O opositor do regime de Vladimir Putin sentiu-se mal durante um voo para Moscovo. Foi transferido em estado grave para a Alemanha, que confirmou o envenenamento com Novichok.
O Reino Unido pediu esta quarta-feira à Rússia para "dizer a verdade" sobre o caso do opositor russo Alexei Navalny, envenenado segundo Berlim com um agente neurotóxico tipo Novichok, considerando "absolutamente inaceitável" o uso de uma "arma química proibida".
"É absolutamente inaceitável que esta arma química proibida tenha sido novamente utilizada", declarou o chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, numa referência ao caso de Sergei Skripal, um ex-espião russo, e da sua filha Yulia que foram envenenados em 2018 no Reino Unido com este tipo de agente neurotóxico, caso que provocou uma crise diplomática entre Londres e Moscovo, que negou então qualquer responsabilidade.
"O Governo russo tem um caso concreto para responder. Deve dizer a verdade sobre o que aconteceu ao senhor Navalny", frisou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, indicando que Londres irá trabalhar em estreita colaboração com a Alemanha, com os seus aliados e parceiros internacionais "para demonstrar que há consequências para o uso de armas químicas proibidas em qualquer lugar do mundo".
E reforçou: "Estou profundamente preocupado (...) E mais uma vez vemos a violência dirigida contra uma importante figura da oposição russa".
A Presidência dos Estados Unidos (Casa Branca), numa outra reação internacional aos resultados dos testes conduzidos por um laboratório militar alemão especializado em farmacologia e toxicologia, hoje divulgados pelo Governo alemão e que confirmam a presença de um agente neurotóxico da era soviética no organismo de Navalny, afirmou estar "muito perturbada" com tais conclusões.
"Os Estados Unidos estão muito perturbados com os resultados hoje anunciados. O envenenamento de Alexei Navalny é um ato absolutamente condenável", reagiu, por sua vez, o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Na mesma nota, a Presidência norte-americana lembra que a Rússia "já usou no passado o agente neurotóxico Novichok", declarando que Washington irá trabalhar com os seus aliados "para que os responsáveis na Rússia sejam responsabilizados" por tal ação.
Também França reagiu ao anúncio feito hoje por Berlim, condenando "a utilização chocante e irresponsável" deste agente neurotóxico.
"Quero condenar nos termos mais veementes o uso chocante e irresponsável de tal agente", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, num comunicado.
Segundo o chefe da diplomacia francesa, existem "interrogações fortes" e "é da responsabilidade das autoridades russas respondê-las".
O executivo alemão anunciou hoje que testes realizados num laboratório militar mostraram evidências da presença de "um agente químico nervoso do grupo Novichok" no organismo de Navalny, que se encontra atualmente internado em Berlim.
Principal opositor do Presidente russo, Vladimir Putin, conhecido pelas investigações anticorrupção a membros da elite russa, Alexei Navalny, 44 anos, está internado, em coma, desde 20 de agosto.
O político sentiu-se mal durante um voo de regresso a Moscovo, após uma deslocação à Sibéria.
Foi primeiro internado num hospital de Omsk, na Sibéria, tendo sido transferido, posteriormente, para o hospital universitário Charité, em Berlim.
Na semana passada, os médicos alemães indicaram que Navalny apresentava indícios de ter sido envenenado por "uma substância do grupo dos inibidores de colinesterase", substâncias estas que podem ser encontradas em medicamentos, mas também em inseticidas e em agentes nervosos, sem conseguirem precisar qual.
O hospital pediu a colaboração do laboratório militar de farmacologia e toxicologia de Munique (Baviera), no qual trabalham os maiores especialistas alemães em substâncias tóxicas e agentes químicos.
O Kremlin (Presidência russa) considerou então as conclusões avançadas sobre este caso como "precipitadas".
O Novichok integra um grupo particularmente perigoso de agentes neurotóxicos russos que foram proibidos, em 2019, pela Organização para a Interdição das Armas Químicas (OIAC).
A conceção deste tipo de agente neurotóxico por cientistas soviéticos remonta aos anos 1970 e 1980, as últimas décadas da Guerra Fria.
Lusa
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