Um grupo de 41
cientistas de 20 países, entre os quais o português Jorge
Almeida,
do Proaction
Lab
da Universidade de Coimbra (UC), elaborou um guia de orientações
para tornar possível o restabelecimento rápido e em segurança das
atividades de investigação e clínicas ligadas à neurociência e
ao uso de técnicas de estimulação neuronal, atualmente muito
limitadas devido à pandemia da COVID-19.
Este guia,
publicado na revista Brain
Stimulation,
uma das mais conceituadas revistas científicas da área da
neurociência, visa essencialmente auxiliar a comunidade científica
e médica a adaptar-se para continuar gradualmente os estudos e
tratamentos que subitamente foram inviabilizados.
Pretende-se dar
resposta às restrições repentinas causadas pela pandemia que
resultaram na interrupção e atrasos na atividade científica,
«nomeadamente
nos estudos neurocientíficos, com a interrupção do recrutamento e
teste de participantes, e com a paragem de ensaios clínicos e de
tratamentos. Estes estudos utilizam procedimentos específicos, como
é o caso do uso de estimulação neuronal não invasiva, um conjunto
de técnicas de estimulação seguras usadas para modular a atividade
cerebral»,
explica Jorge Almeida.
As técnicas de
estimulação neuronal, esclarece, «têm
sido utilizadas tanto em investigação básica e aplicada em
neurociência, como em terapias destinadas ao tratamento de doenças
psiquiátricas e neurológicas, sendo por isso a manutenção das
mesmas de grande importância».
Produzido a
partir de um inquérito feito em 17 países, a 29 instituições que
utilizam técnicas de estimulação neuronal não invasiva, este guia
aborda as práticas que devem ser implementadas na situação atual
para manter essas atividades em funcionamento, mas também indica
como proceder em caso de possíveis epidemias ou pandemias futuras.
As orientações
propostas – baseadas em três fases: impacto inicial da COVID-19,
práticas atuais e preparação futura – incluem uma lista de 12
passos que sugerem «a
redução de contacto desnecessário, através da remoção ou da
simplificação de protocolos e a incorporação da telemedicina.
Recomendamos também o distanciamento social, cuidados redobrados na
esterilização do equipamento utilizado e elencamos considerações
mais específicas para populações abrangidas por estas experiências
e terapias»,
resume o também docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da UC.
Segundo os
autores do artigo científico publicado, uma das preocupações
crescentes da comunidade científica «tem
sido o possível aumento de doenças mentais devido ao impacto
imprevisto da pandemia, bem como da priorização do tratamento do
vírus, em detrimento de outras doenças, devido à súbita
necessidade de reorganização de hospitais e clínicas. Sabe-se que
há pacientes de departamentos neurológicos e psiquiátricos cujos
tratamentos podem ter sido reduzidos e/ou adiados».
Por isso, a implementação das orientações propostas por este
grupo de cientistas torna-se ainda mais indispensável para colmatar
estas situações emergentes.
«Para
além de permitir o avanço do conhecimento sobre diferentes tipos de
doenças neuropsiquiátricas, as técnicas de estimulação são
importantes para a investigação básica do cérebro e da mente»,
refere ainda Jorge Almeida, que, conclui, «ao
manter o funcionamento de laboratórios de investigação e
infraestruturas clínicas que utilizam estas técnicas, espera-se
portanto conseguir aliviar também, a curto e longo prazo, os efeitos
psicológicos causados pela pandemia».
O artigo
científico está disponível: aqui.
Cristina
Pinto
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