Por Luis
Fernando Manassi Mendez em 04/10/2011 na edição 662
Foi noticiado,
semana passada, que professores e policiais entraram em confronto no Ceará, na
Assembleia Legislativa. O motivo da repressão policial aconteceu porque os
professores queriam acompanhar de perto a votação dos parlamentares sobre o
piso salarial da categoria. Segundo o que foi noticiado no Jornal Nacional,
não houve motivos aparentes para policiais agirem de tal forma.
Ideologicamente,
a Assembleia é a casa do povo. Em um país democrático, então, o acesso a este
lugar deveria ser irrestrito, principalmente em um momento decisivo para a
categoria. Não seria, portanto, admitida tal conduta policial de forma
agressiva. Partindo para o aspecto das condutas cívicas, acredito que a
política brasileira virou motivo de algazarras e desgovernos. O que simboliza,
hoje, metaforicamente a moral de nosso Congresso é Tiririca. De palhaço a homem
público. Dos males, o menor, já que há letrados que há anos corrompem a vida
pública brasileira. O agravante é que o povo votou nele para fazer um deboche
de si mesmo. A moralidade e a ética, como é sabido, não precisam de instrução,
mas sim, de consciência.
Entretanto, há
despreparos em torno dos representantes do povo e por parte do eleitorado.
Eleger alguém através de seu passado humilde, ou porque decide afrontar o alto
comando com seus despreparos, numa tentativa de desestabilizar a política, tem
sido o critério de muitos eleitores.
Atitude
antidemocrática
O jornalismo
político brasileiro vem negligenciando seu civismo acerca da conscientização
política. Na grade televisiva, se torna complicado, ao telespectador,
contemplar temas de relevância política. Só consigo lembrar um único programa
que é aberto para o público em geral, que é o programa Canal Livre. Fora
este programa, é complicado haver uma abordagem televisiva do jornalismo
político em profundidade. Resumidamente, falar de política em caráter noticioso
varia entre um release e uma simples reportagem. Periódicos impressos, de uma
forma geral, apresentam textos “pesados”, que deveriam ser revistos num conceito
de público amplo – visando às massas, e não restrito – situação atual do
jornalismo político.
Se formos
analisar a linguagem gramatical das reportagens e coberturas sobre política,
veremos que, estilisticamente, a política é abordada através de um formato
cansativo. Não vejo nenhuma outra editora jornalística que aborde reportagens
de forma tão cansativa e confusa quanto a do jornalismo político. Geralmente,
os leads abordam níveis noticiosos supondo que o leitor está, há tempos,
familiarizado com o tema. Outras editorias têm uma visão que guia o sentido da
notícia com mais clareza.
O caso de Ceará
merece algumas considerações: o que separa os três poderes do povo? Influência?
Na verdade, é o povo que dá a devida influência e barrar seu direito de acesso à
Casa é uma atitude antidemocrática. Se não bastasse o desinteresse do
brasileiro sobre política, quando um grupo de cidadãos tem seu direito de ir e
vir infringido pelo próprio Estado, é sinal que as coisas andam de mal a pior.
Superficialismo
jornalístico
Desinteresse,
desrespeito, impunidade – palavras-chaves que norteiam o tema política e que
poderiam ser evitados. A superficialidade do jornalismo tomou conta da área
política há muito tempo. Se existe algum estudo antropológico e filosófico
sobre este tema – não sei se existe –, não foi apresentado à população, o que
seria fundamental para entendermos nossa formação cultural e política. Desde as
denúncias do mensalão no governo Lula, a imprensa tem se mostrado acomodada.
Restringiram-se nossos repórteres a cobrir tais episódios escandalosos e dar
ponto final à discussão.
A política
precisa ser documentada e o conceito jornalismo de fazer política precisa ser
revisto. Não existem mais os tempos em que o brasileiro era actuante, um cidadão
cívico e participativo, quando a ordem imperante era a rebeldia. Tudo isso
passa pelo jornalismo. A imprensa deve, basicamente, ser cívica.
Líbero Badaró
foi um jornalista idealista à parte. Venho, ao longo da semana, neste espaço,
debatendo o conceito de jornalista no âmbito académico e prático. É fácil
exercer jornalismo sem ser jornalista por formação superior. Entretanto, neste
artigo, abro excepção. Líbero Badaró não obteve formação em Jornalismo, mas seus
ideais compensam a resignação do superficialismo jornalístico em pleno século
21. Obviamente, o tempo em que Badaró viveu não existia a democracia tão
sonhada que conquistamos actualmente e são em épocas difíceis que o colectivo supera medos em torno de actuações cívicas.
Valores
cívicos estão invertidos
De Líbero Badaró
a restrições editoriais actuais e de convulsões sociais em busca do bem comum ao
acomodamento popular, muita coisa mudou. O jornalismo político não é mais o
mesmo. Não prega mais actuação pública das pessoas. Preocupa-se, basicamente, em
noticiar fatos. Neste aspecto, recorro a um dilema junto ao senso comum: deve o
jornalismo político negligenciar os fatos e deixar que o Poder Judiciário
julgue processos políticos em segredo, tornando a população alheia aos
acontecimentos, não formando a ideia generalizada sem um conceito crítico, a de
que “todo político é ladrão”? Ou actuar usando os benefícios da imprensa livre e
obter o seu produto, que é a notícia?
No actual dilema
em que vivemos, nossa formação antropológica permite apenas que tenhamos uma
democracia que permita livre acesso às informações. Entretanto, acredito que
poderíamos mudar ideologicamente a respeito do interesse público com a
interferência contínua do jornalismo. O caso ocorrido no Ceará foi um ato de
extrema imprudência. Negar acesso livre do cidadão a um lugar em que os
próprios são os encarregados de escolherem seus representantes, serem recebidos
de forma hostilizada pelo próprio Estado, é sinal de que os valores cívicos
estão invertidos.
***
[Luis Fernando
Manassi Mendez é jornalista, Quaraí, RS]
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