Horários. Agitação. Correria.
Vivemos momentos de ritmo alucinante com necessidades de resposta rápida a muitas solicitações. Vivemos stressados, sob pressão e com dificuldade em lidar com algumas situações urgentes que nos são impostas. Adaptados a um ambiente cada vez menos natural, com efeitos nefastos sobre as comunidades animais e vegetais, e em nós próprios, não conseguimos responder ao stress. Nem nós, nem o mundo natural à nossa volta.
Verdade, são muitas as espécies que não se conseguem adaptar com rapidez suficiente às modificações do seu meio e não resistem ao stress ambiental. Mas existem exceções. E algumas vivem aqui ao nosso lado, nos nossos rios e estuários. São minhocas, camarões, larvas aquáticas, pequenos gigantes aquáticos (imaginem, têm mais de um milímetro!) chamados macroinvertebrados bentónicos. Vivem em ambientes muito diversificados como as zonas de transição entre o rio e o estuário, zonas variáveis em termos de salinidade onde, ainda que se faça sentir o efeito da maré, quase já não se sente o efeito salgado do mar a entrar nas águas doces.
As zonas de transição do Rio Mira foram objeto de um estudo desenvolvido por investigadores portugueses com o objetivo de dar a conhecer as comunidades bentónicas e a problemática da avaliação da sua qualidade ecológica, recorrendo a variáveis físico-químicas indicadoras de stress ambiental.
Para caracterizar o estado ecológico das zonas de transição investigadores, de vários Centros e Institutos portugueses que estudam o mar, tentaram determinar se a definição de ecótipos baseados na salinidade é adequada a padrões de distribuição dos macroinvertebrados bentónicos, comunidades normalmente caracterizadas por alterações pronunciadas em termos espaciais e temporais associadas a um forte gradiente fisico-químico. Estas sofrem com as modificações salinas do seu ambiente, principal fator stressante que lhes é imposto, ainda que outros fatores como o tipo de sedimento possam também definir a sua distribuição longitudinal no troço aquático.
São poucas as espécies resistentes a este elevado stress natural e, por esse motivo, estes troços específicos mostram uma baixa diversidade faunística. Mas é aqui, nestas zonas de mistura, que se encontram tanto os organismos típicos de água doce como os de água salgada. Para os analisar e utilizá-los como indicadores da qualidade ecológica, os cientistas precisam de se basear em ferramentas para as zonas adjacentes já conhecidas e assim tentar ajustar modelos e escalas, pelo que o trabalho vai ter seguimento continuando a usar como área de estudo o Rio Mira, ainda pouco intervencionado e a roçar um ambiente pristino. Muito falta saber sobre a fauna bentónica desta zona garantindo (mas sem stress!) a precisão de uma investigação científica.
Certo é que nós, humanos de grande tamanho, não nos conseguimos adaptar a todas as situações extremas com os quais nos deparamos. Mas podemos aprender com os mais pequenos, como os macroinvertebrados bentónicos das zonas de transição, organismos muito pouco stressados face à alteração constante das suas condições ambientais.
Cristina Brito
(Historiadora marítima)
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