vê Portugal, que considerou ser “uma iniciativa muito feliz, importante e pertinente”.
Para o comentador, “o turismo é um dos ativos mais importantes para desenvolver o país”. Marques Mendes recusa que haja turismo a mais no país: “Antes turismo a mais do que turismo a menos”, sintetizou. E recordou alguns dados estatísticos: nomeadamente, que o turismo representa 9% do PIB nacional, é o maior setor exportador, é responsável por mais de 10% do emprego, e faz entrar no país cerca de 1 milhão de euros por hora.
“Só podemos orgulhar-nos desta mudança”, frisou Marques Mendes, que identificou quatro razões prioritárias para esta mudança. Em primeiro lugar, “reforçar a boa imagem do país no exterior”. “Portugal está associado a uma imagem de hospitalidade e de segurança que atrai visitantes”, sublinhou. Em segundo lugar, “potenciar grandes ativos estratégicos”, destacando entre estes “o clima, a gastronomia, a História ou a cultura”, entre outros. Para isso, é vital “apostar na qualificação dos recursos humanos”. “Não basta receber, é preciso receber bem. O turista atual é cada vez mais exigente, procura a excelência. E procura também a diversidade e a especificidade dos territórios”, considerou. A terceira razão é “a aposta sem preconceitos na iniciativa privada”. “É essencial que o Estado não estorve, que seja amigo dos investidores. O excesso de burocracia e de carga fiscal mata o investimento”, sublinhou. Finalmente, a quarta razão é “a aposta na imprensa internacional e no marketing digital”. “Ninguém liga à publicidade institucional, mas liga-se muito a um artigo ou reportagem sobre um destino que seja publicado na imprensa internacional. Isso atrai turismo”, referiu.
Marques Mendes recordou também que existem riscos que podem afetar a atividade turística. Nomeadamente, o risco de guerras comerciais a nível internacional, o risco de insegurança e terrorismo, o risco dos populismos, o risco das alterações climáticas ou o risco dos novos pobres e excluídos, entre outros. Acresce que, numa Europa “com uma crise de liderança”, “Portugal tem a vantagem de não ter nacionalismos nem clivagens”.
O Conselheiro de Estado concluiu a sua intervenção alertando para o facto de que “Portugal tem um grande desafio nos próximos anos: o desafio do crescimento”.
Conversa sobre a realidade das Entidades Regionais de Turismo foi um dos momentos altos.
A colaboração entre as Entidades Regionais de Turismo, as autarquias e as Comunidades Intermunicipais foi um dos temas que marcou a tarde do segundo dia do Fórum Vê Portugal.
NDC
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