Um estudo
liderado por investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com a Faculdade de
Farmácia da UC (FFUC), concluiu que as ribeiras urbanas estão
poluídas por uma grande diversidade de fármacos, afetando
organismos aquáticos e processos ecológicos.
«A
revisão de literatura mostrou que ribeiras urbanas, para além dos
rios, são um ecossistema de água doce crítico quando se trata da
ocorrência de fármacos. Estas atravessam zonas muito urbanizadas e
dado o seu pequeno volume de água e fraca capacidade de diluição
podem ficar altamente poluídas, levando depois esses poluentes para
os rios principais»,
alerta Maria João Feio, investigadora do Departamento de Ciências
da Vida (DCV) da FCTUC e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente
(MARE).
Esta
investigação, publicada na prestigiada revista
Water Research,
teve como objetivo perceber o estado de contaminação de ribeiras
urbanas por fármacos e os seus impactos no ecossistema e nos
organismos aquáticos. Assim, os especialistas realizaram uma revisão
bibliográfica de estudos científicos realizados em todo o mundo.
«Neste
trabalho registámos, em 49 ribeiras urbanas, a presença de 139
fármacos, pertencentes a dez grupos terapêuticos, em 13 países de
quatro continentes, com predominância de anti-inflamatórios e
anticonvulsivos. Metabolitos dos fármacos foram também detetados,
mas mais raramente analisados»,
revela Fernanda Rodrigues, estudante de doutoramento em Engenharia do
Ambiente.
A equipa de
investigação detetou fármacos como diclofenaco, ibuprofeno e
paracetamol (analgésicos, anti-inflamatórios, antipiréticos e
anestésicos); claritromicina e eritromicina (antibióticos,
antifúngicos e antipruriginosos); fluoxetina e citalopram
(psicofármacos); estrona, 17β-estradiol
e etinilestradiol (hormonas); e genfibrozila (reguladores lipídicos).
Em Portugal,
foram estudadas três ribeiras urbanas tendo sido detetado nas águas
o total de oito fármacos. Observou-se ainda, em uma das ribeiras, um
alto risco para os invertebrados aquáticos devido a um
antidepressivo, a fluoxetina.
De acordo com as
especialistas, «os
efeitos nos organismos aquáticos e processos ecológicos foram
variados, desde bioacumulação, desregulação endócrina,
crescimento deficiente, inibição de reprodução, aumento da
mortalidade e distúrbios de eclosão até alterações morfológicas
e diminuição da produção primária bruta e de biomassa».
Este estudo
trouxe uma visão global sobre a questão dos fármacos em ribeiras
urbanas. A investigação mostrou ainda a necessidade de investir em
novos estudos, nomeadamente em Portugal e na Europa, onde a equipa
está a investigar esta questão.
«Perceber
como chegam estes fármacos aos ecossistemas ribeirinhos, de forma a
minimizar a sua entrada, e conseguir eliminar estes poluentes da água
é essencial para salvaguardar a saúde dos ecossistemas e organismos
aquáticos, mas também a saúde humana, numa abordagem One Health
(Uma Só Saúde)»,
terminam.
O artigo
científico “Pharmaceuticals
in urban streams: A review of their detection and effects in the
ecosystem”
contou ainda com a participação dos investigadores Luísa Durães,
Nuno Simões, André Pereira e Liliana Silva e está disponível
aqui.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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